Menos Protagonismo E Mais Reestruturação Entre CEOs Do Ibovespa

Menos Protagonismo E Mais Reestruturação Entre CEOs Do Ibovespa

Menor protagonismo e maior pressão por reestruturação entre CEOs do Ibovespa

Nos últimos dois anos e meio, aproximadamente 40% das empresas listadas no Ibovespa trocaram seus presidentes executivos, um índice bastante elevado para o mercado brasileiro, principalmente considerando o perfil tradicionalmente estável das maiores companhias do país.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Flow Executive Finders, especializada em recrutamento de altos executivos, que avaliou as 80 empresas do índice durante os últimos 30 meses, pelo menos oito desses novos CEOs assumiram o cargo pela primeira vez.

Interessantemente, todos esses profissionais promovidos de dentro da organização tiveram início de mandato em um momento no qual o custo de capital pressionava as companhias, exigindo que a prioridade fosse a sustentabilidade dos negócios e não o crescimento acelerado.

Essa mudança impactou o perfil da liderança que chega ao comando. Ao optar por promover colaboradores internos, as empresas têm deixado para trás o modelo do “CEO protagonista” — aquele executivo experiente, contratado para centralizar decisões e ser o estrategista principal. Conforme ressalta Bernardo Cavour, sócio da Flow, esse movimento representa o fim do chamado CEO “one man show”.

Entre os nomes que estrearam na liderança do Ibovespa nesse período estão Marcelo Martins (Cosan), Ciro Neto (Iguatemi), Alberto Kuba (WEG), Rossano Marques (Yduqs), Renato Raduan (RD Saúde), Rinaldo Pecchio (Taesa), Marcelo Noronha (Bradesco) e Gustavo Pimenta (Vale). Cada um deles teve de rapidamente compreender que os métodos adotados por gestões anteriores não são mais adequados ao cenário atual.

Segundo Cavour, esses executivos enfrentam uma combinação incomum: assumem em um contexto de restrição de capital, com conselhos mais exigentes e um mercado muito menos tolerante a erros.

Esse cenário não é exclusivo do Brasil. Um estudo conduzido pela consultoria Russell Reynolds, que examinou mais de mil empresas em 13 índices internacionais, revelou que o tempo médio dos CEOs em seus cargos caiu de 8,4 anos para 7,2 anos desde 2021, chegando a um ponto mínimo de 4,9 anos, o menor índice desde 2018.

Transformação nas exigências para a liderança

Cavour destaca que a pressão não está apenas sobre os novos CEOs, mas também sobre os executivos veteranos que permanecem na função. A era de expansão facilitada por juros baixos deu lugar a um período marcado por escassez de capital, margens reduzidas e conselhos com postura mais interventiva.

“Mesmo os que continuam no cargo tiveram que, em certa medida, recomeçar”, explica o sócio da Flow. A mudança também está no estilo de governança: atualmente, os conselhos assumem papel mais ativo na formulação da estratégia e na avaliação de riscos. Após perdas significativas de valor e falhas de projetos que não entregaram retorno esperado, poucos desses órgãos mantêm a distância que tinham antes.

Para Cavour, tanto em empresas listadas quanto nas fechadas, a busca por líderes tem se focado em perfis capazes de reestruturar a estrutura de capital. A prioridade é encontrar executivos com habilidades para diminuir a alavancagem financeira, simplificar estruturas, revisar investimentos e restaurar a previsibilidade dos resultados — o que também justifica a ascensão de tantos CFOs ao cargo de CEO.

“A maioria dos mandatos que recebemos ainda está ligada à reorganização, não ao crescimento”, comenta. Entre 2021 e 2022, muitas companhias aceleraram seus projetos, aumentaram despesas e expandiram operações em um ambiente que não se confirmou. Agora, diante do capital mais caro e da menor tolerância no mercado, o foco é corrigir os excessos.

Os desafios da nova geração de CEOs

Esse contexto desenha o panorama dos líderes estreantes. Marcelo Martins, que assumiu o comando da Cosan em novembro de 2024, recebeu a tarefa explícita de reorganizar e enxugar a empresa após a crise de endividamento que resultou em um aporte de capital de R$ 10 bilhões naquele ano. Já Marcelo Noronha, que virou CEO do Bradesco um ano antes, herdou um mandato focado em reestruturar um banco sob pressão pela queda da rentabilidade.

Rossano Marques, na Yduqs, começa sua gestão em um setor marcado pela alta inadimplência e margens apertadas. Por sua vez, Alberto Kuba, da WEG, entra em uma empresa que raramente troca seu CEO, tendo como missão principal manter o ritmo de expansão global em um cenário mais cauteloso.

Segundo o sócio da Flow, se esses novos líderes conseguirem superar esse ciclo desafiador, poderão formar uma das gerações mais preparadas e completas de CEOs, treinados para atuar em um ambiente mais restrito.

“É uma escola rígida, imposta pela conjuntura. No final, o que contará não será apenas quem assumiu, mas quem conseguiu se manter no cargo”, conclui Cavour.

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