Presidente da Volkswagen destaca o sucesso do Tera e os desafios da eletrificação no Brasil
Em entrevista exclusiva, Ciro Possobom, presidente da Volkswagen do Brasil, apontou que o preço é um fator crucial que tem limitado, por ora, a oferta de veículos híbridos e elétricos no país. Ele ressaltou que a redução das taxas de juros e uma maior flexibilidade nas normas regulatórias poderiam impulsionar o mercado automotivo como um todo, facilitando a redução dos preços para os consumidores brasileiros.
A Volkswagen experimentou uma retomada positiva, registrando um aumento de 18% nas vendas na América Latina, impulsionada especialmente pelo lançamento do Volkswagen Tera. Desenvolvido pela divisão brasileira da empresa e introduzido ao mercado em meados de 2025, o Tera já se consolidou como o SUV mais vendido no Brasil, com um volume total de 60 mil unidades comercializadas, incluindo o mercado interno e exportações para países vizinhos.
Durante a entrevista, Possobom evitou chamar o Tera de símbolo da sua gestão, que já dura seis anos, mas destacou o sucesso do modelo, citando que o estoque de três meses da produção foi esgotado em menos de uma hora no lançamento, o que demonstra a excelente recepção do público.
O investimento total da Volkswagen na América Latina está estimado em R$ 20 bilhões, com o Tera representando o maior acerto comercial. No entanto, boa parte desse investimento será destinada a superar o atraso da empresa em relação à eletrificação da linha de veículos no país.
Até o momento, a Volkswagen não divulgou modelos híbridos ou elétricos fabricados nacionalmente, ficando atrás das concorrentes tradicionais e até de algumas marcas chinesas mais recentes, que já oferecem opções eletrificadas. Enquanto outras marcas, como a Toyota, disponibilizaram híbridos flex desde 2019, a Volkswagen planeja lançar seu primeiro modelo desse tipo apenas em 2026.
O crescimento da participação dos veículos importados, especialmente os eletrificados das marcas chinesas, é significativo, chegando a quase 20% este ano, contra 13% há três anos, segundo dados da Anfavea.
Para acelerar a eletrificação, a Volkswagen obteve um empréstimo de R$ 2,3 bilhões do BNDES. Em 2026, todos os modelos fabricados pela marca no Brasil terão ao menos uma versão eletrificada, segundo Possobom, que destacou a importância dos híbridos flex devido ao tamanho do país e ao uso intenso dos veículos pelos brasileiros.
O reconhecimento precoce do potencial do Tera
O desenvolvimento de um novo automóvel demanda cerca de cinco anos de planejamento rigoroso, testes e ajustes. O sucesso ou insucesso de um modelo só começa a ser visualizado alguns meses antes do lançamento, quando o projeto está praticamente finalizado.
Para o Tera, o primeiro contato do público ocorreu em setembro de 2024, durante um teaser no Rock in Rio, nove meses antes da estreia oficial. Em março de 2025, pouco antes do lançamento, o modelo foi apresentado completamente durante o Carnaval no Rio de Janeiro.
Entre o anúncio e a chegada ao mercado, o interesse do público despertou rapidamente: foram vendidas 12.200 unidades em menos de uma hora na abertura dos pedidos, que tiveram de ser suspensos devido à capacidade limitada da fábrica de Taubaté (SP), onde o Tera é produzido junto com o Polo e outros modelos tradicionais da marca.
Preferência do brasileiro pelo SUV, mas o hatch ainda mantém sua importância
Desde 2020, os SUVs superam em vendas os hatches no Brasil. Atualmente, os utilitários esportivos representam 54% dos veículos emplacados, enquanto os hatches correspondem a 24,6%.
Dentro da linha da Volkswagen no Brasil, há seis SUVs disponíveis: Tera, Nivus, T-Cross, Taos, Tiguan e ID.4 (este último apenas para locação). No segmento de hatches, a Volkswagen oferece somente Polo e Golf GTI, sendo este último um modelo de luxo com preço inicial em R$ 430 mil, e duas picapes, Saveiro e Amarok, além da minivan ID.Buzz, também para aluguel.
