Como Bancos e CEOs Impulsionam a Precificação de Ecossistemas

Como Bancos e CEOs Impulsionam a Precificação de Ecossistemas

Como Bancos e CEOs Estão Acelerando a Precificação dos Ecossistemas, Novos Ativos Trilhão-Dólar

De Belém para o cenário global, a COP30 impulsiona a corrida para mensurar, avaliar e contratar serviços providos pela natureza como ativos de longo prazo.

Na conferência, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e seus parceiros publicaram um relatório que aborda um dos grandes desafios nas finanças mundiais: transformar sistemas naturais que sustentam a economia em ativos passíveis de investimento, semelhantes à infraestrutura.

O conceito é simples: florestas, áreas úmidas, bacias hidrográficas e ecossistemas costeiros já oferecem serviços essenciais, como proteção contra enchentes, purificação da água, moderação do calor e armazenamento de carbono. A questão é por que o sistema financeiro ainda não os trata como infraestrutura.

A Bioeconomia Ganha Espaço e Se Torna Central na COP

Luana Maia, líder da NatureFinance para o Brasil, destaca que, pela primeira vez em 30 anos da COP, a bioeconomia tem um dia dedicado, evidenciando o avanço do tema enquanto o Brasil enfatiza a conservação florestal e o valor da natureza.

Conforme a natureza ganha destaque financeiro, a questão passa a ser: quem assumirá o custo desse capital natural?

O Banco Mundial reforçou essa ideia ao anunciar novos princípios comuns para rastreamento das finanças destinadas à natureza e uma taxonomia comum para tais investimentos, sinalizando que bancos multilaterais estão padronizando e classificando iniciativas positivas para a natureza, a qual deixa de ser um elemento ambiental acessório para tornar-se um sistema econômico integrado.

AIIB e a Aplicação da Lógica de Infraestrutura aos Ecossistemas

Erik Berglof, economista-chefe do AIIB, enfatiza a necessidade pragmática de investir, gerir e tornar a natureza mais resiliente, adaptando para isso as experiências das finanças de infraestrutura.

Ele argumenta que os investimentos na natureza foram limitados pela ausência das ferramentas que tornaram setores como energia renovável atrativos para investidores.

O relatório “Unlocking Finance for Nature as Infrastructure” mostra como ecossistemas podem ser estruturados, avaliados e contratados para se tornarem investimentos viáveis. A proposta é pragmática, baseando-se em metodologias já consolidadas em infraestrutura, como planejamento de portfólios de projetos, mitigação de riscos por bancos multilaterais e avaliação de parcerias público-privadas (PPP).

O documento defende que a natureza pode ser tratada semelhantemente, contanto que o desempenho ecológico seja monitorado e contratado ao longo do tempo, utilizando garantias, seguros e créditos de biodiversidade para criar modelos financeiros investíveis.

De Iniciativas Isoladas a Portfólios Financeiros Robustos

Ao citar um projeto de zona úmida na Mongólia, Berglof ilustra a evolução de uma pequena iniciativa para um projeto em escala ampla quando o valor dos serviços ecossistêmicos foi incorporado, fazendo com que fosse reconhecido como infraestrutura, não apenas conservação ambiental.

Na Colômbia, o banco Terrasos exemplifica como a restauração pode ser financiada e operada por meio de modelos que reproduzem parcerias público-privadas tradicionais de infraestrutura, aproximando os ativos naturais do mercado privado.

Na China, colaborações com credores comerciais atribuem valor a ativos naturais mediante uma nova taxonomia, combinando sistemas de ecocompensação, mercados de créditos de carbono e beneficiários corporativos para criar múltiplas fontes de receita que integram estruturas de empréstimos. Inovações em sensoriamento remoto e monitoramento da biodiversidade elevam a precisão das avaliações e a atração para investidores.

Modelos paralelos, como a contabilidade de capital natural do Landbanking Group, indicam que melhorias nos sistemas naturais vêm sendo tratadas como ativos intangíveis passíveis de monitoramento e reconhecimento contratual, apontando uma direção futura para os mercados, ainda que não estabelecida amplamente.

