Frete grátis: vale a pena para o Mercado Livre? CFO destaca ganho de escala e rentabilidade futura
Nos últimos meses, a competição no setor de comércio eletrônico se intensificou consideravelmente, com diversas empresas do segmento buscando expandir sua participação no mercado, muitas vezes oferecendo subsídios para atrair consumidores e parceiros. Apesar de alguns investidores demonstrarem cautela em relação a essa estratégia, o Mercado Livre enxerga essa disputa como válida, mesmo reconhecendo a pressão sobre suas margens de lucro.
Em junho, a empresa implementou frete grátis para compras a partir de R$ 19 em todo o Brasil, uma medida que reforça sua postura agressiva no mercado.
João Paulo Lima, CFO do Mercado Livre, concedeu entrevista ao Money Times e afirmou que, apesar de a rentabilidade poder sofrer uma pressão no curto prazo, a expectativa é de recuperação no médio e longo prazos, sustentada pelo ganho de escala e investimentos bem direcionados.
No terceiro trimestre de 2025, o Mercado Livre registrou uma margem Ebit (operacional) de 9,8%, a menor desde o final de 2023, reflexo direto dessa intensificação na concorrência.
Enfrentando concorrência asiática
O executivo enfatizou que a empresa está se preparando para competir principalmente com gigantes asiáticos do comércio online, como Shopee, Temu e AliExpress, que têm ampliado significativamente sua atuação no Brasil, apostando exclusivamente no digital e dispensando estruturas físicas.
Lima destaca que o mercado brasileiro ainda tem espaço para crescimento no e-commerce, com uma penetração atual de cerca de 15% a 16%, enquanto na China as vendas pela internet já representam quase 30% do varejo total.
“A competição com os players asiáticos vai se intensificar, e precisamos estar bem preparados”, disse o CFO. Ele ressaltou que a evolução do varejo digital no Brasil depende de serviços eficientes, que garantam entregas rápidas e uma infraestrutura robusta para vendedores e consumidores.
Posicionamento diante das varejistas brasileiras
Em relação às concorrentes nacionais como Magazine Luiza e Casas Bahia, o Mercado Livre demonstra menor preocupação, pois acredita que essas empresas ainda mantêm forte foco no varejo físico, apesar de investirem no marketplace digital.
Segundo Lima, essa predominância do varejo offline entre os concorrentes locais dificulta uma rápida adaptação para o comércio eletrônico, um terreno onde o Mercado Livre e as empresas asiáticas atuam intensamente no ambiente digital.
Ele ressalta que, antes da recuperação judicial das Lojas Americanas, essa era a única varejista brasileira com grande investimento em digital, mas desde então a fatia desse mercado foi conquistada principalmente pelo Mercado Livre e pelos concorrentes estrangeiros.
Perspectivas diante do cenário econômico nacional
Sobre o contexto macroeconômico do país, o CFO percebe um consumo marcado pela instabilidade. Por um lado, o desemprego está em níveis históricos baixos; por outro, a inflação e as taxas de juros ainda pressionam o orçamento das famílias.
Lima observa que a expectativa de consumo depende do controle da inflação. Juros elevados, apesar de limitar os gastos, podem impulsionar levemente a atividade econômica. A estabilidade da inflação oferece às famílias maior previsibilidade sobre suas finanças.
Ele comenta ainda que, dentro dos orçamentos domésticos, os brasileiros têm destinado parte da renda às compras online, atraídos pelos benefícios de preços competitivos e conveniência.



