Marquinhos Molina Lidera Expansão Halal da Sadia no Oriente Médio

Marquinhos Molina Lidera Expansão Halal da Sadia no Oriente Médio

Marquinhos Molina assume papel central na expansão da Sadia no Oriente Médio

Com apenas 29 anos, Marquinhos Molina, herdeiro de Marcos Molina, tem se destacado à frente da Sadia Halal, conectando a MBRF ao mercado da Arábia Saudita.

No ambiente familiar dos Molina, as tradições são marcantes. Apesar de Marcos ser o líder do segundo maior frigorífico do Brasil e comandar um vasto império de proteínas, é o filho mais velho, Marquinhos, quem domina a arte do churrasco, uma atividade que ele exerce desde os 14 anos. O menu familiar mantém-se tradicional, com cortes como o asado de tira e tomahawk, do gosto do pai, demonstrando a conexão íntima entre a família e a cadeia produtiva da carne.

A MBRF representa a concretização do projeto idealizado por Marcos Molina, que investiu R$ 15 bilhões para unir a sua gigante de carne bovina, a Marfrig, com a BRF, proprietária das marcas Sadia e Perdigão. Desde setembro, essa fusão resultou em uma companhia com receita estimada em R$ 160 bilhões anuais, que planeja sua estreia na Bolsa de Nova York em breve. Sob a liderança global de Miguel Gularte, executivo de confiança dos Molina, a MBRF avança fortemente no mercado internacional.

Uma das iniciativas mais significativas da nova marca é a criação da Sadia Halal, parceira entre a MBRF e a Halal Products Development Company (HPDC), braço do maior fundo soberano do mundo, o PIF. Essa joint venture foi estruturada para suprir as demandas do mercado halal na Arábia Saudita e em países do Golfo Pérsico.

Essa operação, que engloba fábricas e centros de abastecimento da Sadia na região, está avaliada em mais de US$ 2 bilhões, sendo vital para a receita global da MBRF, que hoje é em torno de 7% a partir do Oriente Médio, local que concentra praticamente toda a atuação relevante internacional da empresa.

Foco no mercado Halal

A Sadia Halal desponta como a maior empreitada da MBRF fora do Brasil e assume um papel essencial na estratégia de internacionalização do grupo. A produção é toda voltada para alimentos halal, cuja elaboração segue rigorosos preceitos islâmicos, desde o abate até o processamento e higienização dos produtos.

Esse segmento apresenta crescimento acelerado, alimentado por uma população muçulmana que ultrapassa 1,9 bilhão de pessoas globalmente, com uma taxa de expansão ao dobro da média mundial. Ademais, os países dessa região dependem em larga escala da importação de proteínas para atender sua demanda interna.

Essa dependência torna a segurança alimentar tema estratégico no Oriente Médio, cenário no qual a Sadia Halal se posiciona com força. A empresa foi a peça-chave para a MBRF estabelecer um vínculo duradouro com a política saudita de abastecimento, uma missão que conferiu a Marquinhos um papel crítico dentro da empresa.

Há mais de um ano radicado em Riade, Marquinhos Molina é a face da MBRF no Oriente Médio e atua como o principal representante da companhia perante o governo saudita. Ele ocupa simultaneamente os cargos de CEO da MBRF Arabia e presidente do conselho da Sadia Halal. É importante lembrar que a Arábia Saudita é um dos investidores mais significativos da BRF, através da Salic, veículo do PIF que participou da reestruturação financeira do antigo grupo.

A Sadia Halal tem planos para realizar um IPO na bolsa de valores de Riade já em 2027. Com receita anual aproximada de US$ 2,1 bilhões (cerca de R$ 11,3 bilhões) e um lucro operacional (Ebitda) de US$ 230 milhões, a companhia mantém operações estendidas por toda a região do Oriente Médio e Norte da África (MENA), onde a marca é altamente valorizada e reconhecida, algo raro para marcas brasileiras no exterior.

