Renato de Albuquerque: o engenheiro que criou Alphaville e revolucionou o urbanismo
Com um olhar voltado para sustentabilidade e confiança, Renato de Albuquerque transformou o conceito de bairros planejados no Brasil. Aos 97 anos, ele permanece ativo, liderando projetos por meio da Artesano Urbanismo e preservando seu legado através de um museu dedicado à sua coleção em Sintra, Portugal.
Convidado para uma entrevista em sua residência em Alphaville 1, localizado na Grande São Paulo, Renato compartilhou detalhes de sua trajetória. Além de sua paixão pela arte, especialmente pela porcelana chinesa, ele mantém um papel fundamental como conselheiro empresarial, demonstrando que a aposentadoria está longe de seu vocabulário.
Origens do Alphaville
Na década de 1970, São Paulo passava por um crescimento desordenado, sem limites ambientais ou zoneamento adequado, o que permitia, por exemplo, fábricas em áreas próximas a hospitais. Renato, junto ao engenheiro Yojiro Takaoka, buscava implantar um novo modelo urbano baseado em regras claras e harmonia entre moradia, trabalho e meio ambiente.
Naquela época, os terrenos distantes do centro tinham pouca atratividade, mas o diferencial do projeto Alphaville residia na segurança ambiental e no controle do uso do solo, garantindo que empreendimentos poluentes não surgissem ao lado das residências. O interesse inicial veio de empresas como Hewlett Packard, atraídas pelo ambiente livre de incômodos industriais, que depois estimularam a chegada de moradores interessados em proximidade do local de trabalho. A prefeitura de Barueri também apoiou fortemente o projeto, vendo nele uma oportunidade para melhorar a arrecadação e infraestrutura do município.
Origem do nome e expansão
O nome “Alphaville” foi sugerido pelo arquiteto José de Almeida Pinto, entusiasta de cinema e fã do filme homônimo de Jean-Luc Godard. A escolha do nome priorizou facilidade de pronúncia tanto para brasileiros quanto para estrangeiros, mesmo sendo um termo considerado difícil para escrita.
Durante os anos 1990, a empresa Alphaville Urbanismo expandiu seus projetos pelo Brasil, especialmente no Nordeste. Após o falecimento de Takaoka em 1994, Renato seguiu investindo em Portugal, retomando o foco no Brasil com o sócio Marcelo Willer em 2018, ao fundar a Artesano Urbanismo, após um período de não competição com a Gafisa, empresa à qual venderam sua incorporadora em 2013 por aproximadamente R$ 600 milhões.
Visão sobre o mercado imobiliário e desafios financeiros
Renato ressalta que a elevada sazonalidade e a alta alavancagem do setor imobiliário dificultam a abertura de capital, o que, para ele, não é uma boa opção. Argumenta que, diante dos altos juros bancários, manter a margem líquida suficiente para viabilizar os projetos é um desafio constante. Segundo ele, o juro atual é muito superior ao ideal para garantir lucros condizentes e sustentáveis.
Depois da venda à Gafisa, retornou ao mercado com a Artesano, que prioriza empreendimentos menores, com foco em qualidade e sustentabilidade, tendo lançado loteamentos em cidades como Campinas, Londrina e Ribeirão Preto. Apesar da burocracia aumentada nos processos, que prolongaram o licenciamento ambiental de seis meses para sete anos no lançamento do Cantalupe, Renato enfatiza que a preservação ambiental é imprescindível, embora os tempos atuais tornem os trâmites excessivamente demorados.
Confiança e relações duradouras
Renato é conhecido por sua postura conservadora na construção de relacionamentos, mantendo laços profissionais e pessoais por décadas. Sua secretária atua com ele há 40 anos e seu motorista há 55 anos, expressando que a confiança é o principal ativo nas negociações e na escolha de parceiros, preferindo contatos presenciais em vez de tecnologias digitais.
Atuação atual e ensinamentos
Embora não exerça funções executivas atualmente, Renato participa do conselho da empresa, aconselhando as equipes a não repetir os mesmos erros que ele cometeu no passado. Entre os aprendizados, destaca a importância de vender primeiro os melhores lotes para conquistar os clientes iniciais e manter a satisfação do parceiro comprador, valorizando sempre o boca a boca positivo no mercado imobiliário.
A paixão pela arte e o museu em Sintra
A relação de Renato com a arte começou com porcelanas, especialmente as chinesas, colecionando cerca de 2.500 peças, tornando-se um dos maiores acervos do mundo. A coleção foi exibida em locais prestigiados, como o Museu Metropolitan em Nova York, e atualmente está disponível em seu museu em Sintra, que recebe cerca de 2 mil visitantes mensais. Além das porcelanas, o acervo inclui mobiliário e objetos de marfim.



