Eletrobras Entra no Radar do Investidor Estrangeiro Com Fim do Risco Nuclear

Eletrobras Entra no Radar do Investidor Estrangeiro Com Fim do Risco Nuclear

Com o término do “risco nuclear”, Eletrobras (ELET3) atrai interesse de investidores estrangeiros; momento para comprar ações?

A Eletrobras removeu um grande obstáculo ao concluir a venda de sua participação na Eletronuclear para a holding J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, o que elevou o otimismo no mercado sobre a redução dos riscos envolvidos na companhia.

Esse acordo representa o fim de uma fase de discussões com o governo federal desde o processo de privatização da empresa, permitindo que a Eletrobras concentre seus esforços nas atividades principais, segundo avaliadores e gestores ouvidos pelo Money Times.

A diminuição das incertezas deve tornar a elétrica mais atraente para carteiras de investidores, especialmente os estrangeiros, que até então mantinham certa cautela em relação à ex-estatal.

Este ano, as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) registraram uma valorização de cerca de 60% na B3. Contudo, especialistas acreditam que, devido ao cenário positivo dos preços da energia e à organização da empresa sob o comando do CEO Ivan Monteiro, o potencial de alta ainda é maior.

Efeito financeiro da venda da Eletronuclear

Ao concretizar a venda da Eletronuclear, a Eletrobras deverá reconhecer uma perda contábil aproximada de R$ 7 bilhões, valor correspondente ao registro do ativo no balanço da empresa. Apesar disso, essa perda não impacta o caixa da companhia diretamente.

Adicionalmente, como o mercado já atribuía um valor praticamente nulo para a participação na Eletronuclear, analistas consideram que a transação resultou em benefício para a Eletrobras.

A empresa recebeu R$ 535 milhões pela venda, um montante modesto diante do valor de mercado da Eletrobras, estimado em mais de R$ 120 bilhões, porém, segundo o analista Ruy Hungria, da Empiricus Research, o efeito líquido da operação é positivo.

Além do pagamento recebido, a Eletrobras transferiu à Âmbar Energia — subsidiária da J&F que realizou a aquisição — o compromisso de investimentos nas debêntures previstas no acordo de conciliação firmado com a União, no total de R$ 2,4 bilhões.

Crucialmente, o negócio elimina diversas dúvidas, incluindo os vultosos investimentos que a Eletrobras teria que fazer para concluir as obras da usina nuclear Angra 3.

“A operação não só aprimora a alocação de capital ao liberar recursos para negócios com retornos mais elevados, mas também elimina riscos de crédito ou a necessidade de futuros aportes relacionados à Eletronuclear”, explica Hungria.

Atração para investidores estrangeiros

Com a mitigação do chamado “risco nuclear”, a Eletrobras pode começar a ser comparada a empresas já valorizadas no setor, como Engie (EGIE3) e Copel (CPLE6), na avaliação de um gestor que possui posição na companhia e concedeu entrevista ao Money Times.

Ele destaca que, assim como investidores estrangeiros se interessaram pela Sabesp após sua privatização, a Eletrobras também poderia atrair atenção internacional significativa — um movimento até agora não concretizado devido à pendências remanescentes, mas que a venda da Eletronuclear agora resolve.

Segundo o gestor, a Eletrobras reúne características atrativas para investidores externos, como porte significativo, ativos relevantes, alta liquidez na bolsa e boa governança.

Teoricamente, a empresa poderia ascender ao status de companhia “premium”, tornando-se alvo frequente para analistas das corretoras internacionais (_sell side_). Esse potencial ainda deve se materializar à medida que a visibilidade da companhia cresce fora do Brasil.

As recomendações a respeito das ações da Eletrobras contam com amplo consenso entre analistas. Por exemplo, o Bank of America (BofA) vê a venda da Eletronuclear como um catalisador adicional que reforça a posição da empresa como uma das mais atraentes da América Latina.

O banco mantém recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo estabelecido em R$ 70 para as ações ordinárias (ELET3) e R$ 77 para as preferenciais (ELET6).

O segmento analítico considera que esse acordo representa um marco importante para a tese de investimento na Eletrobras, pois zera um risco relevante, elimina definitivamente um passivo histórico e consolida uma etapa essencial na reorganização pós-privatização, permitindo que a empresa se concentre na comercialização de energia.

A etapa final da privatização da Eletrobras

A alienação da Eletronuclear foi a última grande etapa do processo de privatização da Eletrobras. Observadores de longa data da empresa apontavam uma estrutura com desorganização, apresentando ativos que funcionavam ao lado de outros problemáticos.

A privatização, realizada em 2022 durante o governo Bolsonaro, enfrentou desafios relacionados à governança da empresa após a eleição de Lula, o que gerou novas incertezas para o mercado.

Em março deste ano, essas divergências foram resolvidas, aliviando, entre outras questões, a obrigação da Eletrobras de realizar novos aportes no setor nuclear. Estudos governamentais indicaram que apenas a conclusão da usina Angra 3 demandaria investimentos da ordem de R$ 20 bilhões.

Com o acordo fechado com a J&F, a empresa conseguiu transferir esse passivo, retirando de seu balanço a responsabilidade e, consequentemente, fortalecendo sua posição para focar em suas operações principais.

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