Como Os EUA Enfrentarão o Boom de US$ 2,5 Trilhões em Datacenters de IA

Como Os EUA Enfrentarão o Boom de US$ 2,5 Trilhões em Datacenters de IA

Como os EUA Planejam Suportar o Crescimento de US$ 2,5 Trilhões em Datacenters de Inteligência Artificial

Grandes empresas de tecnologia buscam dobrar o consumo de eletricidade associado à inteligência artificial nos próximos cinco anos, o que impactará significativamente a rede elétrica doméstica.

Entre 2025 e 2030, gigantes do setor como OpenAI, Google, Microsoft, Amazon e Meta planejam ampliar mais do que o dobro a capacidade computacional destinada à criação e operação de suas inteligências artificiais. Atualmente, esses sistemas demandam cerca de 40 gigawatts de energia — capacidade suficiente para abastecer aproximadamente 30 milhões de residências.

Esse crescimento envolve um investimento enorme: cerca de US$ 50 bilhões (equivalente a R$ 267 bilhões) por gigawatt de potência instalada, totalizando cerca de US$ 2,5 trilhões (R$ 13,35 trilhões) durante o período de cinco anos.

Metade desse valor será direcionada para a aquisição de GPUs de fabricantes como Nvidia e AMD, enquanto o restante, aproximadamente US$ 500 bilhões (R$ 2,67 trilhões), será destinado à infraestrutura energética, incluindo novas usinas e linhas de transmissão.

Segundo previsões do Goldman Sachs, até 2030, os datacenters nos Estados Unidos deverão consumir cerca de 500 terawatts-hora por ano, o que representa mais de 10% de toda a eletricidade consumida no país.

Zach Krause, analista da consultoria East Daley, alerta para a possibilidade de instalações concluírem suas construções mas enfrentarem falta de energia entre 2028 e 2029 devido à capacidade limitada da rede.

Desafios na oferta de energia para datacenters

Problemas já se manifestam em algumas regiões. No estado de Oregon, a Amazon Data Services entrou com uma queixa contra a Pacificorp, subsidiária da Berkshire Hathaway, que negou o fornecimento de energia para ativar parte dos US$ 30 bilhões investidos pela empresa em seus datacenters locais.

Na Califórnia, dois centros de 50 megawatts em Santa Clara, promovidos pela Digital Realty e Stack Infrastructure, encontram-se concluídos, mas ainda não possuem energia disponível enquanto a Silicon Valley Power realiza atualizações no valor de US$ 450 milhões na rede elétrica — obras previstas apenas para 2028 ou posteriormente.

Em Ohio, a concessionária AES condicionou o fornecimento dos 30 gigawatts demandados a contratos de longo prazo que garantam a compra de 85% da energia, reduzindo a fila de projetos para 13 gigawatts.

Perspectivas otimistas para o fornecimento energético

Apesar dos obstáculos, há quem acredite que os Estados Unidos estão bem posicionados para enfrentar e superar esses desafios. Joseph Majkut, diretor de segurança energética do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), destaca que a expansão rápida da demanda é um sinal positivo, indicando o potencial para crescimento econômico e fortalecimento de indústrias estratégicas.

Carson Kearl, analista de mercados de energia da Enverus, em Calgary, ressalta que o problema inicial de dúvida poderá ser superado devido à capacidade ociosa existente no mercado, desde que os projetos sejam desenvolvidos em locais adequados.

Alex Tang, da venture capital 50 Years, também compartilha do otimismo, mostrando-se confiante na capacidade do mercado de capitais americano em mobilizar recursos rapidamente para atender a demanda.

Investimentos em geração própria de energia

Diante das limitações no fornecimento pelas concessionárias, diversos desenvolvedores de datacenters estão apostando na geração própria de energia, especialmente no Texas, que possui sua própria rede elétrica descentralizada do sistema federal, facilitando o processo regulatório.

O projeto Stargate, liderado por OpenAI, SoftBank, Oracle e MGX em Abilene, Texas, está instalando 10 turbinas a gás para garantir energia de reserva.

Empresas petrolíferas, como a Chevron, visam construir até 5 gigawatts em turbinas a gás para servir datacenters até 2027 na Bacia Permiana, onde o combustível é abundante e barato — chegando a ter preços negativos em alguns momentos.

Alternativas mais recentes incluem o uso de células a combustível movidas a gás, como o acordo de US$ 5 bilhões firmado entre Brookfield e Bloom Energy, bem como turbinas menores, adotadas pela xAI, empresa ligada a Elon Musk.

O Goldman Sachs indica que 60% da nova demanda para datacenters deverá ser suprida por gás natural, ressaltando que o país já teve um boom similar de construção desse tipo no passado, como em 2002.

Impacto na matriz energética e perspectivas futuras

O crescimento no consumo para datacenters pode até revitalizar o uso do carvão, que teve aumento no último ano após revisões das normas ambientais pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) durante o governo Trump.

Autoridades locais do Colorado, por exemplo, solicitaram à Xcel Energy que postergasse o fechamento de duas usinas a carvão até que alternativas estejam disponíveis.

No horizonte de longo prazo, a energia nuclear promete garantir fornecimento abundante, com contratos já firmados por gigantes como Meta, Microsoft e Amazon, e projetos para reativação de reatores desativados, como o de Three Mile Island.

Novas usinas nucleares estão em construção, contando com apoio federal de US$ 80 bilhões para reatores avançados, além do desenvolvimento de pequenos reatores modulares por startups.

O secretário de energia do governo Trump propõe ainda a construção conjunta de reatores nucleares e datacenters em terras federais, sobretudo em instalações militares, facilitando licenciamento e garantindo fornecimento redundante.

Eficiência e modernização da rede elétrica

Consultorias como Wood Mackenzie projetam que a inteligência artificial pode ajudar a viabilizar mais energia do que consome, através da otimização e modelagem de campos de petróleo e gás ao redor do mundo.

Entidades como o Rocky Mountain Institute destacam a possibilidade de liberar mais energia por meio da modernização das linhas de transmissão de alta tensão e programas de resposta à demanda, em que consumidores colaboram para reduzir o consumo nos horários de pico.

Pesquisadores da Duke University indicam que uma redução de apenas 1% no consumo previsto pelos datacenters poderia gerar uma folga equivalente a 125 gigawatts na rede elétrica.

Perspectiva final

Embora seja comum, em ciclos anteriores, ocorrerem bolhas por excesso de construção em setores como ferrovias, fibra óptica e turbinas a gás, ocasionando falências e longos processos de absorção da capacidade, o atual boom beneficia-se do financiamento das companhias mais ricas do planeta aliado ao poder estatal dos EUA.

Se houver necessidade de ampliar o fornecimento energético para manter a liderança em inteligência artificial e proteger as valorizações de mercado dessas empresas, os desafios tendem a ser resolvidos.

Fonte

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