Goldman Sachs aposta na recuperação europeia para expandir negócios além dos EUA
Em entrevista concedida à Bloomberg News, Anthony Gutman e Kunal Shah, copresidentes-executivos da divisão internacional do Goldman Sachs, destacaram o potencial da Europa para uma retomada econômica consistente, com ênfase em soluções de capital, fusões e aquisições (M&As) e ofertas públicas iniciais (IPOs).
Diante dos programas de investimento em infraestrutura e defesa de países como Alemanha e França, os executivos buscam ampliar a participação do banco na região. Eles também esperam que o crescimento no financiamento necessário para esses projetos venha acompanhado por uma elevação no volume de fusões e abertura de capital.
Gutman, que liderou importantes transações no Reino Unido, e Shah, um dos sócios mais jovens do banco, assumiram sua posição conjunta em janeiro e respondem pela área da Europa, Oriente Médio e África, região que registrou um crescimento de 14% na receita no primeiro semestre, totalizando US$ 7,3 bilhões, o ritmo mais acelerado da instituição.
Atualmente, o Goldman Sachs conta com mais de 9 mil funcionários na Europa, com um terço fora do Reino Unido. Londres permanece como o centro principal, mas há planos para expandir operações em Frankfurt, Paris e Milão.
Kunal Shah enfatizou que o banco está reforçando estratégias já em andamento para crescer na região, acreditando que a Europa está prestes a se tornar foco estratégico para várias iniciativas da companhia. O grupo recém-formado de soluções de capital, que integra áreas de financiamento, private equity e trading, está na base desse projeto.
Anthony Gutman indicou que já surgem demandas expressivas por recursos para setores de infraestrutura e energia na Europa, tendência que deve se intensificar entre os próximos 12 e 24 meses.
Apesar do otimismo, os dirigentes reconhecem os desafios econômicos na zona do euro, com alertas de organismos internacionais sobre desaceleração devido a tensões comerciais e demanda fraca. O FMI, em junho, chamou atenção para a possibilidade de estagnação caso esses problemas não sejam enfrentados rapidamente.
No entanto, o mercado de fusões e aquisições vem mostrando sinais de recuperação após um começo de ano lento, exemplificado por ofertas relevantes como a tentativa da Anglo American de adquirir a Teck Resources, num negócio que resultaria em uma grande mineradora de cobre avaliada em US$ 50 bilhões, e a compra da farmacêutica alemã Stada Arzneimittel pelo grupo CapVest Partners por € 10 bilhões (US$ 11,8 bilhões).
Gutman revelou estar preparado para uma vigorosa retomada cíclica das atividades de investment banking em todas as frentes, observando que os fatores para esse crescimento estão alinhados.
O mercado europeu de IPOs também mostra reatividade: o Goldman liderou a oferta de ações do SMG Swiss Marketplace Group, que levantou mais de US$ 1 bilhão, e atua no IPO da empresa de segurança residencial Verisure, avaliado em € 3,1 bilhões, a maior operação pública no continente nos últimos três anos.
Segundo Gutman, o ritmo de ofertas planejadas para o próximo ano é robusto em vários mercados europeus, refletindo o cenário otimista.
Embora o primeiro semestre tenha sido o mais fraco da Europa em mais de dez anos, parcialmente pela incerteza gerada por tarifas norte-americanas, a volatilidade tornou a divisão de renda variável do banco uma das mais lucrativas no segundo trimestre.
Shah complementou afirmando que o engajamento dos clientes segue elevado, mantendo uma atuação estável e saudável, ainda que abaixo do ápice, mas acima da média do mercado.
Além da Europa, os executivos apontam o Oriente Médio como região com grandes oportunidades, sobretudo nos segmentos de gestão de ativos e fortunas. O Goldman planeja abrir novos escritórios e ampliar o quadro de profissionais na área.
Com a inauguração de um escritório em Abu Dhabi em 2023, o banco foi o primeiro grande a obter licença para sede regional na Arábia Saudita. No mesmo local, em Abu Dhabi, foram promovidos eventos que conectaram fundos hedge a investidores locais, enquanto a gestão de ativos conquistou o fundo soberano PIF, da Arábia Saudita, como investidor principal em novos fundos dedicados à região.
Os fundos soberanos do Oriente Médio administram juntos mais de US$ 4 trilhões em ativos, além disso, clientes privados de alto patrimônio na região possuem patrimônio superior a US$ 1 trilhão, segmentos nos quais o Goldman enfrenta forte concorrência, que tem pressionado a redução de taxas e aumentado os custos de contratação.
Recentemente, o banco teve a saída de Fadi Abuali, importante executivo no crescimento da área de Oriente Médio e Norte da África, e em gestão de ativos.
Contudo, Gutman e Shah permanecem confiantes, destacando que o Oriente Médio oferece uma das maiores oportunidades globais de captação e que há grande potencial para parcerias estratégicas que ampliem ainda mais os negócios do banco.



