Os ETFs se consolidam como destaque no mercado financeiro: principais tendências observadas
Durante o ETF Week, evento realizado recentemente pela B3 em São Paulo, diversos gestores discutiram os avanços e os desafios para que os Exchange Traded Funds (ETFs) ganhem maior relevância no Brasil. O consenso aponta o potencial dos ETFs para se tornarem o principal instrumento de investimento no futuro próximo.
Desde o seu lançamento oficial no país há cerca de 20 anos, os ETFs têm conquistado gradualmente a preferência dos investidores. De janeiro a agosto de 2025, o volume captado por esses fundos atingiu R$ 5,8 bilhões, superando investimentos tradicionais em fundos de ações, multimercados, câmbio e previdência privada.
Nos últimos 12 meses, a B3 viu ser listado mais de 50 novos ETFs, um crescimento acelerado se comparado ao período inicial de quase 15 anos para alcançar 15 produtos. Atualmente, existem mais de cem ETFs no mercado brasileiro, oferecendo estratégias complexas que vão da renda variável global e criptomoedas até commodities e renda fixa, tanto local quanto internacional. O perfil predominante dos investidores que movimentam este mercado corresponde à alta renda, reforçando a visão de que os ETFs podem assumir papel protagonista nas carteiras de investimento nos próximos anos.
Perspectiva de alta do mercado de ações
O mercado brasileiro aparenta estar se preparando para um ciclo de valorização prolongada, chamado de bull market, impulsionado principalmente por um provável afrouxamento na política monetária a partir de 2026. Após um período de juros elevados, com a Selic a 15% que favoreceu investimentos em renda fixa, a tendência é que a queda das taxas estimule os investidores a migrar para ativos de renda variável.
Além disso, a diminuição dos juros em economias externas deve incentivar a entrada de capital estrangeiro em mercados emergentes como o Brasil, fato que já vem impulsionando a Bolsa a níveis recordes neste ano.
Danilo Gabriel, sócio e gestor da XP Asset, destaca que o mercado brasileiro de ETFs ainda está muito aquém do seu potencial global, que já alcança US$ 15 trilhões conforme dados da Bloomberg Intelligence. Ele acredita que o tamanho desse mercado pode ser multiplicado diversas vezes durante a próxima fase de valorização da Bolsa brasileira.
O gestor explica que, diferente do período de 2017 a 2021, quando os fundos ativos foram mais procurados, desta vez a gestão passiva via ETFs deve capturar uma fatia significativa dos investimentos, configurando-se como o futuro da alocação no país.
A expectativa é que a Sociedade de Valores Mobiliários (CVM), com suas novas regulamentações, promova transparência e favoreça esse processo, possibilitando um crescimento robusto do mercado de ETFs em face de um ambiente mais favorável ao risco.
Inspiração internacional: modelos e produtos que podem ser replicados
Nos Estados Unidos, a indústria de ETFs é muito mais desenvolvida, somando mais de US$ 15 trilhões em ativos sob gestão e com mais de 12 mil produtos negociados em Bolsa. Lá, a popularização do modelo fee based — em que os consultores cobram uma taxa fixa mensal pelo serviço, independente da venda de produtos — favoreceu a recomendação de ETFs devido à sua menor comissão e aos custos reduzidos para o investidor.
Camila Faria de Castro, analista sênior da B3, aponta que 70% dos assessores americanos preferem ETFs, dada a estabilidade e previsibilidade de sua remuneração nesse sistema. No Brasil, a norma CVM 179, que exige maior transparência nos custos dos investimentos, tem potencial para estimular a adoção do fee based.
Durante o evento, Ben Jones, líder da Nasdaq para a América, citou três tendências dominantes no exterior: o crescimento dos ETFs ativos (que já representam cerca de 50% dos produtos nos EUA e são apreciados pelo pequeno investidor), o avanço de produtos baseados em opções e o aumento da oferta de ativos alternativos, como commodities. Gestores buscam resolver desafios complexos por meio dessas estratégias inovadoras.
Inovações locais com ETFs multiativos e criptomoedas
Embora o mercado brasileiro de ETFs ainda esteja atrás dos mais maduros internacionalmente, o país desponta na oferta de produtos inovadores que combinam diversas estratégias em um único ativo, especialmente envolvendo criptomoedas.
O GOAT11, lançado pelo Itaú Asset em junho, é o primeiro ETF híbrido da B3, juntando 80% em títulos públicos ligados à inflação com 20% em ações americanas, proporcionando uma combinação de renda fixa e variável. Já o GBTC11, parceria entre Buena Vista e Hashdex, oferece um portfólio com 66% de ouro e 33% em bitcoin, rebalanceado conforme a volatilidade.
Flavio Viegas, da Global X ETFs, observa que essa tendência de mesclar criptoativos com renda fixa ou outras classes está ainda mais consolidada no exterior, servindo para construir alocações que misturam conservadorismo e agressividade.
O Brasil também se destaca por ter lançado seu primeiro ETF de criptomoedas (HASH11) em 2021, antes da aprovação nos Estados Unidos dos ETFs de bitcoin, que só ocorreram em 2024. O próximo passo, conforme Henry Oyama, diretor de estratégias da Hashdex, será integrar criptomoedas em estratégias diversificadas, aumentando a maturidade do mercado.
Aspectos regulatórios e desafios futuros
Entre os avanços desejados está a autorização, ainda pendente no Brasil, para ETFs ativos, inversos e alavancados. Esses produtos ampliariam as possibilidades para investidores e ajudariam a competir com fundos tradicionais, alinhando o mercado local às tendências vistas em países desenvolvidos.
A CVM vêm avaliando a atualização regulatória necessária, mas tem adotado postura cautelosa para equilibrar inovação e proteção ao investidor. Marco Velloso, superintendente da CVM, destaca que é um processo que demandará tempo e estudos aprofundados antes da liberação.
Importância da liquidez para o crescimento dos ETFs
Um ponto que ainda causa cautela entre os participantes do mercado é a liquidez dos ETFs. Apesar da melhora nos volumes de negociação de alguns ativos na B3, é consenso que a ampliação da prateleira de produtos só será efetiva se acompanhada de liquidez adequada.
Thalita Forne, superintendente de equities da B3, ressaltou o papel fundamental dos formadores de mercado, instituições encarregadas de oferecer continuamente preços de compra e venda, garantindo estabilidade e facilitando as negociações tanto de ETFs quanto de ações.
Essa presença confere segurança ao investidor, assegurando que a compra ou venda será feita com contraparte confiável mesmo em momentos de volatilidade ou mercado em queda.
Assim, a combinação de avanços regulatórios, maior adoção pelos investidores, produtos inovadores e melhora na liquidez compõe o cenário promissor para o crescimento acelerado dos ETFs no Brasil, alinhando o país ao que há de mais moderno no mercado global.



