Queda de US$ 200 bilhões nas criptomoedas alternativas reflete migração de investidores de varejo
Os tokens considerados mais arriscados no mercado de criptomoedas enfrentaram uma queda significativa, até mesmo para os padrões altamente voláteis do setor. Isso ocorre sobretudo pela saída dos investidores de varejo, que lidam com prejuízos e a sensação crescente de manipulação no mercado.
As criptomoedas que vão além do bitcoin foram as mais impactadas desde o início da forte queda, que começou em outubro.
Um índice da MarketVector que monitora 50 tokens de média e microcapitalização despencou quase 70% ao longo deste ano, atingindo o patamar mais baixo desde 2020. Desde o auge, as chamadas altcoins perderam cerca de US$ 200 bilhões em valor de mercado.
A onda inicial de investidores comuns que impulsionava desde moedas associadas a marcas conhecidas até tokens com temas caninos desapareceu.
Em ciclos prévios, as altcoins acompanhavam o bitcoin em alta e depois sofriam quedas. Este ano, esse grupo perdeu grande parte da valorização e, com a queda subsequente, diversas moedas populares como o dogecoin caíram cerca de 50% desde o pico alcançado em setembro.

Um dos fatores para esse movimento é a concorrência mais forte pela atenção e recursos dos investidores de varejo. Diversas alternativas, como opções de curto prazo, ações especulativas de tecnologia, ETFs alavancados e mercados de previsão, oferecem promessas de ganhos mais ágeis, maior emoção e menos volatilidade extrema. Com milhares de pequenas criptomoedas — desde tokens humorísticos até projetos blockchain quase abandonados — a questão é até onde essa eliminação continuará.
Para muitos participantes do mercado, a lógica por trás da bolha dos tokens memes baseava-se em um modelo especulativo: comprar cedo, esperar que novos compradores surjam e repetir o ciclo. A dinâmica do “maior tolo” sustentou isso por anos. Contudo, esse mecanismo se esgotou. Os preços não sobem mais apenas porque novos investidores aparecem. Hoje, os investidores avaliam esses tokens com critérios mais rigorosos, comparáveis à análise de empresas — levando em conta fatores como base de usuários, geração de receita e utilidade real.
Shuyao Kong, criadora da plataforma blockchain Megaeth, destaca: “Durante muito tempo, muitos tokens se valorizavam por ciclos de mercado, não por avanços reais, e essa fase parece estar acabando. Atualmente, o mercado é influenciado por diversos atores, incluindo cypherpunks, traders institucionais e até políticas governamentais. Não há mais uma única narrativa que impulsiona o mercado, e a adoção de modelos tradicionais de avaliação incomoda alguns investidores.”

As altcoins estão localizadas na periferia do mercado cripto, englobando memecoins, experimentos em finanças descentralizadas e tokens de governança que conferem aos detentores o direito de participação em decisões de projetos.
Grande parte delas é negociada em mercados pouco profundos, com poucos compradores constantes, tendo sua valorização impulsionada principalmente por buzz nas redes sociais, operações diárias alavancadas e a expectativa de multiplicar investimentos em até dez vezes.
Esse modelo depende da entrada rápida de capital e desmorona da mesma forma rapidamente quando o dinheiro é retirado. Mesmo tokens de governança, considerados com fundamentos econômicos mais claros, também sofreram quedas, evidenciando o esgotamento do interesse do público varejista.
Parte dessa mudança se explica pelo surgimento de alternativas que parecem oferecer maior segurança ou compreensão mais intuitiva. O volume e o uso de fundos de ações alavancadas e opções se tornaram mais comuns no cotidiano dos investidores.
Na esfera da blockchain, novos produtos que replicam empresas tradicionais — como versões cripto dos contratos futuros de ações — permitem apostas em companhias renomadas como Apple, Nvidia ou Tesla, com negociações contínuas, 24/7. Embora ainda em estágio inicial, essas modalidades indicam a direção para a qual os hábitos especulativos estão caminhando.
O volume diário de derivativos de criptomoedas de capitalização pequena e média na plataforma Hyperliquid — focada em futuros perpétuos de altcoins — diminuiu substancialmente desde o colapso ocorrido em outubro.
Por outro lado, o mercado de previsão da Polymarket tem registrado níveis recordes de atividade, demonstrando interesse renovado em formatos alternativos.



