O impacto dos dividendos: retorno com proventos supera a valorização das ações em Petrobras, Vale e Banco do Brasil
Historicamente, investidores tendem a encarar os dividendos e os juros sobre capital próprio (JCP) como uma fonte de renda passiva. No entanto, os dados indicam que esses proventos vão muito além disso, representando a principal forma de retorno para os papéis das empresas que mais distribuem lucros, superando até mesmo a valorização das ações em si.
Esse cenário se aplica a grandes companhias listadas na bolsa, como Petrobras, Vale e Banco do Brasil. No período de 12 meses até agosto, por exemplo, a ação preferencial (PN) da Petrobras caiu 21%. Contudo, considerando o retorno dos dividendos de 13,20%, a queda efetiva foi reduzida para 6,12% no mesmo intervalo.
O Banco do Brasil, com sua ação ordinária (ON), apresentou uma desvalorização de 19% no mesmo período. Quando o retorno em dividendos de 8,89% é contabilizado, a queda efetiva do investimento foi de 10,49%. Já a ação ordinária da Vale registrou alta de 5,83% em 12 meses até agosto, e somando o dividend yield de 8,12%, o ganho real atingiu quase 14%.
Uma análise realizada pela consultoria Elos Atya para o InvestNews considerou os dez papéis com maior distribuição de proventos ao longo de períodos de 10, 5 e 1 ano, abrangendo somente companhias dos índices Ibovespa, Idiv e Small Caps. A conclusão é que, para empresas que são bons pagadores de dividendos, o retorno proveniente dos proventos frequentemente ultrapassa as valorizações nominais das ações. Além disso, quando o investidor reinveste esses dividendos e JCP, os ganhos são significativamente potencializados.
O conceito de reinvestimento se refere à prática de utilizar os retornos recebidos para adquirir mais ações da mesma empresa, o que acumula ganhos não só pela renda distribuída, mas também pela valorização subsequente do ativo.
O papel dos dividendos na performance das ações
Exemplo claro dessa dinâmica pode ser observado nas ações da Petrobras, Vale e Banco do Brasil, onde os dividendos representam um componente essencial para o retorno do acionista ao longo do tempo. Considerando os últimos cinco anos, a Petrobras PN teve um retorno médio anual de aproximadamente 19,94% só com dividendos e JCP, equivalente a 133% no total apenas dos proventos entre agosto de 2020 e 2025, enquanto a valorização do papel foi de 42,7% no mesmo intervalo.
Somando a valorização da ação com o reinvestimento dos dividendos, o retorno total da Petrobras PN chegou a 409,23% em cinco anos, superando em mais de dez vezes o rendimento do Ibovespa, que foi de 38,46%, e quase sete vezes o rendimento do CDI, que acumulou 61,32% no período.
No caso da Vale, o retorno médio anual em dividendos foi de 11,01%, totalizando 55,44% em cinco anos, mesmo com uma queda nominal de 6,90% no preço da ação ordinária. Assim, o retorno total foi de 59,45%, ligeiramente superior ao Ibovespa e próximo ao rendimento do CDI. Para o Banco do Brasil, os dividendos somaram 45,64% nos últimos cinco anos, com a ação ON se valorizando 31,03%, o que proporcionou um retorno total de 102,74%, ou cerca de 168% do CDI.
No ranking das maiores rentabilidades por dividendos ao longo de cinco anos, a Petrobras lidera, seguida pela indústria química Unipar, com média anual de 18,48%, e pela holding Bradespar, que retornou em média 13,38% ao ano em proventos.
O histórico não garante resultados futuros
Apesar dos dados positivos recentes, é importante destacar que o desempenho passado dos dividendos não assegura ganhos similares no futuro. Um exemplo dessa volatilidade é a própria Petrobras, que entre 2014 e 2017 enfrentou problemas financeiros severos, acumulando prejuízos de R$ 37 bilhões, o que impactou negativamente a distribuição de lucros naquele período.
Ao considerar uma janela maior de dez anos, o dividend yield médio da Petrobras recua para cerca de 14% ao ano, resultando em um retorno nominal de 146% em proventos entre agosto de 2015 e agosto de 2025.
Nas empresas que mantiveram distribuição constante de dividendos nos últimos dez anos, a transmissora de energia Taesa destaca-se com yield médio de 9,98% ao ano, seguida pela Bradespar (9,38%) e Unipar (9,35%).
Entre as maiores rentabilidades por dividendos nos últimos 12 meses até agosto, a Syn Prop Tech (antiga Cyrella Commercial) lidera com 51,85%, seguida por Marfrig (19,46%) e Unipar (18,48%).
Perspectivas e considerações para investidores
Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial, destaca que os investidores de renda variável devem avaliar o retorno total, que inclui tanto a valorização do preço quanto a distribuição dos dividendos, e não somente o pagamento destes últimos. Para quem busca renda passiva, focar apenas nos dividendos não deve ser o único critério na escolha de ações.
Empresas consideradas defensivas, com negócios consolidados e fluxos de caixa mais previsíveis — como as de setores de energia, infraestrutura e serviços públicos — costumam oferecer dividendos consistentes, tornando-se atrativas para proteção de carteira, embora normalmente não apresentem grande potencial de valorização acelerada.
Flavio Vegas, analista de produtos da Global X, ressalta que para companhias maduras a distribuição de dividendos é uma das formas mais eficazes de gerar retorno ao acionista, já que o reinvestimento dos lucros para crescimento robusto é frequentemente limitado nesses casos.
Além disso, muitas empresas associam a distribuição de dividendos com programas de recompra de ações, que consistem na aquisição dos próprios papéis pela companhia no mercado, elevando seu preço e beneficiando os investidores.
Uma reputação sólida como pagadora de dividendos pode atrair mais investidores e incrementar o valor da ação ao longo do tempo, conforme explica Wis: “Uma política consistente de distribuição de lucros tende a aumentar o fluxo de compra e, com o tempo, fazer com que a ação negocie com prêmio em relação aos seus pares.”



