MP do agro traz esperanças de recuperação para o Banco do Brasil (BBAS3); haverá virada em 2026?
O principal desafio enfrentado pelo Banco do Brasil (BBAS3) é a inadimplência no setor do agronegócio. Nos últimos meses, entretanto, uma medida provisória apresentou-se como uma possível solução capaz de aliviar as provisões para devedores duvidosos e reforçar o balanço financeiro do banco estatal.
Trata-se da Medida Provisória 1.314/25, que cria condições facilitadas para que produtores rurais possam negociar e amortizar suas dívidas. A iniciativa prevê a liberação de R$ 12 bilhões para que as instituições financeiras possam refinanciar créditos rurais, estendendo o prazo de pagamento de até um ano para até nove anos, além de oferecer um ano de carência para os produtores. Para especialistas, essa MP representa um significativo alívio em relação à inadimplência prevista no agronegócio, embora não elimine totalmente os riscos para a recuperação do Banco do Brasil.
Impactos positivos na inadimplência e garantias reforçadas
Conforme o analista Pedro Ávila, da Varos Research, ao encerramento do terceiro trimestre de 2025, a carteira de crédito agro do BB com atraso superior a 90 dias alcançava R$ 19,3 bilhões. O banco estabeleceu o objetivo de renegociar entre R$ 24 bilhões e R$ 28 bilhões, o que sugere que a MP 1314 pode não apenas conter a inadimplência futura, mas também ter efeito positivo sobre a inadimplência atual do agronegócio.
Além disso, essa melhoria pode repercutir na carteira de crédito para pessoa física, uma vez que muitos agricultores inadimplentes também enfrentam dificuldades em suas contas pessoais. A MP pode, portanto, contribuir para o relaxamento da inadimplência nesta outra carteira.
O Banco do Brasil também tem adotado a alienação fiduciária — garantia na qual o produtor perde a propriedade da terra caso não honre o crédito — para fortalecer sua segurança financeira. Esse ajuste tende a controlar de forma mais efetiva a inadimplência no futuro.
Expectativas para resultados e rentabilidade
Segundo Milton Rabelo, analista na VG Research, os efeitos da MP ainda não foram refletidos nos resultados do terceiro trimestre de 2025, pois a medida foi lançada em setembro e implementada no final de outubro, tornando-se efetiva apenas a partir do quarto trimestre do ano, com impacto mais evidente em 2026. Ele ressalta, contudo, que essa iniciativa é um paliativo importante, mas não capaz de resolver de forma definitiva a crise estruturante do agronegócio, que sofreu endividamento após anos prósperos, agravado pela queda dos preços das commodities no mercado internacional.
Programa BB Regulariza acelera renegociações
Com o programa BB Regulariza, o banco avançou rapidamente no processo de renegociação. Em novembro, aproximadamente R$ 6 bilhões em créditos tinham sido renegociados, e outros R$ 11 bilhões estavam sob análise, tendo contato sido feito com 75% dos clientes-alvo. Pedro Ávila avalia positivamente esse avanço, notando que o banco conseguiu acelerar esse processo, inicialmente previsto para dois meses, em apenas 24 dias.
Além disso, o Banco do Brasil reduziu a concessão de financiamentos rurais para a safra 2025/2026 para R$ 85 bilhões, valor inferior aos R$ 105 bilhões da temporada anterior.
Com o somatório dos benefícios da MP 1314 e a esperada queda nos juros, Ávila projeta que o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do BB pode superar 15% já entre o primeiro e segundo trimestres de 2026, uma melhora considerável em relação aos 8,4% registrados no terceiro trimestre de 2025, abaixo da média histórica de 16%.
O especialista Fernando Marx também acredita numa possível recuperação do ROE para 15% em 2026 e prevê que as provisões feitas em 2025 possam ser revertidas, impulsionando os lucros e possibilitando maiores pagamentos de dividendos.
Porém, Marx destaca que a MP por si só não elimina o problema estrutural do setor rural, que depende ainda de juros mais baixos e preços mais favoráveis das commodities para uma recuperação definitiva.
Riscos adicionais à vista
Além do agronegócio, os analistas indicam a necessidade de atenção ao aumento da inadimplência nas carteiras de pessoa física e jurídica do banco, já que a piora na economia pode afetar o cumprimento das obrigações nessas áreas.
Outro ponto de preocupação para 2026 é a possibilidade de interferências políticas, principalmente no ano eleitoral, que podem levar o banco a ser mais flexível na concessão de crédito, algo ainda não refletido no preço das ações BBAS3.
Perspectivas para dividendos e investimentos
A MP 1314 gera otimismo quanto à lucratividade futura e aos dividendos do Banco do Brasil em 2026, mas os especialistas orientam cautela. Fernando Marx acredita que o payout — parcela do lucro distribuída aos acionistas — pode chegar a cerca de 40% já no próximo ano, embora a gestão do banco tenha sinalizado uma taxa de 30%, com possibilidade de pagamentos extraordinários em 2027. Se esse cenário se concretizar, o dividend yield do BB poderia subir de 6% para 8%.
Pedro Ávila projeta um dividend yield de 4,6% para 2026, podendo alcançar até 7% caso a MP tenha sucesso. Ele recomenda a compra da ação focando em valorização, com preço-alvo em R$ 25.
Milton Rabelo visualiza desafios de curto prazo e dividendos menores em 2026, mas considera que emergências como essa representam oportunidades para renda passiva futura, estimando dividend yield de 5,5% e preço de compra até R$ 23,80.
Já Renato Reis, da Blue3 Research, destaca prudência, pois acredita que ainda é cedo para tentar identificar o fundo do BB, principalmente com um ROE de 8%, e sugere olhar para outras instituições financeiras com fundamentos mais sólidos.
Efeitos da MP para outros bancos
Além do Banco do Brasil, outros bancos também podem ser impactados pela MP 1314, embora de forma menos intensa. O Banco da Amazônia e o Banco ABC, com maior atuação em crédito rural e para empresas, respectivamente, podem sentir efeitos positivos. Bradesco também é citado como beneficiário, já que estes bancos operam com garantias em terras, estimulando os produtores a honrar seus compromissos.



