Como Billie Eilish Reinventou O Negócio Da Música Pop

Como Billie Eilish Reinventou O Negócio Da Música Pop

Como Billie Eilish transformou o mercado da música pop

Aos 23 anos, Billie Eilish já conquistou nove prêmios Grammy e dois Oscars. Atualmente, a cantora está empenhada em tornar a indústria musical mais sustentável.

Em fevereiro de 2023, Billie iniciou a criação de uma nova canção com seu irmão e colaborador principal, Finneas, no estúdio de sua casa. Apesar de parecer simples, o processo de compor algo natural foi longo e desafiador. Durante 11 meses, eles revisaram o refrão inúmeras vezes, especialmente tentando usar o verso “Eu te amarei até o dia da minha morte” de um modo que soasse autêntico e não trivial.

Quando finalmente concluíram a música, chamada “Birds of a Feather”, Billie ficou incerta sobre lançá-la. Conhecida por suas letras melancólicas, esta faixa trazia uma atmosfera quase animada, com sintetizadores suaves e promessas de amor eterno. “Muitas vezes pensei que deveríamos tirar essa parte”, conta a artista.

Sentada em um hotel no Upper West Side, Manhattan, com vista para a Broadway, Billie soltava seus pensamentos enquanto segurava uma almofada verde, lembrando suas dúvidas até mesmo ao apresentar o álbum completo para a gravadora, temendo que determinados trechos parecessem bobos.

Mais de um ano depois, “Birds of a Feather” mantém-se entre as 10 músicas mais ouvidas mundialmente no Spotify, superando lançamentos recentes de artistas como Sabrina Carpenter e Justin Bieber.

A faixa ultrapassou 3 bilhões de reproduções no Spotify em 481 dias, estabelecendo um recorde de velocidade na plataforma, segundo análise da Chartmetric. Para comparação, “As It Was” de Harry Styles levou quase 200 dias a mais para alcançar o mesmo número.

Com uma trajetória impressionante, Billie já possui 44 hits na Hot 100, além dos nove Grammys e dois Oscars. Seu álbum mais recente, “Hit Me Hard and Soft”, foi o quinto mais ouvido nos Estados Unidos no último ano, contabilizando mais de 2,2 bilhões de reproduções segundo dados da Luminate. A turnê que acompanhou o lançamento vendeu mais de 383 mil ingressos e arrecadou mais de US$ 55 milhões nos últimos nove meses, conforme dados da Pollstar.

Esses feitos ocorreram embora Billie seja naturalmente avessa a produzir músicas pop superficiais e despreocupadas, enfrentando até ceticismo na indústria por seu estilo melancólico ser considerado pouco comercial. “É curioso lembrar das críticas dizendo que as músicas eram ‘tristes demais’”, lembra a cantora. “Muitos queriam que fizéssemos algo mais alegre.”

Mesmo na composição de “Birds of a Feather”, ela buscou incorporar um toque sombrio para evitar que soasse excessivamente otimista. “Falamos sobre a ideia da inevitabilidade da morte e a promessa de que o amor pode durar mais que isso”, ela explica.

Com um estilo descontraído e olhar vibrante, Billie frequentemente enfatiza suas falas com um entusiasmado “Com certeza!”. Vestindo tênis Converse pretos, calças camufladas verdes e camiseta do grupo New Order, ela demonstra paixão especial ao defender causas ambientais.

Ela dedica longos minutos explicando as práticas sustentáveis que adota pessoalmente, demonstrando entusiasmo por um novo projeto: uma parceria com o diretor James Cameron para um filme-concerto em 3D.

Billie também se orgulha de, desde os 16 anos, nunca ter cedido à pressão de tornar suas músicas mais “alegres”. “Ter mantido minha autenticidade nessa idade é algo que realmente valorizo”, afirma.

Momentos de frustração

Durante a produção do documentário “The World’s a Little Blurry” em 2021, filmado na casa onde cresceram, Billie Eilish teve um ataque de frustração enquanto gravava com Finneas. Ela estava exausta e insatisfeita com sua própria performance, enquanto o irmão buscava de forma paciente extrair o melhor deles.

Essa insegurança é comum, mas poucos artistas expõem tão abertamente seus sentimentos — Eilish é bastante transparente emocionalmente, revelando angústias e vulnerabilidades sem filtros.

Ela evita clichês motivacionais, afirmando que não produz “músicas de autoajuda”. Já falou publicamente sobre sua síndrome de Tourette, suas batalhas contra depressão e automutilação, além da solidão enfrentada nas turnês.

Em cenas do documentário, é possível vê-la chorando no ombro de Justin Bieber após uma apresentação frustrante no Coachella. Ao contrário de muitas estrelas, Billie demonstra conforto e proximidade com sua mãe, que a descreve como uma fã desesperada do cantor.

