Setor Cripto Sob Vigilância do BC e da Receita Federal Projeta Crescimento e Demonstra Otimismo
Empresas do mercado de criptoativos vislumbram uma expansão que pode chegar a até 100%, enquanto se esforçam para se adequar às novas normas regulatórias impostas pelo Banco Central do Brasil.
A criptoeconomia nacional está passando por um momento de fortalecimento, impulsionado por avanços regulatórios e pelo crescimento de modelos de negócios baseados em blockchain, tokens e moedas digitais. Conforme divulgado em um estudo conjunto da ABcripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia) com a PwC, 90% das empresas do setor identificam a regulação como o maior desafio para o desenvolvimento dos seus negócios. Por outro lado, 80% consideram as criptomoedas como a tecnologia que mais impacta suas operações.
Perspectivas e tecnologias em destaque
Apesar do cenário de incerteza, o setor demonstra confiança. Segundo a pesquisa, 57% das organizações preveem crescimento entre 1% e 50%, enquanto 40% esperam ampliar suas operações em até duas vezes ou mais. A tokenização emerge como uma oportunidade estratégica, sendo considerada por 70% das empresas como um fator capaz de aprimorar a eficiência operacional.
As criptomoedas conservam seu papel central, servindo como porta de entrada para aplicações digitais em 80% das empresas analisadas. Em seguida, a tokenização tem plano de expansão, com 70% das organizações planejando desenvolver produtos baseados em ativos reais tokenizados. O blockchain, por sua vez, já é a infraestrutura principal em 31% das soluções do setor, com 83% das companhias afirmando possuir conhecimento elevado ou profundo da tecnologia, e 77% reconhecendo oportunidades concretas de seu uso.
Nos próximos cinco anos, 44% das firmas pretendem focar seus investimentos prioritários na tecnologia blockchain, superando a inteligência artificial, que é citada por 35%. Isso indica que o blockchain é valorizado, principalmente, como base tecnológica associada à segurança, rastreabilidade e confiança.
Regulamentação e desafios para o setor
A ABcripto, maior entidade representativa do ramo no Brasil e responsável por metade do mercado nacional de criptoativos, reúne cerca de 60 empresas que atuam em diversos segmentos, incluindo fintechs, empresas de tecnologia, consultorias, provedores de infraestrutura de blockchain, escritórios jurídicos e instituições financeiras.
Metade dos associados respondeu ao levantamento, permitindo uma visão ampla sobre seus modelos de negócio, faturamento, maturidade tecnológica e adoção de blockchain e tokenização, ainda que seus nomes não tenham sido divulgados. Todas essas empresas estão sujeitas à regulamentação emitida pelo Banco Central em 10 de novembro de 2025, que classifica essas organizações como prestadoras de serviços de ativos virtuais e estabelece requisitos de capital mínimo que variam entre R$ 10,8 milhões e R$ 37,3 milhões, conforme as atividades desenvolvidas.
Os dados pesquisados foram coletados antes da publicação oficial da norma, até outubro, porém, as empresas já estavam cientes das consultas públicas realizadas pelo BC.
Do total das participantes, 53% atuam no segmento financeiro, porém 63% não possuem licença bancária. Isso se explica pela presença expressiva de empresas recentes que operam fora de estruturas tradicionais, o que indica que muitas precisarão se ajustar para cumprir as novas regras.
O setor é bastante heterogêneo em termos de tamanho e maturidade, com 53% das empresas ainda em fase de consolidação e 40% contando entre 20 e 499 colaboradores. Sobre o faturamento, 30% informam receitas anuais de até R$ 5 milhões, enquanto 27% ultrapassam os R$ 200 milhões, evidenciando tanto a presença de startups emergentes quanto de organizações consolidadas.
Obstáculos e prazos apertados para adequação
Embora a pesquisa não tenha avaliado especificamente o cumprimento do requisito de capital mínimo, esse aspecto é apontado como uma grande preocupação. Ele pode desencadear processos de fusão e provocar tensões no mercado, além de demandar aumentos de capital.
Bernardo Srur, presidente da ABcripto, destaca que empresas de pequeno e médio porte tendem a enfrentar as maiores dificuldades para atender aos novos requerimentos. Ele informa que pretende dialogar com o Banco Central para pleitear a ampliação do prazo para adaptação, considerando o receio das companhias em não conseguir cumprir as normas dentro do prazo fixado para fevereiro de 2026.
Após a entrada em vigor, será disponibilizado um período de nove meses para que as empresas se ajustem e obtenham as licenças exigidas pelo regulador. O estudo revela que 63% das empresas avaliam precisar de dois a três anos para se adaptar totalmente, 4% estimam mais de quatro anos e somente 11% creem conseguir concluir em até um ano. Nenhuma das consultadas acredita ser possível cumprir o prazo estipulado pelo Banco Central.
As áreas que apresentam maior complexidade para adequação são compliance, tributos, controles internos, auditoria, cibersegurança e tecnologia da informação. Todas essas demandas geram custos adicionais e requerem revisão de processos e estrutura organizacional.



