Mais investidores, menor rendimento: ações favoritas dos investidores pessoas físicas ficam atrás do Ibovespa
Mesmo com a redução dos IPOs e o retiro contínuo de empresas da bolsa de valores, as companhias que são as favoritas dos investidores pessoas físicas continuam a atrair cada vez mais acionistas. Entre elas, destacam-se Banco do Brasil, Vale e Petrobras, que ampliaram suas bases de investidores mesmo em um cenário onde a renda fixa domina o interesse do mercado financeiro.
Uma análise realizada pela B3 para o InvestNews revelou que, das 20 empresas com maior número de investidores com CPF, 11 registraram crescimento na quantidade desses acionistas entre 2023 e junho de 2025. Já aquelas que tiveram queda na base de acionistas observaram uma diminuição inferior a 10% neste mesmo intervalo.
Contudo, o aumento na popularidade dessas ações não se traduziu em melhores resultados financeiros. Se fossem reunidas em uma carteira, essas 20 ações que mais atraem investidores pessoas físicas teriam apresentado um desempenho inferior a benchmarks como o Ibovespa e o CDI.
Distribuindo igualmente o investimento entre elas, o retorno composto seria de 3,5% até 21 de agosto de 2025, sem contar dividendos e juros sobre capital próprio. Em um período de cinco anos, esse retorno acumulado seria de 20,6%.
Em comparação, o Ibovespa registrou alta de 12% no ano e 32,72% em cinco anos. O CDI superou no prazo maior, com uma valorização de 8,60% no curto prazo e 60,50% em meia década.
Por que, então, tantos investidores continuam apostando nessas ações, mesmo com a taxa Selic em níveis elevados há quase quatro anos? A resposta está no perfil dessas empresas, que oferecem bons dividendos, atuam em setores tradicionais que simbolizam mais segurança a longo prazo e aparentam estar relativamente protegidas das oscilações macroeconômicas.
Essa combinação faz com que certas empresas da bolsa sigam atraindo interesse, apesar do ambiente de juros altos. Contudo, esse modelo nem sempre resulta em ganhos expressivos, evidenciando a necessidade de diversificação. Por exemplo, a ação da WEG caiu 28,5% no período, enquanto a Copel valorizou 33%, o que poderia compensar perdas se ambas estivessem na carteira do investidor.
Ranking das ações favoritas pelos investidores pessoas físicas
O Banco do Brasil lidera o ranking de preferência entre investidores individuais, com a base de acionistas crescendo mais de 70% em um ano e meio, passando de 754.133 em dezembro de 2023 para 1.282.703 em junho de 2025.
Na sequência, está a Petrobras, que aumentou sua base para 1.118.779 investidores com CPF no mesmo período, um crescimento de 40% em comparação aos 726.857 de dezembro de 2023. O terceiro lugar pertence à Itaúsa, holding que controla participações relevantes em empresas como Itaú Unibanco, Alpargatas, Dexco, Copagaz, Aegea e Copa Energia, cuja base de investidores permaneceu praticamente estável, com uma leve queda de 0,54%, de 971.074 para 965.850.
Vale comentar que as duas varejistas listadas, Casas Bahia e Magazine Luiza, foram as únicas que apresentaram quedas mais expressivas, com diminuição de 30% e 44% respectivamente em seus acionistas pessoas físicas durante o último ano e meio.
Segundo os dados da B3, para fazer parte do top 10 de empresas com maior base de acionistas pessoas físicas é necessário possuir ao menos 400 mil investidores individuais. Já para figurar entre as 20 maiores, o mínimo registrado é de 221 mil.
Setor financeiro lidera entre empresas mais escolhidas
O segmento financeiro domina o grupo das mais populares entre pessoas físicas, com sete empresas entre bancos e seguradoras presentes no top 20. Esse predomínio reflete a percepção dos investidores sobre solidez e segurança nesses grupos.
O economista e especialista em investimentos Bruno Cotrim, da Top Gain, comenta que “os grandes bancos costumam ser vistos como instituições que dificilmente dão prejuízo”, fato que sustenta sua popularidade.
Além dos bancos tradicionais e seguradoras, o Nubank, único representante digital listado, aparece na 11ª posição. Segundo Cotrim, a aposta no Nubank decorre da confiança dos investidores na inovação e no futuro do setor financeiro.
Energia, infraestrutura e varejo no cenário das preferências
Outra característica que ajuda a atrair investidores é a estabilidade e a reputação das empresas conhecidas por distribuir bons dividendos. Por essa razão, companhias do ramo de energia e infraestrutura, como Copel, ISA e Engie, figuram no ranking.
A WEG se destaca como única representante do setor industrial, considerada um exemplo da industrialização brasileira para muitos investidores.
Apesar dos desafios enfrentados pelo varejo, Casas Bahia e Magazine Luiza resistem na lista das empresas mais preferidas. Essa persistência, segundo Cotrim, reflete “remanescências” da pandemia, período em que o setor disparou devido ao aumento na demanda por bens duráveis e eletrodomésticos.
Em dezembro de 2023, Magazine Luiza contava com quase 700 mil investidores pessoas físicas, ocupando o quarto lugar. Embora tenha atingido um pico de R$ 273,30 em 9 de novembro de 2020, atualmente, suas ações são negociadas ao redor de R$ 6,75.
Já as ações das Casas Bahia figuravam em 8º lugar em 2023, superando empresas como Klabin e Weg. O recorde do papel ocorreu em 21 de julho de 2020, quando valeu R$ 559. Contudo, em meio a conflitos internos e disputas pelo controle do grupo, a ação atualizou em torno de R$ 2,85.