Como Gestores Estão Lidando com as Oscilações do Mandato de Trump
A volatilidade se tornou uma constante, e o mercado aprendeu a operar nesse cenário com muita resiliência e até certo humor, segundo especialistas.
Desde o início de seu segundo mandato, o presidente Donald Trump tem desafiado a previsibilidade internacional. Com ameaças frequentes de novas tarifas, repentinos recuos e declarações que geram instabilidade em Wall Street, sua condução diplomática tem sido como uma montanha-russa política. Após tantas reviravoltas, os mercados já sabem lidar sem grandes sustos.
O estilo de Trump não é exatamente uma novidade, mas continua testando investidores ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1, afirma que o padrão agressivo e imprevisível do ex-presidente cria um ambiente repleto de ruídos e alta volatilidade.
Em resposta, os gestores adotam uma postura mais cautelosa, preferindo posições menores, decisões rápidas e maior proteção para evitar serem pegos de surpresa por publicações do republicano em sua rede social Truth Social — que substituiu o X (ex-Twitter) como seu principal canal de comunicação no segundo mandato.
Enquanto antes um simples post podia derrubar bolsas e moedas, hoje o mercado aprendeu a reagir com mais calma. Caio Athié Teruel, economista e gestor patrimonial na Cimo Family Office, explica que os investidores perceberam que muitos anúncios polêmicos não chegam a se concretizar, e são mais retórica do que ação efetiva. Em resumo, quem sobreviveu ao primeiro mandato já sabe que nem toda turbulência vira tempestade.
O “Efeito Trump” Ainda Presente
Apesar da maior preparação do mercado, Luis Ferreira, CIO do EFG International para as Américas, alerta que a imunidade ao chamado “efeito Trump” não existe. O impacto de suas falas, comentários e decisões políticas ainda é real e pode gerar oscilações significativas.
O Novo Normal para Gestores
Gerenciar riscos políticos tornou-se rotina para quem administra investimentos. As estratégias recomendam reduzir alavancagem, aumentar a liquidez e proteger setores que possam ser afetados por políticas comerciais imprevisíveis.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, resume a lógica vigente: Trump provoca tensões, o mercado reage com estresse, mas ele costuma recuar, restaurando a normalidade até o próximo episódio. Por isso, os gestores se blindam com antecedência, dado que a imprevisibilidade é a única constante.
Impacto no Fluxo de Capitais, Dólar e Ouro
As oscilações políticas e negociações internacionais alteram o fluxo global de recursos. Com o dólar perdendo parte de seu prestígio, cresce o interesse por ativos considerados seguros, como ouro e títulos de qualidade.
Países emergentes, incluindo o Brasil, atraem parte desses investimentos, embora permaneçam vulneráveis a mudanças abruptas no ambiente internacional. Nesse cenário, os gestores trabalham com planilhas em uma mão e certa dose de cautela na outra, tendo incorporado as surpresas de Trump à sua estratégia, ajustando posições conforme os movimentos do ex-presidente.
Principais Decisões e Tensões Comerciais
O risco global está atrelado, em grande medida, às disputas comerciais, especialmente com a China, e às ameaças de novas tarifas. Cada declaração ou anúncio desse tipo provoca alterações imediatas nos preços dos ativos.
As ameaças de tarifas adicionais, como os 100% sobre produtos chineses, são vistas majoritariamente como estratégias de negociação para forçar o diálogo.
Essas medidas causam ansiedade e podem levar a correções rápidas, como a desvalorização do real e outras moedas emergentes. Contudo, há uma expectativa geral de que acordos ou trégua temporária sejam alcançados, evitando deterioração maior da economia.
Analistas indicam que a imposição efetiva de tarifas mais rígidas aumentaria o risco de desaceleração econômica, estimulando um movimento de “risk-off”, quando investidores buscam proteção em ativos mais seguros.
Mesmo assim, cresce a compreensão de que muitos discursos não são acompanhados de ações contundentes, conforme reforça Caio Athié Teruel.
Estratégias de Gestão na Nova Realidade
Diante desse ambiente menos previsível, gestores adotaram uma postura mais ativa, integrando a incerteza política ao planejamento de riscos e alocações.
Luis Ferreira destaca três frentes principais:
- Gestão de risco mais eficiente, com redução da alavancagem, maior liquidez e proteção integrada para setores afetados pelas políticas comerciais, antecipando eventos de risco;
- Maior cautela na formação das posições, preferindo tamanhos menores que permitam rápida mobilização;
- Avaliação setorial e geográfica para identificar vulnerabilidades e ajustar alocações para reduzir exposição ou aproveitar oportunidades.
Embora essas medidas não eliminem completamente os riscos, ajudam os gestores a manejar esse “novo normal” de forma mais eficaz. Porém, picos de volatilidade continuam possíveis diante de eventos inesperados ou declarações radicais.
Luis Ferreira reforça que o mercado está mais preparado, porém ainda sensível aos impactos das falas e decisões políticas de Trump.
Importância da Comunicação e Atuação Proativa
A transparência com os clientes é crucial para deixar claro os potenciais efeitos das decisões políticas e como os portfólios estão protegidos contra as oscilações do mercado.
Além disso, o papel dos gestores passou a ser mais proativo, antecipando cenários e não somente reagindo aos acontecimentos.
Matheus Spiess ressalta que o mercado vive um novo paradigma, com menor previsibilidade, comportamentos mais erráticos e volatilidade episódica elevada.
Esse clima de incerteza e choques múltiplos, incluindo políticas tarifárias e desregulamentação, provoca uma movimentação significativa de ativos globalmente. O dólar perdeu espaço, motivando investidores a migrar para ativos mais seguros, como o ouro, e redirecionar recursos para outras regiões, beneficiando ativos europeus e mercados emergentes.
No curto prazo, o Brasil se beneficia dessa diversificação, apesar da pressão gerada pelas tarifas. Contudo, permanecem preocupações com vulnerabilidades internas acumuladas.
Luis Cezario destaca que o aumento de riscos devido a propostas de elevação de gastos públicos exige ajustes marcantes nos preços dos ativos locais. Qualquer mudança no cenário internacional pode causar impacto devido a essas fragilidades.



