O BTG Além Do Banco: A Holding De André Esteves Como Grupo Empresarial

O BTG Além Do Banco: A Holding De André Esteves Como Grupo Empresarial

O BTG além do banco: a transformação da holding de André Esteves em um dos maiores grupos empresariais do Brasil

Sob a liderança do banqueiro carioca André Esteves, atualmente chairman e sócio sênior do BTG Pactual, a instituição consolidou-se como o maior banco de investimentos do país. Além disso, a holding composta pelos seus 410 sócios — chamada de “partnership” — evoluiu ao longo dos últimos dez anos para se tornar uma das organizações empresariais de maior influência no Brasil, superando desafios e expandindo sua atuação muito além do setor financeiro.

O portfólio da holding abrange setores estratégicos da economia nacional, incluindo energia, telecomunicações, logística, varejo e educação. Essa diversidade e magnitude projetam a holding em um patamar que rivaliza até mesmo com tradicionais conglomerados empresariais e holdings financeiras como Itaúsa e Bradespar.

Mesmo com histórias marcadas por grandes êxitos, o BTG e seus sócios também vivenciaram episódios de dificuldades. Exemplos notórios foram a tentativa fracassada de unificar o varejo farmacêutico por meio da BR Pharma, que acabou em falência, e a desestruturação da Sete Brasil, iniciativa destinada a atender o pré-sal que foi arrastada para um escândalo de corrupção na Petrobras, culminando na prisão de Esteves em 2015. Naquele momento crítico, o grupo de sócios assumiu o controle dos negócios para preservar a sobrevivência do banco. Posteriormente, essas ações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A estratégia de aquisição de participações pelos sócios do BTG segue um formato particular: os fundos geridos pelo banco e seus clientes institucionais têm prioridade nas operações de investimento. Após essa alocação, participa o partnership. Isso faz com que, frequentemente, os investimentos sejam compartilhados entre a holding dos sócios e os veículos do banco, o que dificulta a distinção entre o patrimônio exclusivo do partnership e os fundos administrados pela instituição. É importante destacar que o BTG não utiliza seu capital próprio diretamente nessas operações.

Apesar dessas especificidades, a abrangência dos negócios é expressiva, com presença em segmentos vitais da economia brasileira. Os investimentos são liderados pela holding dos sócios, que administra também os dividendos gerados.

Origem e estrutura do partnership

A estrutura definitiva do partnership foi estabelecida em 2009, quando André Esteves, junto com outros executivos, recompra o Pactual do banco suíço UBS por US$ 2,5 bilhões. Com essa aquisição, o modelo de gestão rigoroso e empreendedor do Pactual pré-venda aos suíços foi retomado.

Uma fonte próxima relembra que o partnership não foi inicialmente concebido para se tornar um grupo empresarial diversificado, mas que, ao longo do tempo, seu caráter evoluiu para isso. Em sua essência, trata-se de um coletivo de investidores com perfil empreendedor, predominantemente banqueiros.

Em 2024, o BTG distribuiu quase R$ 10 bilhões em Juros sobre Capital Próprio (JCP), dos quais aproximadamente R$ 6,9 bilhões foram direcionados ao partnership. Parte desse dinheiro é repassada aos sócios na proporção de sua participação, enquanto outra parte permanece investida na holding para financiar novas aquisições e projetos.

Governança e funcionamento

A gestão da holding é dividida em três níveis decisórios. O primeiro é o comitê principal do partnership, composto pelos sete principais acionistas que definem estratégia e alocação de capital. Os líderes desse núcleo são: André Esteves; Roberto Sallouti (CEO do BTG); Renato Santos (responsável pela tesouraria); Guilherme Paes (banco de investimento); Renato Cohn (diretor financeiro); Rogério Pessoa (gestão de patrimônio); e Rodrigo Góes (responsável pelas operações de sales & trading).

Acima deste, existe o comitê ampliado, formado por cerca de 12 sócios seniores, líderes das principais divisões do grupo, que apresentam propostas ao núcleo central. Entre eles estão nomes importantes como Antônio “Totó” Porto (institucional), Huw Jenkins (vice-chairman), Renato Mazzola (private equity), João Marcello Dantas (controladoria), Alexandre Camara (special situations), Marcelo Flora (varejo) e Rubens Henriques (gestão de ativos).

Por fim, há comitês temáticos que discutem assuntos específicos como crédito, riscos e modelagem dos investimentos, constituindo a base operacional que permite ao BTG executar investimentos bilionários com agilidade e eficiência.

Exemplo recente: investimento na Cosan

Um caso emblemático do modus operandi do partnership foi a entrada na Cosan, que envolveu um investimento total de R$ 4,5 bilhões. Essa operação fez o grupo de sócios do BTG o maior acionista individual da empresa de Rubens Ometto, que enfrentava dificuldades financeiras geradas pela Raízen e por uma aposta mal alinhada na Vale.