Apesar do crescimento dos SUVs, Possobom acredita que o mercado de hatches ainda tem importância significativa. Ele ressaltou que o público brasileiro prefere SUVs, mas não ignora os hatches.
A substituição já é evidente com o Tera abrindo vantagem sobre o Polo, que perdeu fôlego nas vendas num ano em que se esperava que ele pudesse liderar o ranking nacional, ultrapassando até mesmo a Fiat Strada.
Por que a eletrificação da Volkswagen ainda não avançou
Atualmente, a Volkswagen não oferece veículos híbridos ou elétricos para compra direta no Brasil. Os únicos modelos eletrificados são o ID.4 e o ID.Buzz, ambos 100% elétricos, mas apenas disponíveis via assinatura.
Essa situação contrasta com a oferta das marcas Chevrolet, Toyota, Honda, Fiat, Peugeot, Hyundai, além das fabricantes chinesas BYD, GWM, MG e Zeekr, que já comercializam veículos eletrificados no país.
O principal motivo da Volkswagen para limitar, a curto prazo, os lançamentos eletrificados é o aumento substancial do custo dos modelos. Possobom explicou que, por exemplo, ao adicionar a eletrificação ao Tera, hoje com preço médio de R$ 120 mil, o custo poderia subir em R$ 10 mil em uma versão híbrida leve, e até R$ 30 a 40 mil para híbridos mais completos.
Considerando o perfil e a disposição do consumidor brasileiro, o executivo ressaltou que aumentar muito os preços poderia afastar um público essencial. O presidente ressaltou também que o brasileiro costuma usar intensamente seus carros, percorrendo entre 13 mil e 15 mil quilômetros por ano e os emprega em viagens com a família, destacando a importância dos híbridos flexíveis.
Além disso, Possobom disse que, apesar da opção de importar carros elétricos fabricados na China, a preferência da Volkswagen é produzir localmente modelos com tecnologia adaptada às peculiaridades do mercado nacional, mantendo atenção no valor residual dos veículos a médio prazo.
Fatores que poderiam impulsionar o crescimento do mercado automotivo
Para 2025, a Fenabrave estima a comercialização de 2,55 milhões de veículos novos no Brasil, um crescimento de 3% em relação ao ano anterior, inferior à previsão inicial de 2,6 milhões, que representaria uma alta de 5%.
Ciro Possobom destacou que fatores como juros mais baixos, maior volume de produção nacional e regras mais flexíveis sobre emissões de poluentes são cruciais e poderiam impulsionar um crescimento mais robusto do setor.
A taxa básica de juros, atualmente em 15% desde junho, tem previsão de recuar para cerca de 12% até o final do próximo ano, segundo o Boletim Focus.
Quanto à produção local, o presidente da Volkswagen ressaltou que aumentar a fabricação na região para volumes maiores ajudaria a reduzir os custos e tornaria os veículos mais competitivos.
Além disso, Possobom apontou que as normas de emissões no Brasil são mais rigorosas do que as da Europa e dos Estados Unidos, citando investimentos significativos e custos adicionais decorrentes da legislação mais restritiva, como previsto no Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE) que está em vigência desde 2025 com etapas até 2029.
Ausência da Volkswagen no Salão do Automóvel de 2025
O Salão do Automóvel de São Paulo retornou em 2025 após sete anos, porém com a ausência de grandes marcas como Volkswagen, Chevrolet, Ford, Audi, BMW e Mercedes. Como consequência, o evento teve uma presença significativa das fabricantes chinesas, em um formato mais enxuto.
Possobom afirmou que não se arrepende da decisão de não participar neste ano e ressaltou a quantidade de ações de marketing realizadas pela marca ao longo do ano. Ele também não descartou a participação da Volkswagen no salão em 2027, desde que o evento apresente uma força e abrangência maior, com a presença de todas as marcas relevantes.
O executivo criticou o formato tradicional dos salões, feitos em espaços fechados e isolados, e opinou que eventos mais abertos e com experiências diferentes, como os que viu na Europa, podem ser mais atrativos para o público.