A Urgência do Investimento Privado em Finanças da Natureza

Henry Paulson ressaltou a dimensão macroeconômica do tema, destacando a importância da liderança governamental para orientar investimentos que protejam e restaurem a natureza, afastando-os de práticas danosas.

Jin Liqun, presidente do AIIB, enfatiza o papel vital dos bancos multilaterais de desenvolvimento na incorporação da natureza ao planejamento, finanças e governança em larga escala.

Construir um mercado real a partir desse princípio passa por superar desafios na valoração da natureza, já que ela não se encaixa facilmente nos modelos contábeis tradicionais. Fluxos de caixa são difusos, impactos atravessam limites geográficos e o desempenho ecológico é complexo de mensurar.

A recente publicação de Princípios Comuns e uma Taxonomia para Finanças da Natureza pelos bancos multilaterais marca o início da classificação unificada para investimentos favoráveis à natureza. O relatório do AIIB sugere metodologias padronizadas, modelos contratuais para PPP e métricas precisas de desempenho, aumentando a financiabilidade — essencial para acelerar o aporte de recursos para conservação e restauração.

A convergência de políticas claras, contratos padronizados e monitoramento confiável é vista como o caminho para transformar ecossistemas em ativos investíveis.

Bancos multilateral analisam ainda como a contabilidade do capital natural, mecanismos de ecocompensação e métricas de resiliência podem influenciar análises de risco soberano, sinalizando a urgência da ação descrita por Paulson: agir imediatamente e em grande escala.

Relevância para o Setor Empresarial

Para as companhias, o reconhecimento da natureza como infraestrutura impacta diretamente seus balanços. Ecossistemas como fontes de água, proteção contra desastres naturais, solo fértil, estabilidade térmica, polinização e matéria-prima se degradam, refletindo em custos maiores, seguros mais caros, cadeias de suprimentos vulneráveis e regulamentações mais rígidas.

A COP30 sinaliza que essas dependências ambientais passam a ser dependências financeiras. Novas regulações europeias e do ISSB exigem divulgação dos impactos e dependências naturais, enquanto seguradoras incorporam perdas dos ecossistemas em seus modelos de risco.

Nos mercados emergentes, bancos testam empréstimos condicionados à conservação da natureza, o que influencia o custo de capital. Produtores de commodities enfrentam escrutínios para garantir cadeia produtiva sustentável.

Encarar a natureza como infraestrutura oferece um quadro sólido para empresas: se ecossistemas conseguem proporcionar serviços essenciais de forma mais eficiente e menos custosa que alternativas artificiais, tais benefícios podem ser modelados, avaliados, segurados e formalizados.

Empresas que compreendem e investem na saúde dos sistemas naturais dos quais dependem podem evitar interrupções e custos elevados. Aqueles que ignorarem essa transformação podem sofrer restrições financeiras e risco reputacional crescente.

Próximos Passos para Financiadores, Governos e Empresas

Para os bancos multilaterais, a missão futura é estruturar arquitetura sólida com contratos padronizados, avaliação adequada, monitoramento eficaz, clareza regulatória e composição de portfólios confiáveis.

Investidores enfrentam o desafio de validar se essas ferramentas proporcionarão o perfil adequado de risco-retorno para tornar a natureza uma classe consolidada de ativos comparável a infraestrutura tradicional.

Governos precisam integrar o capital natural em seus orçamentos, planos e sistemas de crédito, assegurando que o acesso às terras e benefícios seja justo para povos indígenas e comunidades locais, conforme destacado no relatório.

Para as empresas, a consolidação da natureza como classe de ativos transforma a forma de gestão: ecossistemas deixam de ser externalidades para se tornarem riscos financeiros, determinantes de crédito, fatores operacionais e ativos estratégicos que influenciam desde contratos de empréstimo a seguros e competitividade no mercado.

A COP30 poderá ser lembrada como o marco em que as finanças da natureza deixaram de ser uma discussão de nicho para emergir como uma nova classe de ativos. O sucesso dessa transição dependerá da capacidade dos bancos multilaterais em estruturar ecossistemas como ativos públicos, investíveis e de longo prazo compreendidos pelos mercados globais.

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