A Bolsa registra a maior queda em cinco anos e o dólar dispara após movimentações políticas envolvendo Flávio Bolsonaro
Na sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, o mercado financeiro brasileiro enfrentou uma intensa volatilidade, que resultou na maior queda do índice Ibovespa em quase cinco anos e em uma valorização expressiva do dólar. Esse movimento foi fortemente influenciado pela recente decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está cumprindo pena em regime fechado e está inelegível, de transferir o comando político do bolsonarismo para seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), indicando-o como pré-candidato do partido para a disputa presidencial de 2026.
Essa indicação provocou uma reação negativa dos investidores, que apostavam no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do partido Republicanos, como o principal nome da direita para a próxima eleição. Como consequência, o Ibovespa fechou aos 157 mil pontos, registrando uma baixa de 4,3%, a mais acentuada desde 22 de fevereiro de 2021, quando o índice caiu 4,87% após uma indicação controversa na Petrobras.
O índice chegou a passar dos 165 mil pontos pela manhã, atingindo um recorde histórico, mas reverteu-se completamente, encerrando o dia com perda que apagou todo o avanço acumulado até então no ano, que chegava a 3,4%. Assim, a valorização anual do Ibovespa recuou para 30,84%.
Impacto político e reação dos investidores
O anúncio do “efeito Flávio Bolsonaro” trouxe um cenário de insegurança para os mercados, já que a intensificação da polarização política e o alinhamento do ex-presidente com seu filho carregam riscos fiscais e dividem a base eleitoral da direita. Essa divisão pode beneficiar a oposição, representada atualmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já confirmou sua candidatura à reeleição em 2026.
A desistência de Tarcísio como candidato favorito para o mercado financeiro, que esperava um perfil moderado e reformista para a centro-direita, levou a uma forte desvalorização das ações. Das 82 empresas que compõem o Ibovespa, 78 encerraram o pregão com perdas, enquanto 57 fecharam a semana em baixa.
O volume financeiro negociado no Ibovespa chegou a R$ 33 bilhões durante a sessão, mais que o dobro da média diária dos últimos doze meses, que foi de R$ 16,3 bilhões. Esse aumento na liquidez mostra o processo de venda generalizada dos ativos brasileiros diante do aumento da incerteza.
Alta do dólar e repercussão no mercado de juros
No mesmo período, o dólar à vista subiu 2,3%, encerrando o dia cotado a R$ 5,43, moeda que valorizou 1,83% na semana, apesar de acumular queda de 12% no ano. O movimento ressaltou a fuga para ativos menos arriscados, em meio a temores sobre a continuidade da política fiscal e o cenário eleitoral turbulento.
No mercado de juros futuros, as taxas também refletiram a maior aversão ao risco. A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 13,55% para 13,63% ao ano, enquanto o prazo médio, representado pelo DI para janeiro de 2029, subiu de 12,65% para 13,23%. Para os vencimentos mais longos, como o DI para janeiro de 2036, a taxa passou de 12,98% para 13,54%. Esses saltos indicam uma preocupação crescente dos investidores com o risco de calote e a deterioração da situação fiscal do país.
Perspectivas eleitorais e o efeito Flávio Bolsonaro
O avanço de Flávio Bolsonaro na liderança do bolsonarismo provoca apreensão no mercado, não somente pela associação familiar e histórico político, mas também pelo perfil populista semelhante ao do seu pai, que foi marcado por uma gestão considerada deficitária e desorganizada das finanças públicas.
Esta movimentação política antecipa o debate eleitoral para um cenário de maior polarização, aumentando o risco país e tirando o otimismo até então predominante sobre as reformas e ajustes fiscais esperados para o futuro pós-2026.
Embora haja especulações sobre uma possível estratégia do ex-presidente para queimar nomes e proteger os verdadeiros favoritos do grupo de direita, essa estratégia política pode gerar confusão entre eleitores e é considerada de difícil execução dada a complexidade da cena política atual. A tendência mais provável é a manutenção da disputa concentrada no âmbito familiar, visando preservar o controle político.
O mercado hoje deixa claro que a disputa pelo Planalto no próximo ano poderá ser marcada por agitação política, polarização e possivelmente custos fiscais elevados, o que impacta negativamente os ativos financeiros domésticos.
Detalhes do desempenho das ações no pregão de 5/12/2025
Segue abaixo um resumo dos destaques negativos e positivos no Ibovespa da sessão mencionada:
- WEGE3 (WEG ON) valorizou 2,64%, fechando a R$ 46,70;
- SUZB3 (SUZANO S.A. ON) subiu 1,94%, encerrando em R$ 50,50;
- KLBN11 (KLABIN S/A UNT) teve alta de 1,47%, cotada a R$ 18,65;
- Por outro lado, YDUQ3 (YDUQS PART ON) registrou a maior queda no índice, de 10,84%, terminando em R$ 12,75;
- MGLU3 (MAGAZINE LUIZA ON) caiu 9,79%, fechando em R$ 10,51;
- ASAI3 (ASSAI ON) teve retração de 9,69%, cotada a R$ 8,57;
- Outras quedas expressivas incluíram AZZA3 (AZZAS 2154 ON) com -9,96% e ALOS3 (ALLOS ON) com -8,28%.
As perdas se espalharam por diversos setores, sinalizando o efeito amplo da instabilidade política no mercado acionário brasileiro.



