Ex-Faria Lima e Ex-BNDES Aplicam R$ 1,5 Milhão para Ampliar Mercado de Carbono na Amazônia
Pedro Plastino, com passagens pela Faria Lima, e Rodrigo Brandão, ex-BNDES, impulsionam projeto que visa transformar a preservação da floresta em geração de renda e fortalecimento da governança local. A dupla investiu R$ 1,5 milhão para lançar a Jóias Ecológicas, empresa focada em créditos de carbono em comunidades amazônicas.
Plastino explica a escolha do nome: “Joia refere-se a áreas públicas de reservas florestais, consideradas verdadeiros tesouros ecológicos, locais de extrema biodiversidade e onde comunidades estão mais protegidas.”
Com uma equipe técnica composta por ex-servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a empresa já gerencia 740 mil hectares entre florestas e manguezais, com o objetivo de ampliar a área para 2 milhões de hectares até 2026. O ano seguinte também será marcado pela primeira venda pública dos seus créditos de carbono.
“Nosso objetivo anual é gerar 1 milhão de toneladas em créditos de carbono. Para quem entende do mercado, isso é bastante significativo”, afirma Plastino.
Entendendo os Mercados de Carbono Regulados e Voluntários
O mercado de carbono se divide em regulado e voluntário. O regulado opera por meio do sistema ETS (Sistema de Comércio de Emissões), que estabelece cotas obrigatórias de emissão. Esse segmento movimenta 67% da receita total, equivalente a US$ 69,1 bilhões (R$ 370,2 bilhões), segundo a PwC Brasil. Já o mercado voluntário, baseado em iniciativas livres para redução de gases de efeito estufa, representa 33%, cerca de US$ 33,1 bilhões (R$ 177,3 bilhões).
Um exemplo no mercado regulado é o CBIO, ou Crédito de Descarbonização, vinculado à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que remunera produtores de cana de açúcar por tonelada de carbono sequestrado. Em 2024, foram emitidos aproximadamente 42 milhões de CBIOs, o que gerou um volume financeiro de R$ 3,9 bilhões, crescimento de 23% em relação a 2023.
No âmbito voluntário, empresas e pessoas físicas adquirem créditos para compensar suas emissões de gases, gerados por projetos e ações que removem ou reduzem gases do efeito estufa. O preço desses créditos varia amplamente, desde cerca de US$ 5 (R$ 26,8) até US$ 24 (R$ 128,6) por tonelada de CO2, podendo alcançar valores superiores a US$ 170 (R$ 910,6) em casos envolvendo tecnologia avançada.
Um Mercado Desafiador com Propósito Social
Plastino destaca que o crédito de carbono é um ponto de partida para o diálogo sobre sustentabilidade. A Jóias Ecológicas destina 70% de seus resultados líquidos para as comunidades locais, visando fortalecer a governança e financiar serviços essenciais como água, energia, internet, além de impulsionar cadeias produtivas locais, como de castanha e pirarucu.
A empresa atua em três polos: Belém e Santarém, no Pará, e Porto Velho, em Rondônia. Em Belém, está focada no projeto dos manguezais do “Salgado Paraense”, com a meta de conservar 200 mil hectares e gerar créditos de carbono azul, que são altamente valorizados no mercado de carbono.
Os demais centros concentram-se na Floresta Amazônica, buscando transformar a conservação em um ativo econômico que assegure dignidade e permanência territorial para povos extrativistas e ribeirinhos, além da comercialização dos créditos.
Carbono Comunitário e Ativação da Bioeconomia
Os créditos de carbono produzidos pela Jóias Ecológicas contam com certificação internacional da Verra, organização baseada em Washington, que utiliza o padrão CCB (Clima, Comunidade e Biodiversidade) para garantir benefícios climáticos, sociais e ambientais.
Além de reverter a maior parte dos ganhos para investimentos comunitários, a empresa planeja fomentar a bioeconomia, agregando valor a produtos locais como açaí, pirarucu, caranguejo e castanha. Plastino exemplifica com o pirarucu, cujo preço chega a R$ 100 por quilo nos centros urbanos, mas é vendido a apenas R$ 8 nas comunidades. Estruturas adequadas de logística e armazenamento podem multiplicar essa receita e impactar diretamente a renda dos extrativistas.
“O potencial de transformação ao agregar valor às cadeias produtivas tradicionais é enorme”, ressalta Plastino.
Combate ao Greenwashing no Mercado Voluntário
O crescimento do mercado voluntário de carbono enfrenta desafios quanto à integridade, incluindo o risco de greenwashing — práticas de marketing enganosas que promovem uma imagem ambiental falsa. Na recente COP30, esse tema ganhou destaque, com alertas sobre publicidade enganosa e omissão de impactos ambientais negativos.
Para evitar essas falhas, a Jóias Ecológicas adota uma abordagem dupla: certificação rigorosa e avaliação criteriosa dos compradores, para assegurar comprometimento real com metas de redução.
“Seguimos a metodologia atualizada da Verra e a certificação CCB, respeitando também a legislação brasileira sobre carbono comunitário. Garantimos o consentimento prévio das comunidades e asseguramos a justa repartição dos benefícios”, afirma Plastino.
Perspectivas Promissoras para o Mercado de Carbono
Ao alcançar sua meta dos 2 milhões de hectares, a Jóias Ecológicas poderá impactar diretamente dezenas de milhares de pessoas em territórios extrativistas, proporcionando não apenas melhorias em serviços básicos, como água, energia e internet, mas também fortalecendo cadeias produtivas com maior valor agregado.
De acordo com a consultoria McKinsey & Company, a demanda global por créditos de carbono deve crescer expressivamente, impulsionada pela importância crescente dos critérios ESG (Ambiental, Social e Governança). Enquanto há uma década o mercado voluntário movimentava US$ 200 milhões, em 2021 atingiu US$ 1 bilhão e projeta-se que alcance US$ 50 bilhões em 2030.
O Brasil tem destaque neste cenário, pois detém cerca de 15% do potencial mundial de captura de carbono natural, podendo suprir até 48,7% da demanda global.
A sanção da lei que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), em 2024, cria um marco regulatório que fortalece o mercado doméstico. A PwC estima que o país tenha capacidade para gerar até 370 milhões de toneladas de créditos até 2030, volume acima da demanda interna estimada entre 17 e 72 milhões de toneladas.



