Ibovespa aos 160 mil pontos: há possibilidade de um ‘rali de Natal’?
Com um ambiente macroeconômico mais definido, expectativas de cortes na taxa de juros e projeções otimistas para o Ibovespa, cresce a combinação entre análise técnica e sentimento de mercado que tradicionalmente impulsiona o último mês do ano.
Observando o Ibovespa, após consolidar-se próximo dos 150 mil pontos em novembro, o índice vem testando a faixa dos 160 mil pontos desde o início de dezembro. Surge a dúvida: há espaço para esse avanço continuar?
Contexto do rali de Natal
O chamado “rali de Natal” é um fenômeno conhecido e amparado por dados históricos, embora nunca seja uma garantia. Em 2025, o cenário macro parece ainda mais favorável do que em anos anteriores. A inflação tem surpreendido positivamente, com possibilidade de fechar próxima ao teto da meta estabelecida. O dólar permanece relativamente estável e há projeções para o começo de 2026 marcar o início da redução da taxa básica de juros. Esse tipo de ambiente costuma favorecer o desempenho da bolsa no final do ano.
Uma análise feita pelo economista Einar Rivero, sócio da consultoria Elos Ayta, reforça essa perspectiva. Levantando dados da B3 entre 2000 e 2024, ele identificou que em 16 das últimas 25 temporadas dezembro apresentou mais pregões de alta do que de baixa. Nos cinco anos mais recentes, apenas 2022 interrompeu essa tendência, marcado pelo fim da pandemia de Covid-19.
Por que dezembro se destaca?
O motivo para o rali ocorrer especificamente em dezembro vai além da intuição. É o período final para gestores aplicarem ajustes e entregarem resultados satisfatórios aos seus cotistas. As estratégias táticas de fechamento de carteira e a preparação para o início do próximo ano, que costuma concentrar maior fluxo de captação, impulsionam movimentações significativas.
Conforme Gustavo Harada, líder da Blackbird, a liquidez reduzida nas últimas semanas do ano amplifica a volatilidade e a sensibilidade dos preços no mercado. Ele destaca que pagamentos de bônus corporativos, participações nos lucros (PLR) e o otimismo dos investidores incentivam a entrada em ativos de maior risco. Além disso, realocações feitas por fundos institucionais também impulsionam o mercado.
Outros aspectos que contribuem para este movimento incluem rebalanceamento de carteiras, ajustes fiscais, a diminuição de incertezas políticas e decisões econômicas frequentemente adiadas para janeiro. O quadro macroeconômico, com taxas de juros, inflação e câmbio mais estáveis, reforça esse ambiente positivo.
Competitividade e liquidez
André Matos, CEO da MA7, complementa que dezembro funciona como o último momento para as gestoras demonstrarem consistência e competitividade antes da virada do ano. A liquidez normalmente diminui, com equipes reduzidas nas gestoras e menor atuação dos grandes investidores, o que faz o mercado ficar mais sensível a pequenos fluxos financeiros. Isso pode gerar movimentos mais expressivos.
O impacto psicológico
Além dos fatores técnicos, o componente psicológico dos investidores também é relevante. No final do ano, muitos começam a projetar cenários mais otimistas para o próximo período, o que os torna mais propensos a assumir riscos. Essa antecipação de expectativas costuma incentivar os ganhos históricos observados em dezembro.
Os especialistas mencionam ainda que o Ibovespa tem como meta um patamar entre 165 mil e 167 mil pontos até o final de dezembro, mesmo após recentes correções. O dólar tende a permanecer estável dentro de uma faixa confortável.
Quais indicadores podem confirmar o rali?
Para que o rali de Natal se confirme em 2025, alguns indicadores merecem atenção, principalmente o fluxo de investidores institucionais e fundos multimercados. Um posicionamento coordenado desse grupo costuma ser o gatilho para o início do movimento.
Outro aspecto fundamental é a liquidez. A redução no volume negociações, típica de dezembro, aumenta a sensibilidade dos preços e pode potencializar as variações. Harada enfatiza que sem essa característica, dezembro se comportaria de forma semelhante a outros meses.
O cenário macro favorável, com inflação mais controlada, dólar estável, melhor organização fiscal e perspectiva de cortes de juros no ano seguinte, cria um ambiente propício para ativos de maior risco. A indicação de redução dos juros melhora imediatamente o prêmio de risco dos investimentos.
Também conta o clima político menos conflituoso e o humor positivo dos investidores, que planejam suas estratégias para 2026. Porém, é importante não perder de vista o cenário internacional, que pode tanto favorecer quanto dificultar a sustentabilidade de uma alta. Caso haja um movimento global de aversão a riscos, o rali pode não se sustentar.
Vale a pena investir apenas pelo rali?
Embora o ambiente aparente ser favorável, dezembro também tem histórico de desconfortos e resultados decepcionantes. Choques externos, instabilidades políticas, crises econômicas e altas nas taxas de juros já foram suficientes para interromper o padrão positivo anteriormente.
Portanto, a decisão de investir simplesmente esperando um rali de Natal depende do perfil do investidor. Analisar o rali como uma possível oportunidade adicional, e não uma estratégia principal, é o mais indicado.
Mesmo sem o impulso sazonal, a bolsa brasileira continua com preços atrativos e fundamentos sólidos, apresentando boas oportunidades de entrada. Harada reforça que todo investimento deve levar em conta o perfil, horizonte de tempo e diversificação adequada.
O fundamental é que os investidores não confundam tendências históricas com garantias, já que o mercado pode mudar de direção rapidamente conforme novos elementos surgem.



