Por Que 5% Da Braskem É Essencial Para A Recuperação Judicial Da Novonor

Por Que 5% Da Braskem É Essencial Para A Recuperação Judicial Da Novonor

A Persistência da Odebrecht: Por que Manter 5% da Braskem é Crucial para a Recuperação da Novonor

No complexo cenário envolvendo o futuro da Braskem, a Novonor, antiga Odebrecht, surge como um ator fundamental, apesar de manter seu controle quase invisível. A empresa luta para preservar uma participação de aproximadamente 5% na petroquímica, uma parcela pequena, porém essencial para viabilizar sua recuperação judicial.

Desde 2019, a Novonor enfrenta o processo de recuperação judicial, e, conforme relatos obtidos, a participação na Braskem é atualmente o único ativo que pode oferecer liquidez suficiente para sustentar sua reestruturação financeira. A crise causada pela Operação Lava Jato impôs severas dificuldades que limitaram o crescimento do grupo, incluindo restrições para atuar em licitações públicas e crédito limitado no mercado financeiro, barrando a participação em grandes projetos.

Em 2024, a empresa registrou um déficit de R$ 16,9 bilhões e acumulava uma dívida consolidada de R$ 110,8 bilhões. Desse montante, aproximadamente R$ 46 bilhões correspondem à dívida corporativa da Braskem, cujo controle formal ainda pertence à holding. Sem essa dívida da Braskem, o passivo da Novonor estaria em torno de R$ 65 bilhões.

A recuperação judicial aprovada em 2020 adotou o modelo de “consolidação substancial”, que unificou dezenas de companhias ligadas ao grupo, mesclando ativos e passivos. Assim, em vez de negociações isoladas, o grupo responde como uma única entidade. O plano prevê o pagamento dos débitos através de debêntures emitidas pela holding, quitadas gradualmente por meio de um mecanismo chamado “caixa para distribuição”, que utiliza o excedente financeiro do grupo para amortizar dívidas ao ultrapassar R$ 398,5 milhões.

Os registros demonstram que esse sistema funcionou somente nos momentos em que a Braskem distribuiu dividendos, ocorridos em 2019, 2021 e 2022, totalizando R$ 2,65 bilhões destinados diretamente aos credores bancários, sem passar pelo caixa da Novonor. Nos demais períodos, o saldo do grupo ficou abaixo do valor mínimo para acionamento do pagamento, o que evidencia que, sem Braskem, o programa de recuperação carece de suporte financeiro.

Entretanto, a Braskem não repassa dividendos desde 2021 devido à sua crise financeira e às obrigações relacionadas a um passivo milionário causado em Alagoas. Apesar disso, manter a participação na petroquímica é estratégico para Novonor, pois essas ações poderão ser usadas como garantia para novas operações ou para obter crédito. As ações estão desvalorizadas, mas podem se valorizar novamente quando o controle da empresa for definido, portanto vender agora eliminaria potenciais ganhos futuros.

Outros Ativos da Novonor

Além da Braskem, a Novonor controla outras empresas, mas nenhuma com dimensão suficiente para sustentar sua recuperação. A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), que simbolizou a expansão global do grupo, voltou a conquistar contratos e encerrou 2024 com uma carteira de obras avaliadas em US$ 3,9 bilhões, distribuídas em 31 projetos, sendo 21 no Brasil e 10 no exterior, incluindo projetos em Angola, Estados Unidos e negociações na Guiana. No entanto, essa retomada não foi suficiente para aliviar o passivo da companhia, que recorreu a uma recuperação judicial própria em junho de 2024, com dívidas que totalizam US$ 4,6 bilhões.

O plano de recuperação aprovado em novembro autorizou a captação de até US$ 150 milhões via financiamento para empresas em recuperação judicial, estruturado pelo BTG Pactual, que tem sido vital como fonte principal de capital de giro para manter fornecedores e garantir a continuidade das obras.

Recentemente, a OEC participou das licitações para dois lotes da Linha 19 do Metrô de São Paulo, com propostas de R$ 5,24 bilhões e R$ 6,7 bilhões, competindo com empresas como Andrade Gutierrez e Power China. A decisão dos processos deve ser anunciada nos próximos meses.

Além disso, o grupo mantém a empresa OR no setor imobiliário, a Nova Infra Invest para concessões em transporte, energia e saneamento, a ICN na área de defesa e a Supervia no Rio de Janeiro.

Embora a Braskem gere recursos diretamente para Novonor, outras subsidiárias tiveram impacto significativo na reestruturação. A Ocyan, empresa de óleo e gás offshore, foi vendida em acordo com o BNDES e credores em abril de 2024, retirando cerca de R$ 1,7 bilhão em passivos e cerca de R$ 7,5 bilhões em dívida bruta consolidada do balanço da Novonor.