Essa trajetória teve início nos anos 1970, quando a Sadia, sob controle da família Furlan, desembarcou no Golfo Pérsico e rapidamente se consolidou como sinônimo de frango congelado na Arábia Saudita. Curiosamente, parte da popularidade se deve a uma confusão linguística, pois muitos consumidores locais associavam “Sadia” à palavra “Saudi”, que se relaciona à família real do país.

Ao longo de décadas, a marca construiu uma relação próxima com os consumidores sauditas, o mercado consumidor mais abastado do mundo árabe, atingindo um status cultural que poucas marcas brasileiras conseguiram replicar internacionalmente.

Formação e perfil do herdeiro

Com formação em Administração pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Marquinhos se identifica antes de tudo como pecuarista. Sua experiência prática vem desde a infância, acompanhando o pai em negociações de compra e venda de gado, visitando fazendas e absorvendo as particularidades do setor de carnes.

Essa ligação com o campo é reflexo da origem de Marcos Molina, que começou ainda jovem no açougue da família em Mogi-Guaçu (SP). Já na adolescência, ele abriu a primeira distribuidora de carnes e, em 2000, adquiriu um frigorífico em Bataguassu (MS), dando início a uma expansão que culminaria na formação da Marfrig, uma das maiores empresas de carne bovina do mundo, incluindo a operação National Beef, líder no mercado norte-americano.

Marquinhos, porém, representa uma nova geração no agronegócio, sendo mais comunicativo, confortável em ambientes públicos e com vivência urbana. Fluente em inglês e habituado a navegar entre fazendas, diretórios e órgãos governamentais, ele reflete o perfil moderno dos jovens empresários do setor.

Ainda em seus vinte e poucos anos, criou a startup WebGados, que buscava inovar o processo de compra de gado por meio da digitalização, com vídeos e descrições detalhadas para evitar problemas na aquisição de animais. Apesar de a empresa não ter prosperado, essa iniciativa mostrou seu espírito empreendedor.

Antes de assumir cargos executivos relevantes, Marquinhos atuou no conselho da BRF, pré-fusão, impressionando pelo conhecimento do negócio, sobretudo da operação e do campo, mais do que por aspectos financeiros.

Desde sua transferência para Riade em outubro de 2024, Marquinhos tem se aprofundado no mercado saudita, convivendo com executivos da Salic e compreendendo a complexa relação entre política, segurança alimentar e geopolítica da região.

No âmbito familiar, sua irmã mais nova, Marcella, recém-formada, trabalha na área de marketing do grupo e integra um comitê de sustentabilidade da MBRF, enquanto a mãe, Márcia, atua como sócia nas empresas do grupo, participando ativamente nas decisões estratégicas conduzidas pelo patriarca Marcos Molina.

Perspectivas futuras

Dois nomes representam a nova geração no setor global de frigoríficos: Wesley Batista Filho, de 33 anos, que lidera a JBS nos Estados Unidos, e Marquinhos Molina, responsável pela MBRF Arabia. Ambos cresceram no ambiente familiar dos frigoríficos, aprenderam o negócio desde cedo e hoje comandam unidades estratégicas para o futuro de suas empresas.

Para Marquinhos, o Oriente Médio representa a região fundamental onde a Sadia Halal é vista como um divisor de águas. Analistas e instituições financeiras, como Bank of America e Goldman Sachs, apontam a parceria com o PIF como a principal alavanca que irá impulsionar o crescimento da MBRF na próxima década.

Esses relatórios destacam a Sadia Halal como “o maior motor de desbloqueio de valor da MBRF”, “a próxima fronteira de expansão” e o projeto que poderá posicionar o grupo como líder global em proteínas halal. Para o mercado, isso significa que o sucesso dessa iniciativa pode alterar significativamente a posição da MBRF no cenário global de alimentos.

Marquinhos Molina e Wesley Batista Filho simbolizam a renovação geracional no setor frigorífico, que já teve grandes protagonistas como Joesley e Wesley Batista, além do próprio Marcos Molina, que, após entregar ao filho a responsabilidade de cuidar do churrasco familiar, agora confia a ele um desafio ainda maior: o futuro do império bilionário da família.

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