Ações da Copasa avançam mais de 80% em 2025 com expectativa de privatização, mas desafios ainda persistem
Em 2025, as ações da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), negociadas sob o código CSMG3, tiveram um expressivo crescimento, superando os 80% de valorização no ano. Esse desempenho é impulsionado pela expectativa da privatização da estatal, que tem movimentado o mercado e atraído o interesse dos investidores. Em outubro, o papel subiu cerca de 8%, reforçando o otimismo em torno da possível concessão ao setor privado.
No entanto, especialistas ressaltam que o preço das ações, atualmente acima de R$ 30, pode ter alcançado um limite, pois já incorpora as projeções do processo de privatização.
PEC do Referendo e avanço legislativo na Assembleia de Minas Gerais
Um importante passo para a privatização da Copasa é a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 24/2023 na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Essa emenda prevê a retirada da exigência de referendo popular para autorizar a venda da companhia, o que pode facilitar o andamento do processo.
Na quinta-feira, 23 de outubro, deputados estaduais mineiros realizaram sessões para debater a PEC do Referendo, restando apenas uma sessão para a conclusão das discussões. Até o momento, cinco das seis reuniões previstas foram realizadas, sendo que uma foi anulada por solicitação da oposição. A aprovação necessitará de maioria simples, o que pode ocorrer nos próximos dias, se aprovado na sessão de hoje.
Com a aprovação da PEC, conforme comenta Rafael Passos, analista da Ajax Asset, a ALMG precisará realizar um segundo debate sobre o Projeto de Lei 4.380/2025, que autorizará efetivamente a privatização da empresa. Contudo, ele destaca que o término deste processo legislativo ainda é incerto e pode se estender até o começo de 2026.
Impactos do calendário eleitoral e cenário político
O mercado acompanha também os desdobramentos das eleições estaduais previstas para 2026. Segundo o trader Artur Horta, da The Link Investimentos, os principais candidatos ao governo de Minas Gerais atualmente são de direita e tendem a apoiar a privatização. O vice-governador Mateus Simões, que deverá assumir o governo em abril, é um exemplo desse perfil favorável.
Contudo, o analista aponta que a entrada de um candidato contrário à concessão poderia impactar negativamente as ações da Copasa.
Recomendações dos bancos e perspectivas para o papel
Diante da possibilidade de privatização, instituições financeiras como Citi e Itaú BBA melhoraram suas recomendações para as ações da Copasa, enquanto o Banco Safra mantém uma visão positiva sobre o ativo.
Modelo de privatização deve seguir referências da Sabesp
O mercado avalia que o governo de Minas Gerais poderá adotar um modelo semelhante ao da Sabesp na concessão da Copasa. Uma fonte relevante do setor de saneamento afirma que o processo deve incluir mecanismos como a golden share e restrições para que investidores não concorram em licitações de outras companhias do setor em que a empresa tenha interesse.
Segundo essa fonte, a privatização da Sabesp foi bem-sucedida e serviria de referência para o processo na Copasa, possibilitando a atração de um sócio estratégico do setor de infraestrutura em vez de um investidor comum. Isso traria benefício para o mercado, gerando uma nova força no segmento que hoje é liderado pela Sabesp e pela Aegea.
Espera-se que fundos como Patria e empresas como a Equatorial (EQTL3) possam se interessar pelo processo, ainda que a Equatorial tenha focos prioritários na universalização dos serviços da Sabesp.
As operações da Sabesp e da Copasa são consideradas complementares, uma vez que atuam em regiões vizinhas. Essa integração pode fortalecer a segurança hídrica das populações atendidas e ampliar a base de ativos da Sabesp, potencialmente tornando-a uma das maiores empresas do setor no mundo.
Além disso, a gestora Patria tem ampliado seu portfólio em infraestrutura, tendo recentemente fechado seu quinto fundo de investimentos no setor, com captação de R$ 15,4 bilhões.
Greve dos funcionários e resistência à privatização
Apesar do avanço das discussões, a privatização da Copasa enfrenta resistência significativa. Os trabalhadores da companhia entraram em greve por tempo indeterminado para se opor à aprovação da PEC que viabiliza a concessão privada.
A paralisação, inicialmente prevista para o período de 21 a 23 de outubro, foi estendida após avaliação do sindicato de que a votação do texto pode se prolongar além da data inicialmente prevista.
Eduardo Pereira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado de Minas Gerais (Sindágua-MG), enfatiza que a questão envolve o direito do povo mineiro de decidir sobre o futuro da Copasa. Segundo ele, a privatização não é um tema exclusivo dos trabalhadores, mas de toda a população, que deveria ser consultada antes de qualquer decisão sobre a venda da empresa.