Ela sempre se mostrou autêntica e deseja conhecer as histórias íntimas das pessoas ao seu redor, buscando conexão profunda e honestidade.

Essa honestidade brutal está presente nas letras de suas músicas, que abordam desde discussões amorosas não correspondidas até críticas à fama e suas consequências, sem fugir das próprias responsabilidades e autoanálises.

Um som singular

Quando “Ocean Eyes” estourou em 2015, Billie já apresentava uma proposta musical única. Influenciada por artistas como os Beatles e Sinatra, ela aprecia a complexidade vocal e a experimentação sonora.

Na adolescência, contudo, também se inspirava no subgênero hip-hop conhecido como SoundCloud rap, estilizado por artistas como XXXTentacion e Lil Uzi Vert, que enfatizam batidas cruas e produção minimalista.

Essa mistura de influências contraditórias convergiu em seu primeiro álbum “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, que combina vocais suaves com batidas explosivas e atmosferas sonhadoras. O single “Bad Guy” chegou ao topo da Hot 100 com seu estilo inconfundível, marcado por sintetizadores e uma linha de baixo pulsante.

Billie continuou explorando novas sonoridades em álbuns seguintes, incluindo baladas retrô em “Happier Than Ever” e elementos eletrônicos em “Hit Me Hard and Soft”, com faixas que flertam com o trance e outros estilos modernos.

Compromisso com o meio ambiente

Billie se indignou ao descobrir o descaso de muitas marcas de moda com o impacto ambiental, levantando a voz para conscientizar sobre desperdícios e sustentabilidade.

Ela destaca a economia de recursos proporcionada por uma alimentação diária baseada em plantas e implementa práticas sustentáveis em sua turnê, como oferecer alimentos 100% vegetais, usar confetes biodegradáveis, incentivar o uso de garrafas reutilizáveis e vender produtos feitos com algodão reciclado.

Em alguns locais, sua exigência foi atendida para que apenas comidas veganas fossem servidas durante os shows.

“É possível fazer tudo com materiais sustentáveis, mas a maioria simplesmente não faz”, critica a cantora, que aprendeu, ao trabalhar com empresas e merchandising, que a sustentabilidade é viável, porém pouco adotada.

Seu engajamento ambiental a levou a eventos raros para artistas pop, como o baile da NAT, uma organização sem fins lucrativos focada em reflorestamento e educação climática, onde apresentou Sylvia Earle, renomada bióloga marinha, para uma plateia que incluía celebridades como Harrison Ford e Jane Fonda.

“Foi incrível reunir pessoas de diferentes origens que se preocupam com o planeta”, destacou Earle, que elogiou a paixão de Billie pela natureza e pelo oceano.

Uma turnê marcada por mudanças

Apesar da competência técnica e harmonias elaboradas, Billie às vezes apresenta performances energéticas e caóticas em palco, lembrando o frenético rapper Playboi Carti. Desde setembro de 2024, ela está na estrada promovendo “Hit Me Hard and Soft”.

A princípio, Billie ficou apreensiva em enfrentar a turnê sem Finneas, que sempre a acompanhou. No entanto, essa série de shows acabou se tornando sua favorita.

Fãs presentes nos quatro shows em Manchester em julho comentaram sobre a estrutura do palco giratório com telão gigantesco, que permite boa visibilidade em qualquer lugar. Segundo eles, a energia e o dinamismo da cantora tornam a experiência divertida e inesquecível.

Para registrar essas apresentações, Billie fechou parceria com o diretor James Cameron para um filme-concerto em 3D, algo raro mesmo entre grandes nomes da música, que já tiveram seus shows gravados, porém não com a tecnologia avançada que Cameron oferece, reconhecido por trabalhos como Avatar.

Billie justifica a importância desse projeto para perpetuar suas performances, algo que vídeos rápidos no TikTok não conseguem captar completamente. “Se eu faço um salto mortal e ninguém grava, não haverá prova de que aconteceu”, explica.

Ela se mostra transparente sobre os desafios da vida na estrada. Enquanto a maioria dos adolescentes socializava e criava círculos de amizade, ela passava anos isolada em quartos de hotel.

Porém, nesta turnê, Billie compara a experiência ao convívio em um acampamento de verão com amigos, pois trouxe amigas de infância para cantarem junto e formou laços profundos com os novos integrantes da banda.

Além disso, criou uma rotina mais saudável, com regras que incluem não ficar na estrada por mais de três semanas consecutivas e retornar para casa entre os períodos, mesmo que sejam intervalos curtos.

Embora isso tenha reduzido o rendimento financeiro e exigido mais tempo, ela avalia que o resultado é mais recompensador para seu bem-estar.

Fotos: Getty Images

Fonte

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