Na estrutura da operação, inicialmente o BTG ofereceu a oportunidade de investimento para seus fundos públicos, que possuem prioridade. Por exemplo, um fundo de infraestrutura alocou R$ 600 milhões, respeitando o limite máximo de 25% de exposição do patrimônio do fundo. Em seguida, outros R$ 400 milhões foram captados por meio de coinvestimentos com clientes institucionais e de alta renda.

Após essa fase, o partnership entrou com os R$ 3,5 bilhões restantes, ficando com a maior parte do capital investido. Essa dinâmica assegura que o partnership não compete diretamente com clientes, mas complementa o investimento, muitas vezes com a maior fatia do capital.

Luiz Cezar Fernandes, fundador do Pactual e testemunha das duas eras do banco, aponta que o diferencial do BTG está em investir em empresas que outros bancos comerciais evitam, principalmente aquelas em situações desafiadoras.

No caso da Cosan, o grupo enxergou potencial de alto retorno ao atuar na reestruturação da dívida e em setores estratégicos – ferrovias, combustíveis e terras agrícolas – onde a capacidade operacional é crucial. A estratégia descrita é oportunista no melhor sentido: investir no momento mais difícil para gerar valor posteriormente.

Com a expansão do partnership para a economia real, cresceu também a influência de André Esteves nas negociações políticas e econômicas em Brasília. Enquanto um banco que estrutura financiamentos para grandes empresas já é relevante, um banco cujos sócios possuem participações significativas em setores cruciais que impactam milhares de empregos e preços regulados exerce uma força muito maior.

Erros e aprendizados

O caminho que levou André Esteves e os sócios do BTG a se tornarem atores empresariais poderosos não foi linear nem isento de dificuldades. Uma das primeiras apostas do grupo, a BR Pharma, criada em 2009 para consolidar redes de farmácias regionais, enfrentou graves dificuldades operacionais e financeiras, culminando em sua falência em 2019, com dívidas superiores a R$ 1 bilhão.

O maior revés, porém, foi a participação na Sete Brasil, negócio avaliado em US$ 1 bilhão em 2012 para construir sondas petrolíferas para explorar o pré-sal. O projeto naufragou em meio a denúncias e investigações da Lava Jato, atraindo sérios problemas para o BTG e resultando na prisão preventiva de André Esteves em 2015, permanecendo um mês detido.

Posteriormente, o STF arquivou e suspendeu processos relacionados, mas o episódio exigiu mudanças profundas na estrutura interna do banco e uma nova abordagem de avaliação de riscos nas operações. O banco manteve sua estratégia de investir onde outros têm receio, porém passou a atuar com mais cautela, fortalecendo o núcleo de sócios além de Esteves.

Investimentos que deram certo

Entre as operações bem-sucedidas, destaca-se a Eneva, originada da MPX Energia, empresa do grupo Eike Batista. Em 2014, a Eneva entrou em recuperação judicial com dívida de R$ 2,3 bilhões. No ano seguinte, os credores converteram parte da dívida em ações, elevando a participação do BTG. Atualmente, o banco e o partnership juntos detêm 48,06% da Eneva, configurando-se como os maiores acionistas de uma das maiores operadoras de usinas termelétricas brasileiras, rivalizando com a Âmbar Energia.

Outros investimentos promissores incluem a V.tal, uma rede neutra de fibra óptica, e a Nio, provedora de internet, ambas originadas da recuperação judicial da Oi. A V.tal foi adquirida em consórcio por R$ 12,9 bilhões, assegurando 57,9% das ações, enquanto a Nio custou em torno de R$ 5,8 bilhões.

Além disso, o BTG mantém negócios menos visíveis, mas relevantes, como a Engelhart, trading de commodities nascida dentro da instituição, e o Timberland Investment Group (TIG), responsável pela aquisição e gestão de florestas para produção de madeira e projetos ambientais relacionados ao carbono.

Mais recentemente, os sócios adquiriram ativos de Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, que foi liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central. Por R$ 1,5 bilhão, o grupo tornou-se acionista significativo da Veste, Metalfrio e Light, além de adquirir o prestigiado hotel Fasano Itaim em São Paulo.

Visão dos donos

A ideia de ir além do modelo tradicional de banco de investimentos tem raízes ainda no Pactual original dos anos 1980. Naquele período, Luiz Cezar Fernandes defendia que o banco deveria aconselhar, financiar e, quando necessário, se tornar sócio dos clientes para agregar valor.

André Esteves, que ingressou no Pactual como estagiário em 1989 e permanece até hoje como uma das principais lideranças, foi quem concretizou essa visão em escala ainda maior.

Recentemente, uma imagem de Esteves lendo um jornal sozinho no escritório do BTG durante um fim de semana viralizou nas redes sociais, mostrando sua dedicação singular. Pessoas próximas afirmam que essa intensidade é rotina para ele.

Esteves costuma afirmar em entrevistas que a construção de algo duradouro depende de cercar-se de profissionais talentosos, repetindo frequentemente: “Aqui eu contrato donos, não funcionários”. Isso se traduz em um ambiente onde os colaboradores agem como verdadeiros proprietários do capital investido.

Questionado, o BTG preferiu não se manifestar.

Fonte

Rolar para cima