Corinthians e Fundo Imobiliário da Neo Química Arena: R$ 100 Milhões em Dívida

Corinthians e Fundo Imobiliário da Neo Química Arena: R$ 100 Milhões em Dívida

Corinthians deixa de repassar R$ 100 milhões a fundo imobiliário da Neo Química Arena e transforma valor em dívida com a Caixa

O fundo imobiliário criado para administrar os recursos destinados à quitação das dívidas da construção da Neo Química Arena, em São Paulo, não recebeu repasses oriundos das receitas obtidas com bilheteria e naming rights em 2023. Segundo o último demonstrativo financeiro divulgado, cerca de R$ 100 milhões em receitas de bilheteria ainda estão pendentes de repasse por parte do Corinthians ao fundo. Questionado, o clube informou que os valores foram usados para custear despesas internas, enquanto a Caixa Econômica Federal, parte credora, preferiu não comentar o assunto alegando sigilo.

Histórico e estrutura do fundo imobiliário

Iniciado em maio de 2011, o projeto de construção da Neo Química Arena envolveu um investimento total de R$ 985 milhões, dos quais R$ 400 milhões foram financiados pela Caixa Econômica Federal. Para possibilitar o pagamento desse financiamento, foi constituído o Arena Fundo Imobiliário (Arena FII), que detém oficialmente o estádio e tem a função de receber receitas futuras, incluindo bilheteria e contratos de naming rights, repassando-as para a amortização das dívidas com a Caixa.

Dívidas, repasses e auditoria

Entretanto, a auditoria realizada pela YPC Auditum revelou a inadimplência do fundo, que não recebeu os valores referentes ao contrato de naming rights com a Hypera Pharma, estimados em R$ 15 milhões por ano até 2040. Além disso, registros do fundo indicam uma desvalorização de R$ 424,7 milhões em seu valor de mercado entre 2014 e 2022, situação atribuída pelo Corinthians ao aumento da taxa de juros no país.

Em relação à bilheteria, os R$ 100 milhões não transferidos para o Arena FII também não foram encaminhados à Caixa, o que fez o montante ser incorporado ao saldo devedor do clube junto à instituição financeira, cujo débito atual soma R$ 645 milhões já atualizado.

Posicionamento do Corinthians e da Caixa

A direção do Corinthians justifica que os recursos retidos foram destinados à cobertura dos custos relacionados aos jogos e outras despesas operacionais. Além disso, o clube afirma que desde a renegociação da dívida com a Caixa, em 2022, não há mais a obrigação de repassar a bilheteria ao fundo imobiliário, mas a dívida com a Caixa deve continuar sendo paga. A Caixa, por sua vez, optou por não fornecer detalhes devido ao caráter confidencial das informações envolvidas.

O clube declarou também que está ajustando as demonstrações financeiras do Arena FII e que irá republicar o balanço de 2024 com informações mais transparentes e detalhadas sobre o fundo, buscando regularizar todas as pendências contábeis.

Propostas e riscos para investidores

Em entrevista, o presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians afirmou que o clube enfrenta dificuldades para quitar a dívida com a Caixa e ponderou a hipótese de substituir o atual fundo que administra a questão. A resposta da Caixa indicou que uma alternativa seria a criação de um novo fundo imobiliário aberto a investidores pessoa física, oferecendo a possibilidade de aquisição de cotas vinculadas ao estádio.

O clube sinaliza positivamente para essa possibilidade, considerando o fundo imobiliário como um potencial instrumento para captar recursos do mercado financeiro, porém ainda em avaliação para definir o melhor modelo.

Especialistas alertam que, embora a iniciativa possa atrair torcedores interessados em investir no estádio do time do coração, o retorno financeiro ao investidor tem alto risco, especialmente devido à grande dívida persistente e ao fato de o único inquilino, o Corinthians, estar inadimplente com o repasse de receitas. Dessa forma, o investimento se configura maior como um apelo emocional do que como uma aplicação segura financeira.

Administração e fiscalização do fundo imobiliário

Atualmente, o Arena FII é gerido pela Reag Trust, instituição alvo recente da Operação Carbono Oculto, que investiga possíveis usos ilícitos de fundos para lavagem de dinheiro. Embora negue qualquer irregularidade, a Reag destacou que o fundo está operando em conformidade com as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA).

Analistas ressaltam a importância da transparência no fluxo financeiro do fundo, considerando que sua concentração total no estádio e a dependência de um único locatário inadimplente aumentam significativamente os riscos aos investidores, principalmente em razão da auditoria inconclusiva das últimas demonstrações financeiras relativas a 2023.

Assim, o eventual lançamento de novas cotas do fundo para pessoas físicas dependerá da aprovação dos órgãos reguladores, que deverão avaliar cuidadosamente a legalidade e a segurança da operação.

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