Presidente da Ipiranga destaca mercado ilegal de combustíveis como maior desafio da empresa
Leonardo Linden, CEO da Ipiranga, concedeu entrevista ao podcast da EXAME para discutir os impactos da concorrência irregular no setor de combustíveis, os investimentos bilionários planejados para a rede, que comercializa cerca de 24 bilhões de litros anuais, além do futuro da companhia diante da transição energética.
A Ipiranga, marca com quase nove décadas de atuação, possui um faturamento anual próximo a R$ 120 bilhões, contando com aproximadamente 6 mil postos de combustível e realizando cerca de 1,5 milhão de abastecimentos diariamente. Apesar desses números expressivos, Linden aponta que o maior obstáculo não está apenas em inovar para os próximos anos ou na adaptação à transição energética, mas na presença do mercado ilegal.
“O principal desafio que enfrentamos é o mercado fora da lei. Estimamos que o Brasil perde algo em torno de R$ 30 bilhões por conta de evasão fiscal e práticas ilegais”, afirmou Linden em entrevista ao podcast “De frente com CEO”.
Um dos focos constantes de investimento na Ipiranga é o setor de segurança. A empresa dedica milhões anualmente em tecnologias aplicadas em caminhões e bases de distribuição visando minimizar riscos operacionais. “Destinamos cerca de R$ 100 milhões por ano para segurança, mas enfrentamos concorrentes que não têm esse tipo de compromisso,” ressaltou o executivo.
Segundo Linden, o País conta com aproximadamente 160 distribuidoras de combustíveis, das quais cerca de 60 operam sem respeitar as normas vigentes, conforme dados do Instituto Combustível Legal, entidade empresarial dedicada ao combate do comércio irregular.
“Essas distribuidoras são ilegais por diversos fatores, como evasão tributária, adulteração de produtos, importação fraudulenta ou violação das regras do setor, como a ausência da mistura obrigatória de biodiesel”, explicou o CEO.
Apesar de reconhecer esforços recentes das autoridades reguladoras e de parte do setor político para combater essas práticas, Linden considera que a questão representa um desafio nacional de grande magnitude. “Nesse cenário irregular, todos são prejudicados: a indústria de biocombustíveis, o consumidor e os governos estaduais, que deixam de arrecadar impostos”, completou.
O problema do mercado ilegal foi confirmado por recentes operações, como a ação em 28 de agosto realizada pela Receita Federal no estado de São Paulo contra organizações criminosas que atuam no setor de combustíveis — entrevista do CEO foi concedida antes dessa operação.
Ipiranga: muito além de seus postos de combustível
A marca, reconhecida pelos seus 6 mil postos distribuídos no Brasil, possui uma operação muito mais abrangente, conforme explica seu CEO. A empresa atende cerca de 7 mil clientes corporativos, que incluem usinas, ferrovias, indústrias, transportadoras, minas, hospitais e shoppings. “Onde houver veículo, há um combustível Ipiranga”, afirma Linden.
A infraestrutura logística é outra base essencial do negócio, com cerca de 3 mil caminhões em trânsito diariamente para realizar aproximadamente 10 mil operações de carga e descarga em suas 90 bases de distribuição.
No varejo, a companhia é líder em diversos segmentos, operando 1.500 lojas de conveniência, das quais 800 contam com padarias — fazendo da Ipiranga a maior rede de padarias franqueadas no Brasil. Também mantém 1.100 unidades do JetOil, focadas em serviços rápidos como troca de óleo e manutenção leve.
“Muitos não sabem, mas somos a maior franquia de padarias do país. Nossas lojas de conveniência oferecem uma ampla variedade, do café às opções de autosserviço”, comenta o CEO.
Entre os clientes corporativos, o agronegócio — especialmente as usinas — é um segmento que se destaca no faturamento, assim como o transporte público e o transporte de carga, que impulsionam significativamente a demanda.
Investimentos e crescimento planejado
O grupo controlador, Ultra, projeta investimentos totais de R$ 2,5 bilhões para o ano de 2025, dos quais a Ipiranga deve receber R$ 1,4 bilhão.
“Os recursos serão aplicados na modernização tecnológica, ampliação de bases de distribuição em regiões em expansão como Centro-Oeste e Norte e a abertura de cerca de 300 novos postos de serviço”, afirma o presidente, lembrando que a segurança operacional também conta com aporte anual de R$ 100 milhões.
Desafios e oportunidades na transição energética
Em meio aos debates que ganham força com a COP30, a Ipiranga encara a transição energética como uma oportunidade para diversificação, sem a necessidade de substituir imediatamente as opções existentes.
“Somos uma empresa voltada à mobilidade. Independentemente do tipo de energia que dominar o futuro — seja elétrica, fóssil ou biocombustível — estaremos presentes. Contamos com 6 mil pontos de venda bem posicionados e precisamos estar preparados para todas essas demandas”, destaca Linden.
Atualmente, a empresa já opera uma rede de recarga para veículos elétricos nos postos e é uma das maiores distribuidoras de biocombustíveis no país, respondendo por 17% do volume comercializado no Brasil.
Olhando para o futuro com foco na essência da empresa
Contando com 2.900 funcionários diretos e cerca de 4 mil revendedores independentes responsáveis pelos postos, Linden valoriza a cultura organizacional próxima e humana como diferencial competitivo.
“Somos uma empresa feita por pessoas que valorizam as pessoas. Manter a relação próxima com os revendedores e clientes faz parte da nossa identidade”, reforça o CEO.
Com uma visão de longo prazo rumo ao centenário da marca, Linden enfatiza o compromisso de manter a Ipiranga como uma empresa completa de mobilidade, preparada para diversos tipos de energia e para a transição do setor, sem perder sua relevância no mercado.
“Nosso legado será deixar uma Ipiranga renovada, eficiente e pronta para os próximos 100 anos”.