Lula Lança Fundo de Preservação para Florestas Tropicais em NY

Lula Lança Fundo de Preservação para Florestas Tropicais em NY

Lula apresenta Fundo para Preservação das Florestas Tropicais em Nova York, como Estratégia para a COP30

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresentou nesta terça-feira (23) na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A proposta do governo federal é que o fundo seja um mecanismo de incentivo financeiro para a conservação das florestas tropicais, recompensando os países que mantiverem essas áreas preservadas. Cerca de 70 países em desenvolvimento poderão ser beneficiados com os recursos desse fundo.

A iniciativa foi lançada durante a Climate Week, que acontece até 28 de setembro em Nova York, e contou com a participação de outras lideranças globais, incluindo o Príncipe William da Inglaterra e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. O Brasil, em parceria com cinco países em desenvolvimento e seis desenvolvidos, é o protagonista desse projeto.

Detalhes e Objetivos do Fundo Florestas Tropicais para Sempre

O objetivo do TFFF é substituir os sistemas temporários atualmente utilizados para o financiamento da conservação ambiental, principalmente após o cumprimento da meta brasileira de zerar o desmatamento até 2030. A ideia de um fundo desse tipo foi articulada desde a COP28, realizada em Dubai em 2023.

A ministra Marina Silva destacou que, historicamente, os recursos financeiros foram obtidos por meio da exploração da natureza, e agora é o momento de reverter essa lógica, utilizando esses recursos para proteger o meio ambiente. Ela ressalta que o TFFF representa uma mudança importante neste sentido, ao reduzir a dependência exclusiva de dinheiro público para a conservação ambiental.

Espera-se que os países investidores forneçam um capital inicial de US$ 25 bilhões, com o intuito de alavancar até US$ 100 bilhões provenientes do setor privado ao longo dos próximos anos. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, ao assumirem um papel de capital júnior, as nações pioneiras aceitam um risco maior, o que estimula a atração de investimentos privados.

Se confirmado o apoio necessário, o fundo pode chegar a distribuir US$ 4 bilhões por ano para os países tropicais, segundo as projeções dos idealizadores. Tal montante é visto como uma resposta relevante diante dos desafios atuais da diplomacia climática, marcado por avanços lentos na implementação do Acordo de Paris e pela ausência de compromissos climáticos ambiciosos por parte de alguns países.

Negociações e Participação Internacional

O grupo que negocia o TFFF é composto pelos países com biomas florestais – Brasil, Colômbia, Gana, Indonésia, Malásia e República Democrática do Congo – que seriam os beneficiários do fundo, além da Alemanha, Emirados Árabes, Estados Unidos, França, Noruega e Reino Unido, que assumem o papel de investidores iniciais. A intenção é que o aporte dos fundadores crie uma base sólida para atrair novos recursos públicos e privados.

O TFFF difere do Fundo Amazônia principalmente por não operar com o sistema REDD+, que remunera pela redução de emissões por desmatamento através da comercialização de créditos de carbono. Em vez disso, o TFFF funcionará como um fundo fiduciário, com seu capital investido no mercado financeiro e os rendimentos obtidos sendo utilizados para remunerar os países participantes.

André Aquino, assessor especial do Ministério do Meio Ambiente, explicou que o retorno dos investimentos será usado para pagar os investidores iniciais, e o excedente desse retorno, estimado em US$ 4 bilhões anuais, será destinado aos países preservadores das florestas tropicais.

Entre esses países, o Brasil, por detentor da maior área de floresta tropical do planeta, pode receber cerca de US$ 900 milhões anualmente quando o fundo operar em sua capacidade total, valor que supera em três vezes o orçamento discricionário atual do Ministério do Meio Ambiente.

Importância das Florestas Tropicais e Critérios de Remuneração

As florestas tropicais desempenham papel crucial na estabilidade climática, pois armazenam carbono e garantem ciclos hídricos fundamentais, como os “rios voadores” da Amazônia. Essas áreas abrigam mais de 80% da biodiversidade terrestre mundial, provendo serviços ecossistêmicos essenciais para a humanidade globalmente.

Nesse contexto, o TFFF busca valorizar e remunerar esses serviços, recompensando os países que contribuem para a manutenção desses ecossistemas vitais. Diferentemente dos sistemas baseados em créditos de carbono, o fundo pagará pelos hectares preservados de floresta tropical, sem especificações rígidas sobre a aplicação dos recursos, excetuando que 20% serão destinados às comunidades indígenas e tradicionais que vivem nessas regiões.

Especialistas ressaltam que o fundo ajuda a resolver um dilema global na política climática: embora a preservação da floresta beneficie o planeta inteiro, o custo recai sobre os países que abrigam essas florestas. O TFFF propõe uma distribuição equilibrada desse fardo financeiro, recompensando justamente os países que assumem essa responsabilidade.

André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), destaca que a iniciativa representa uma forma justa de direcionar recursos para quem efetivamente protege as florestas, beneficiando o mundo inteiro.

Já Leonardo Sobral, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), enfatiza a importância dos primeiros anos de operação do fundo, alertando para a necessidade de monitorar a implementação e o uso dos recursos no Brasil, incluindo a remuneração para áreas privadas, povos tradicionais e a definição de programas governamentais para a conservação das florestas públicas.

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