Criptomoedas alternativas perdem US$ 200 bilhões devido à saída de investidores de varejo
O setor de criptomoedas tem enfrentado uma queda significativa, principalmente nas chamadas altcoins, ou seja, moedas digitais além do bitcoin, que vêm sofrendo perdas consideráveis após uma migração de investidores comuns que anteriormente impulsionavam seu crescimento.
Um índice da MarketVector, que acompanha 50 tokens de média e baixa capitalização, registrou um recuo de quase 70% ao longo deste ano, atingindo o menor patamar desde o início de 2020. Nesse período, as altcoins acumularam uma queda de US$ 200 bilhões em valor de mercado em relação ao seu ápice.
Antes, o mercado era animado pela participação ativa do investidor de varejo, que impulsionava desde criptomoedas temáticas, como as relacionadas à figura do ex-presidente Trump, até os populares tokens de temática canina. Contudo, essa onda perdeu força de forma significativa.
Nos momentos anteriores, as altcoins tendiam a acompanhar os ciclos do bitcoin, crescendo com ele e depois caindo. No entanto, em 2025, o grupo perdeu muito do movimento de alta e, na sequência, sofreu uma queda acentuada. Um exemplo disso é o dogecoin, que deixou de valorizar e caiu cerca de 50% desde seu pico em setembro.
Além disso, a competição pelos recursos dos investidores de varejo se intensificou, com diversas alternativas de investimento atraindo a atenção, como ações especulativas de tecnologia, opções alavancadas e mercados de previsão, que podem oferecer retorno mais rápido e menor instabilidade. O mercado de altcoins, formado por tokens que variam desde moedas memes até projetos de finanças descentralizadas e tokens de governança, enfrenta dificuldades para manter o interesse, especialmente em negociações que ocorrem em ambientes com baixa liquidez e alta dependência de especulação nas redes sociais.
Grande parte das valorização das altcoins até agora baseava-se na expectativa de que novos compradores continuassem entrando no mercado, um fenômeno semelhante à teoria do “maior tolo”. No entanto, essa lógica já não se sustenta: os preços não avançam mais apenas com a chegada de investidores, que passaram a avaliar os tokens com critérios semelhantes aos usados para analisar empresas, considerando fatores como base de usuários, receitas e funcionalidade real dos produtos.
Segundo Shuyao Kong, desenvolvedora da plataforma blockchain Megaeth, o mercado está passando por uma transformação onde ciclos baseados em especulação estão cedendo espaço a uma nova realidade, influenciada por vários atores, como cypherpunks, traders institutionais e até fatores políticos, resultando na aplicação de critérios tradicionais de avaliação, o que representa uma mudança significativa na dinâmica de negociação.
Esse ambiente leva a um esgotamento da participação do investidor de varejo, com até tokens de governança relacionados a projetos com fundamentos econômicos mais estruturados sofrendo queda, demonstrando um cenário mais maduro e menos suscetível a movimentos puramente especulativos.
Outro ponto importante é que muitos novos veículos financeiros surgiram, considerados mais seguros ou compreensíveis pelos operadores, como fundos de ações alavancados e opções, que favorecem operações mais rápidas e com maior previsibilidade. No universo cripto, produtos que replicam contratos futuros vinculados a ações de empresas como Apple, Nvidia ou Tesla também ganharam destaque, funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana, atraindo investidores que buscam exposição a ativos tradicionais via blockchain.
Como consequência, plataformas especializadas em negociação de derivativos de altcoins, como a Hyperliquid, registraram forte redução nos volumes de operações diárias desde a queda acentuada ocorrida em outubro. Por outro lado, mercados de previsão, exemplificados pelo Polymarket, têm apresentado aumento de atividade, sinalizando mudanças nas preferências dos participantes do mercado.
O mercado de criptomoedas alternativas segue, portanto, um processo de consolidação e maior seletividade, onde o paradigma anterior de crescimento baseado exclusivamente em especulação aberta cede espaço a uma avaliação mais criteriosa e madura, refletindo a evolução da participação dos investidores e a ampliação das ofertas financeiras vinculadas ao ecossistema cripto.