Similarmente, a alienação da Atvos, antiga Odebrecht Agroindustrial, implicou uma baixa contábil de R$ 9,5 bilhões em créditos da holding, uma medida estratégica para adequar as dívidas vinculadas ao negócio de bioenergia.

A Atual Direção da Odebrecht

A governança da Novonor sofreu mudanças significativas na última década. Atualmente, o principal representante da família no grupo é Mauricio Odebrecht, irmão mais novo de Marcelo Odebrecht, que presidia a companhia no início da Operação Lava Jato. Marcelo foi preso em 2015 e, desde 2022, está afastado completamente, até mesmo como acionista, após acordo judicial.

Mauricio, com formação em administração e experiência no setor agropecuário, mantém o vínculo familiar com a empresa, mas é descrito como uma pessoa mais moderada e menos emocional que o irmão, sem interferir diretamente no cotidiano da companhia, segundo fontes próximas à Novonor.

A liderança executiva está a cargo do CEO Héctor Núñez, que assumiu em 2022. Núñez possui vasta experiência de mercado, com passagens por grandes empresas como Unilever e Walmart, com a missão de conduzir a reestruturação que atualmente depende fortemente da Braskem.

As Ações da Braskem como Garantia

Oficialmente, a Novonor detém 38,3% do capital total da Braskem, mas essa participação está comprometida com os bancos credores. A perda efetiva do controle das ações ocorreu ao longo da última década, quando, em 2013, uma parte das ações preferenciais foi dada como garantia a grandes bancos como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e BNDES.

Em 2018, o mesmo aconteceu com as ações ordinárias, passando a distribuir dividendos diretamente aos bancos, que receberam os R$ 2,65 bilhões entre 2019 e 2022. Atualmente, a dívida da Novonor garantida pelas ações da Braskem é estimada em R$ 19 bilhões, enquanto a fatia da holding vale cerca de R$ 3 bilhões no mercado, devido à desvalorização da empresa, tornando inviável uma venda nessas condições.

Paralelamente, a Braskem vive um período delicado, reflexo da paralisação gerada pela crise da controladora. No segundo trimestre de 2025, a companhia apresentou lucro operacional recorrente (Ebitda) de US$ 74 milhões, uma redução de 77% em relação ao mesmo período do ano anterior, e registrou prejuízo de R$ 268 milhões, com aumentos significativos na relação dívida líquida/Ebitda.

A situação em Alagoas continua sendo um fardo significativo, com provisões que totalizam R$ 4,7 bilhões até junho de 2025, mesmo após desembolsos de quase R$ 900 milhões no semestre. Ao todo, a Braskem já comprometeu cerca de R$ 18 bilhões para lidar com a crise decorrente da sua planta de mineração no estado.

A Disputa pelo Controle da Braskem

Dentro deste contexto delicado, a corrida pelo controle da Braskem intensificou-se nos últimos meses. Em agosto de 2025, expirou sem proposta vinculante o acordo de exclusividade com Nelson Tanure. Logo em seguida, os cinco bancos credores assinaram com a gestora IG4 um contrato de exclusividade de 90 dias para assumir os 38,3% da Novonor na Braskem, por meio de um fundo estruturado pela gestora.

A Petrobras, sócia majoritária ao lado da Novonor, foi comunicada e passou a buscar um papel mais ativo na administração da petroquímica, enquanto a Novonor tenta preservar uma participação residual entre 3% e 5% para sustentar sua recuperação judicial.

A proposta da IG4 é considerada pelos bancos uma alternativa mais adequada, pois evita que eles vendam suas dívidas com deságio imediato. A ideia é transferir os créditos para um fundo de investimentos, onde os próprios credores manteriam cotas, preservando o direito econômico das ações. Se a gestão melhorar, com foco na governança, entrada no Novo Mercado e valorização, esses créditos podem ser convertidos em ações e vendidas futuramente em condições melhores. A IG4 atua como facilitadora de um processo de transição visando evitar perdas imediatas dos credores.

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, tem declarado que só vê possibilidade de aporte de capital na Braskem com a redução da participação da Novonor e a entrada de um novo acionista, considerando a permanência da antiga Odebrecht incompatível com os novos investimentos necessários. A executiva reforça a demanda por maior atuação da Petrobras na governança, destacando que a estatal detém 47% das ações ordinárias e poder de veto em decisões importantes, como venda de ativos no exterior, e clamando por maior disciplina estratégica.

A Novonor não concedeu entrevistas para este levantamento.

Fonte

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