Por Que Bitcoin Está Crescendo nos Balanços Corporativos

Por Que Bitcoin Está Crescendo nos Balanços Corporativos

Por Que o Bitcoin Está Ganhando Mais Espaço nos Balanços Corporativos?

Em 2025, a adoção institucional do bitcoin como reserva de valor acelerou significativamente. De acordo com um levantamento realizado pela Ripio, uma das principais plataformas de criptoativos na América Latina, o total de empresas que passaram a acumular bitcoins cresceu de 64 em 2024 para pelo menos 175 em 2025, quase triplicando nesse período.

Esse crescimento foi impulsionado por fatores como a popularização dos ETFs (Exchange Traded Funds) de bitcoin, que acompanham o preço do ativo e são negociados em bolsas de valores, e também pela estratégia das companhias de diversificar seus recursos financeiros fora do sistema bancário tradicional, utilizando criptomoedas como o BTC.

No caso brasileiro, a fintech Méliuz, sediada em Belo Horizonte, destacou-se em março de 2025 ao anunciar que seu Conselho de Administração aprovou destinar 10% de seu caixa total para investimento em bitcoin. Essa movimentação segue exemplos de grandes empresas norte-americanas como a Strategy (anteriormente MicroStrategy), especializada em software empresarial, e a Semler Scientific, do setor de detecção precoce de doenças crônicas. Empresas regionais como o Mercado Pago também inovaram ao lançar a meli dólar (MUSD), uma stablecoin atrelada ao dólar americano.

Embora o número de 175 empresas seja pequeno em comparação com o vasto universo de companhias existentes na América Latina e Estados Unidos, a tendência indica uma crescente adoção do bitcoin como instrumento de diversificação patrimonial corporativa. Para muitos, o ativo digital funciona como proteção contra a inflação e um abrigo em momentos de instabilidade global.

Defensores do bitcoin o veem como uma alternativa ao ouro, devido à sua natureza digital resistente e oferta limitada. Vale lembrar que o preço do ouro cresceu mais de 50% em 2025, refletindo a busca por segurança diante de incertezas econômicas.

Estratégia da MicroStrategy como Referência

O estudo da Ripio utilizou dados da blockchain, informações on-chain e relatórios de agregadores como a Chainalysis para mostrar que os ETFs de bitcoin tiveram um desempenho notável em 2025, atraindo mais de US$ 60 bilhões (aproximadamente R$ 325,31 bilhões) e incorporando 1,3 milhão de bitcoins em apenas oito meses.

Segundo os especialistas da Ripio, a integração do bitcoin nas tesourarias corporativas oferece uma dupla vantagem: além da potencial valorização do ativo, essa adoção pode impulsionar a valorização das ações dessas empresas. Por exemplo, a MicroStrategy obteve uma valorização de seus ativos de 1.230% entre 2023 e 2025, enquanto o bitcoin cresceu 437% no mesmo período.

A MicroStrategy implementou o método “comprar, manter e repetir”, financiando suas aquisições via emissões de títulos, servindo de modelo para outras companhias. Apesar do histórico limitado da região quanto à adoção institucional de criptomoedas, o Brasil lidera a América Latina nesse movimento.

Em 2021, o Mercado Livre já havia aberto caminho ao inserir 570 bitcoins e 3 mil ethereum em seu balanço corporativo. Já a Méliuz, com sua compra inicial de bitcoins, observou que suas ações valorizaram 35% no mercado.

Entrevista com Guido Messi, da Ripio Business

— Por que houve o aumento expressivo de empresas que adotam o bitcoin como reserva corporativa, de 64 para 175 em apenas um ano?
Guido Messi destaca que o ambiente regulatório e a aceitação das criptomoedas têm avançado rapidamente. A gestão do ex-presidente Trump nos EUA favoreceu a inovação tecnológica, impulsionando a criação de produtos financeiros como os ETFs, que fortalecem o mercado cripto. Companhias inovadoras passaram a enxergar o bitcoin como um ativo de reserva, por sua resistência a manipulações e ausência de base para derivativos.

Empresas como MicroStrategy, MetaLabs e 21st adotaram essa prática com coragem, e seus resultados motivam outras companhias a seguirem o mesmo caminho.

— Por que o mercado reage bem à divulgação de empresas que passam a usar bitcoin?
A decisão de incluir bitcoins em suas reservas aumenta a expectativa futura de valor da empresa, gerando sinais positivos para investidores. O bitcoin traz uma previsão razoável de manter seu valor e até se valorizar ao longo do tempo, o que transforma a percepção do mercado, comparável a uma petroleira que descobre um grande campo de petróleo.

— O Brasil pode se destacar na adoção corporativa do bitcoin como o Mercado Livre e a Méliuz?
Guido afirma que o Brasil já é um dos mercados mais sofisticados na América Latina e está entre os 10 maiores do mundo nesse sentido. O país lançou o primeiro ETF de bitcoin via Hashdex antes mesmo dos EUA considerarem esse produto. Recentemente, a empresa Orange BTC listou-se na B3 com um estoque de bitcoin.

— Quais riscos as empresas enfrentam ao decidir investir parte das reservas em bitcoin?
A volatilidade permanece como o principal risco. É importante que a visão seja de longo prazo — cinco, dez ou vinte anos — e que as companhias avaliem seus bitcoins em unidades do ativo e não em valores correntes em reais ou dólares. Um desafio também é o conhecimento limitado dos executivos sobre o bitcoin, tornando essencial o estudo prévio antes da decisão.

— Como a regulação na América Latina poderia estimular a utilização empresarial das criptomoedas?
A regulamentação que transforme o bitcoin em uma moeda formal poderia facilitar suas operações, eliminando a necessidade de conversões entre moedas ou sistemas distintos. Isso também reduziria custos e tornaria o bitcoin mais funcional para pagamentos e recebimentos corporativos.

— O bitcoin está se firmando como o “ouro digital” no meio corporativo?
De fato, o bitcoin está se tornando uma forma digital de dinheiro. Muitas empresas optam por manter bitcoins via ETFs, que são regulamentados, baratos, líquidos e fáceis de custodiar. Contudo, o mercado de bitcoin ainda é apenas um décimo do mercado do ouro, e a indústria considera que ainda está nos primeiros estágios dessa jornada.

Fonte

Rolar para cima