Geração Z na Ásia: Revolta Contra a Elite Política e Privilegios

Geração Z na Ásia: Revolta Contra a Elite Política e Privilegios

Por que a Geração Z asiática está insatisfeita com seus governantes

Na Ásia, os privilégios desfrutados por uma elite política geram descontentamento entre os jovens, que enfrentam dificuldades para entrar no mercado de trabalho.

Recentemente, no Nepal, um jovem ligado a um político exibiu uma árvore de Natal feita com sacolas de marcas de luxo. Na Indonésia, parlamentares receberam benefícios de moradia equivalentes a dez vezes o salário mínimo. Em Timor Leste, foram adquiridos SUVs novos para membros do parlamento por meio de um programa milionário.

Esses benefícios evidenciam uma elite política enraizada e estimularam protestos em vários países asiáticos, onde os jovens se sentem privados de oportunidades econômicas.

Em setembro de 2025, Khadga Prasad Sharma Oli, primeiro-ministro do Nepal, tornou-se o terceiro líder da região do sul da Ásia a ser derrubado por protestos populares em apenas dois anos, após os primeiros-ministros de Bangladesh e Sri Lanka.

Além disso, no Sudeste Asiático, ocorreram manifestações menores. Como resposta, políticos timorenses e o presidente indonésio Prabowo Subianto eliminaram certos privilégios oficiais, enquanto o presidente da Câmara dos Representantes filipino renunciou diante de acusações de desvio de fundos públicos.

Samip Paudel, um jovem desenvolvedor de aplicativos de 22 anos que participou dos protestos em Katmandu, afirma que de um lado há filhos de políticos exibindo corrupção, enquanto do outro jovens nepaleses comuns são obrigados a deixar o país para estudar e trabalhar no exterior. Paudel criou um folheto com o uso de inteligência artificial mostrando o ex-primeiro-ministro Oli consumindo grandes quantias em dinheiro, destacando que a questão dos chamados “nepo babies” representa um ponto decisivo para sua geração.

Protestos liderados por jovens

Essas manifestações contam com forte participação da Geração Z e dos millennials em países que por anos esperaram um “dividendo demográfico”. Tal conceito propunha que uma população jovem numerosa propiciaria crescimento econômico acelerado.

O Banco Mundial aponta que, apenas no Sul da Ásia, cerca de um milhão de jovens deverá ingressar no mercado de trabalho mensalmente entre 2025 e 2030. Uma tendência parecida ocorre também em partes do Sudeste Asiático, especialmente na Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo.

Porém, os economistas agora falam em déficit demográfico, já que muitos países asiáticos não geram empregos suficientes para absorver essa enorme demanda.

Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, em 2024 a porcentagem de jovens entre 15 e 24 anos sem emprego, educação ou treinamento alcançou 33% no Nepal, 30% em Bangladesh e 21% na Indonésia, entre as maiores taxas globais — ficando atrás apenas de regiões em conflito.

Além disso, cerca de dois terços da força de trabalho asiática, aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas, atua na informalidade, de acordo com as Nações Unidas. Isso significa ausência de direitos trabalhistas e benefícios, o que dificulta o progresso econômico desses trabalhadores.

Proibição das redes sociais e indignação popular

Pouco antes dos protestos, jovens nepaleses começaram a divulgar imagens retiradas das redes sociais de filhos de políticos, marcando-os com hashtags como #nepobaby e #nepokid.

Dentre as imagens mais compartilhadas, estavam fotos de Saugat Thapa, filho do ministro e empresário Bindu Kumar Thapa, exibindo roupas luxuosas em hotéis caros e destinos turísticos famosos. Uma das fotos mostrava Saugat ao lado de uma árvore de Natal composta por embalagens de marcas de luxo como Louis Vuitton, Cartier e Gucci.

Após o governo proibir o acesso a diversas plataformas como Facebook, Instagram e WhatsApp, jovens, alguns até com uniformes escolares, foram às ruas protestar.

Após a morte de 21 manifestantes, confrontos violentos ocorreram, com invasão à casa de Bindu Kumar Thapa em Pokhara, queimadas no parlamento nacional em Katmandu e no hotel Hilton da capital.

Samip Paudel explicou que a restrição às redes sociais foi uma tentativa de silenciar o movimento exatamente quando a população começava a manifestar seu descontentamento contra a corrupção.

O ex-primeiro-ministro Oli, que renunciou em 9 de setembro, negou que seu governo tivesse autorizado o uso da força letal contra os manifestantes e afirmou que o Nepal seguia em curso de desenvolvimento econômico. Nem Bindu Kumar Thapa nem seu filho comentaram as denúncias.

Saugat Thapa publicou no Instagram que a polêmica sobre a árvore de Natal foi uma interpretação “injusta e equivocada”, enquanto seu pai declarou no Facebook que suas propriedades foram destruídas após serem acusados de corrupção sem provas.

Na Indonésia, os protestos realizados no mês anterior fracassaram após o presidente Subianto cancelar privilégios parlamentares e as autoridades prenderem lideranças do movimento. A coalizão governista também retirou mandatos de parlamentares que fizeram comentários desrespeitosos aos manifestantes.

Uma conta no Instagram, chamada @cabinetcouture_idn, passou a expor itens de luxo usados por políticos e suas famílias, como o ministro do turismo e a esposa de um importante membro do parlamento. A página conquistou mais de 174 mil seguidores desde sua criação em 10 de setembro. A parlamentar regional esposa de um legislador preferiu não comentar.

O gabinete da ministra do turismo Widiyanti Putri Wardhana esclareceu que uma das fotos mostradas foi registrada antes dela ingressar na política, quando trabalhava na indústria de óleo de palma, e que desde então ela adaptou seu estilo de vida à função pública.

Conforme o pesquisador Yoes Kenawas, da Universidade Católica Atma Jaya em Jacarta, a política na Indonésia e em outros países asiáticos se tornou mais dinástica. Atualmente, quase um quarto dos membros do parlamento indonésio tem parentes envolvidos na política, conforme levantamento do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais sediado em Jacarta.

Esse índice é inferior ao das Filipinas, onde 71 dos 82 governadores provinciais eleitos nas eleições de meio de mandato em maio pertencem a dinastias políticas. O exemplo mais conhecido é Martin Romualdez, ex-presidente da Câmara que renunciou recentemente, primo do atual presidente Ferdinand Marcos Jr. — filho do ex-ditador homônimo.

Kenawas observa que muitos jovens sem conexões políticas sentem-se excluídos das oportunidades que estão reservadas aos poderosos. Ele enfatiza que a juventude está cada vez mais educada e conectada por meio das redes sociais, mas, ao concluir seus estudos, não encontra empregos reais.

Texto traduzido do inglês por InvestNews.

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