Nova disputa no setor de delivery: Retorno da 99Food, estreia da Keeta e desafios para iFood e Rappi
O mercado brasileiro de delivery, que já movimenta mais de R$ 100 bilhões ao ano, está entrando em uma nova fase de competição acirrada. A 99Food anunciou sua volta à cidade de São Paulo com um aporte de R$ 1 bilhão e a Keeta, braço internacional da chinesa Meituan, promete investir R$ 5,6 bilhões. Essas movimentações reordenam o cenário dominado pelo iFood e desafiado pelo Rappi.
Essas empresas planejam oferecer vantagens como taxas menores para restaurantes, bonificações extras para entregadores e promoções ampliadas para os consumidores. Contudo, cresce também o receio de uma nova “guerra de subsídios”, estratégia que demonstrou ineficácia no passado.
99Food reativa operação com modelo inovador
Em abril, a 99Food anunciou que relançaria sua plataforma de entrega de alimentos, suspensa desde 2023, apostando em um modelo que elimina mensalidades e comissões para os restaurantes, permitindo preços próximos aos praticados no balcão. A companhia destaca que está devolvendo o controle dos preços aos restaurantes.
Felipe Criniti, CEO da operação brasileira, destaca que existem cerca de 300 milhões de pedidos mensais no país, sendo metade ainda fora das plataformas digitais, e que a digitalização é inevitável.
Além disso, a 99Food oferece incentivos para os entregadores, que podem atingir ganhos de até R$ 250 ao dia, e projeta a criação de pontos de apoio em diversas regiões do Brasil. A empresa conta com um ativo estratégico considerável, incluindo 700 mil motociclistas parceiros, 55 milhões de usuários e atuação em 3.300 cidades.
iFood mantém liderança com foco em diferenciais estruturais
Apesar dessa ofensiva, o iFood segue como líder consolidado, comandando mais de 80% do mercado. Diego Barreto, CEO do iFood, ressalta que a empresa não pretende adotar táticas de curto prazo focadas em preços subsidiados, pois acredita que o sucesso está em construir vantagens competitivas duradouras.
Dentre seus diferenciais, está o iFood Hits, que oferece planos de refeições frequentes com preços mais acessíveis; o delivery turbo, que garante entregas em até 20 minutos; e a integração com o WhatsApp, que gera atualmente 25 milhões de pedidos por mês. Barreto explica que prefere direcionar os investimentos para fintechs, crédito para restaurantes e soluções logísticas mais eficientes.
Keeta desembarca com alta tecnologia e Rappi investe em diversificação
A Keeta, controlada pela Meituan — líder mundial em delivery — planeja uma atuação robusta no Brasil. A empresa pretende contar com 100 mil entregadores parceiros até 2030, abrir um centro de suporte no Nordeste e expandir sua rede de restaurantes.
Segundo Tony Qiu, CEO da Keeta, a tecnologia é um diferencial fundamental. Ele afirmou que no mercado chinês o sistema processa bilhões de rotas por hora e a ideia é trazer essa inteligência para o Brasil, tendo já experimentado soluções inovadoras em outros mercados, como o “Meal for One” em Hong Kong e o “Gathering” na Arábia Saudita.
Essa movimentação estimula o Rappi, startup colombiana que detém cerca de 9% do mercado brasileiro de delivery, a reagir. A empresa lançou promoções agressivas, como taxa zero para restaurantes, que em maio resultou em aumento de 35% no número de estabelecimentos e quase 50% na quantidade de novos usuários na área de comida.
No entanto, o Rappi quer se destacar além do delivery de alimentos tradicional. Felipe Criniti, CEO no Brasil, explica que a multiverticalidade — incluindo farmácias, supermercados, pet shops e entregas turbo — já representa mais da metade do negócio.
Criniti reforça a perspectiva de crescimento, destacando que metade dos 300 milhões de pedidos mensais no Brasil ainda acontece fora do ambiente digital, mostrando um espaço enorme a ser conquistado.
Recentemente, a Rappi anunciou um aporte de US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 543 milhões) em parceria com a Kirkoswald Private Credit e o Banco Santander. Além disso, fontes indicam que a Amazon investiu US$ 25 milhões (cerca de R$ 135,7 milhões) com opção de adquirir até 12% da startup, mas a empresa colombiana não confirmou essa informação.
Benefícios imediatos e riscos da disputa acirrada
A entrada da 99Food e da Keeta no mercado traz benefícios imediatos para consumidores, restaurantes e entregadores, com descontos, taxas reduzidas e incentivos que tornam a oferta mais atraente. Contudo, isso pode induzir uma nova “guerra de subsídios”, que já foi responsável por prejuízos bilionários tanto no Brasil como em outros países.
Uma fonte do setor compara esse cenário a “usar anabolizantes na academia”, que promove resultados rápidos, mas pode trazer consequências graves a longo prazo.
Diante da movimentação em um setor que envolve cerca de R$ 100 bilhões anuais, com mais de 1,4 milhão de restaurantes e milhões de entregadores, o Brasil tornou-se palco para essas batalhas. A questão central é identificar quais empresas conseguirão sustentar sua presença e quais poderão sucumbir, como já ocorreu com players como Uber Eats e Glovo no passado.



