Exploração da Foz do Amazonas: Avanços e Desafios da Margem Equatorial

Exploração da Foz do Amazonas: Avanços e Desafios da Margem Equatorial

Exploração na Foz do Amazonas: informações conhecidas e aspectos ainda incertos

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou, no dia 20 de outubro de 2025, a Petrobras a iniciar a perfuração de um poço na região da Foz do Amazonas, situada na Margem Equatorial brasileira. Essa autorização é válida exclusivamente para fins de pesquisa exploratória, permitindo à empresa realizar estudos para confirmar a existência de petróleo na área. Caso seja constatada a viabilidade da extração, novas licenças serão necessárias para o início da produção.

A decisão para explorar a região tem sido alvo de críticas contundentes por parte de ambientalistas, que manifestam preocupação quanto à preservação ambiental. Em contrapartida, especialistas em petróleo e representantes do Ministério de Minas e Energia defendem a atividade como crucial para a produção energética do país. O ministro Alexandre Silveira destacou que a Margem Equatorial simboliza o “futuro da soberania energética” do Brasil. A Petrobras planeja começar a perfuração imediatamente, com duração estimada em cinco meses, sendo essa fase restrita à pesquisa exploratória.

Detalhes da operação e suas implicações

Licenciamento e duração da pesquisa

A licença emitida pelo Ibama autoriza a Petrobras a efetuar a perfuração e coleta de dados no bloco FZA-M-059, situado em mar aberto, aproximadamente 175 km distante da costa do Amapá e a 500 km da foz do Rio Amazonas, em área caracterizada por águas profundas. A pesquisa exploratória não envolve a produção de petróleo, sendo uma etapa inicial destinada a avaliar o potencial petrolífero da região, que deve durar cerca de cinco meses.

Extensão e localização da Bacia

A Bacia da Foz do Amazonas encontra-se no extremo oeste da Margem Equatorial brasileira e compreende uma área aproximada de 268 mil km², abrangendo desde a plataforma continental até a zona de transição entre as crostas continental e oceânica, incluindo talude e águas profundas.

Significado estratégico da região

A Margem Equatorial é apontada como uma nova fronteira para a exploração de petróleo e gás natural no Brasil, com potencial comparável ao pré-sal. Sua importância é atribuída à semelhança geológica com as bacias petrolíferas da Guiana e do Suriname, países que, em poucos anos, aumentaram significativamente sua produção de óleo, ultrapassando a marca de 360 mil barris diários em 2023, com expectativas de superar um milhão de barris até 2027.

Estimativa de reservas e produção

O governo estima que a Margem Equatorial pode abrigar reservas que possibilitariam a extração diária de 1,1 milhão de barris de petróleo, superando a capacidade dos campos de Tupi e Búzios, na Bacia de Santos. Conforme dados do Ministério de Minas e Energia, a região poderia oferecer até 10 bilhões de barris de petróleo. Para comparação, as reservas nacionais confirmadas somam 16,8 bilhões de barris, o que garantiria a autossuficiência até 2030. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) calcula que a Bacia detém cerca de 6,2 bilhões de barris de óleo equivalente recuperável.

Investimentos e retorno financeiro

Em entrevista ao canal GloboNews, o ministro Alexandre Silveira estimou que o setor da Margem Equatorial poderá atrair investimentos superiores a R$ 300 bilhões e gerar até R$ 1 trilhão em arrecadação nas próximas décadas, fundos que podem ser destinados a áreas como saúde e educação. O Simulador de Impacto na Margem Equatorial, desenvolvido pelo Observatório Nacional da Indústria, indicou que produzir 100 mil barris diários na costa do Amapá, equivalente a 16% da produção da Guiana, poderia acrescentar R$ 10,7 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) local e criar quase 54 mil empregos.

Qualidade do petróleo e análise técnica

Até o momento, não existem estudos oficiais que definam a qualidade do petróleo e gás natural nesta bacia. A caracterização do óleo dependerá do resultado das coletas e análises durante a fase exploratória. O petróleo poderá ser classificado como leve, médio ou pesado, de acordo com sua densidade em graus API, e informações sobre o teor de enxofre ainda serão examinadas.

Custo da sonda de perfuração

A Petrobras contratou a sonda NS-42 para executar a perfuração, uma embarcação de 238 metros de comprimento, equivalente a dois campos de futebol, e torre de perfuração de 64 metros, similar a um prédio de 20 andares. A sonda pode atingir profundidades de até 12,1 mil metros incluindo a coluna de água e as camadas de rocha subterrânea. Seu aluguel custa aproximadamente R$ 4 milhões por dia. Equipado com tecnologia avançada e sistema automático de posicionamento, o navio mantém estabilidade mesmo em condições adversas no mar. A NS-42 pertence à empresa Forsea e esteve aguardando a autorização desde agosto no Amapá.

Reação do mercado financeiro e ações da Petrobras

Após a autorização do Ibama, as ações da Petrobras apresentaram baixa na bolsa de valores: as ordinárias (PETR3) caíram 0,54% na segunda-feira, dia do anúncio, e 1,05% na terça-feira, enquanto as preferenciais (PETR4) tiveram leve alta de 0,13% e depois recuaram 0,74%. Segundo especialistas, embora a permissão represente um avanço estratégico para longo prazo, o mercado antecipava a decisão. Além disso, a queda no preço internacional do barril de petróleo—com o Brent cotado a US$ 61,63—contribuiu para a reação modesta. O economista Adriano Pires aponta que a perspectiva de preços ainda mais baixos em 2026 prejudica as expectativas de receita da empresa.

Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, ressalta que os investidores aguardavam essa autorização e que existe otimismo pela possibilidade de que a área tenha características comparáveis àquelas descobertas na Guiana, local que experimenta um boom petrolífero.

Posicionamento do Ibama e da Petrobras

O Ibama declarou que a concessão da licença ocorreu após diversas melhorias no projeto apresentado pela Petrobras. A companhia destacou a solidez dos mecanismos de proteção ambiental que serão aplicados no processo de perfuração. A Petrobras enfatizou que a abertura de novas áreas é fundamental para garantir segurança energética e recursos para uma transição energética justa no país.

Reações de ambientalistas e controvérsias

Ambientalistas consideram a licença uma grave ameaça às políticas ambientais, especialmente diante da proximidade da COP30, conferência climática que será sediada pelo Brasil. O Observatório do Clima classificou a decisão como uma “dupla sabotagem” contra o planeta e o evento. A coordenadora de políticas públicas Suely Araújo criticou o incentivo do governo à expansão da produção fóssil em um momento crítico para o planeta. Já o climatologista Carlos Nobre alertou para o risco iminente de a Amazônia alcançar o ponto de não retorno ambiental e questionou a justificativa para novas explorações petrolíferas.

Processo de licenciamento e prazos

O licenciamento para exploração da bacia da Foz do Amazonas levou mais de dez anos. O direito ao bloco foi concedido em 2013 e o processo ambiental iniciou-se em abril de 2014, inicialmente pela empresa BP Energy do Brasil. Em 2020, os direitos foram transferidos para a Petrobras. Em agosto de 2025, a companhia realizou um simulado de emergência sob supervisão do Ibama como etapa final para comprovar a segurança da operação.

Próximas etapas para o desenvolvimento da área

Antes da instalação da produção comercial, a Petrobras precisa confirmar a existência de petróleo em quantidades comerciais, anunciar a comercialidade da área e garantir novas aprovações ambientais para a construção de infraestrutura e produção efetiva. Assim, somente após cumprir esses passos, a produção poderá ser iniciada.

Fonte

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