Razões pelas quais o Brasil não deve retomar o grau de investimento tão rapidamente
Durante um evento realizado na manhã de terça-feira, 9 de setembro de 2025, Shelly Shetty, diretora da agência Fitch para as Américas e Ásia, declarou que o país dificilmente voltará a alcançar o grau de investimento no curto prazo.
Alcançar o grau de investimento pelas principais agências de risco globais — Moody’s, Fitch e S&P — é considerado um marco importante para qualquer nação. Esse selo funciona como uma chancela que facilita o acesso ao crédito internacional e atrai investimentos estrangeiros, elementos essenciais para o crescimento econômico.
Essencialmente, ter essa classificação indica que os investidores percebem o país como alguém com baixo risco de inadimplência em seus títulos soberanos e como um ambiente propício para o crescimento de diversos setores empresariais.
No passado recente, entre 2008 e 2009, o Brasil conseguiu se inserir nesse seleto grupo, atraindo a atenção dos investidores internacionais. Entretanto, a crise econômica durante o governo Dilma Rousseff abalou a confiança de investidores, levando ao rebaixamento do rating pelas principais agências.
Como uma das maiores economias emergentes, o Brasil nunca perdeu completamente o interesse dos capitais estrangeiros, que foram determinantes para os sucessivos recordes da bolsa em 2025 e para o elevado volume de Investimento Estrangeiro Direto (IED). Conforme informações da OCDE, o país ocupa a segunda posição mundial em captação de IED, atrás apenas dos Estados Unidos. Mesmo assim, esse montante ainda está abaixo do potencial desejado, tanto pelo governo quanto pelo setor privado.
A retomada do grau de investimento é uma meta explícita da atual administração, mas dificilmente será concretizada antes das eleições presidenciais previstas para o próximo ano. No evento referido, Shelly Shetty destacou que a maior barreira para essa conquista é o aumento da dívida pública e o desaquecimento da economia, problemas que têm preocupado os investidores locais desde a pandemia.
Desafios para alcançar o grau de investimento
Atualmente, o Brasil está a dois níveis do grau de investimento tanto na avaliação da S&P quanto da Fitch, mantendo uma nota BB estável em ambas. Já na Moody’s, o país está a um degrau, com a classificação Ba1 estável, após o rebaixamento ocorrido em maio.
Em junho deste ano, a Fitch reiterou a perspectiva estável para o Brasil. Segundo Shetty, a nota atual reflete os pontos fortes e fracos do país: uma economia robusta e uma atuação ágil do Banco Central e do Tesouro diante de condições adversas, porém pesam o alto nível da dívida pública.
Ao comparar o Brasil atual com o período em que possuía grau de investimento, é possível notar que a projeção de crescimento econômico era maior — próxima de 4% —, enquanto hoje a previsão para 2025 está em torno de 2%. Além disso, existe uma visão pessimista quanto à manutenção ou agravamento do déficit fiscal e da relação dívida/PIB nos próximos anos.
Para Shetty, o maior ponto frágil do perfil de crédito brasileiro é a situação fiscal, que já é conhecida e deve continuar sendo um desafio nos próximos anos. Atualmente, o país apresenta um déficit nominal de 8%, valor superior à média de 3% observada em países com rating BB.
No entanto, a diretora destaca que, em comparação a outras economias emergentes, esse índice não é tão elevado. O problema verdadeiro surge da combinação do aumento da dívida e a alta taxa de juros, que neste momento se encontra em torno de 15% ao ano.
Em relatório recente divulgado em agosto, a Moody’s ressaltou que o Brasil tem demonstrado resiliência, mesmo diante de desafios fiscais acumulados e inflação elevada. De toda forma, esses problemas fiscais, que provavelmente só serão resolvidos após as eleições de 2026, continuarão influenciando negativamente a avaliação do país, especialmente em um cenário macroeconômico incerto e volátil.



