Uruçu-capixaba: espécie exclusiva de abelha sem ferrão do Espírito Santo enfrenta risco de extinção
A uruçu-capixaba, também conhecida como uruçu-negra, é uma abelha sem ferrão endêmica das áreas montanhosas da Mata Atlântica no Espírito Santo, ocorrendo em altitudes entre 800 e 1.200 metros. Essa espécie, que era comum em várias regiões do estado, está desaparecendo rapidamente, o que tem alarmado tanto pesquisadores quanto agricultores locais. Exclusiva do Espírito Santo, a uruçu-capixaba está ameaçada de extinção.
Além de sua raridade, a abelha desempenha um papel fundamental ecologicamente, pois é responsável pela polinização de diversas plantas nativas, assim como de culturas essenciais para a economia capixaba, como a do café.
Pesquisadores indicam que fatores como a destruição do habitat natural, a invasão por espécies exóticas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e o comércio ilegal de colmeias têm contribuído significativamente para o declínio dessa espécie.
A sobrevivência da uruçu-capixaba está diretamente ligada à preservação de florestas altas e antigas, ambientes naturais que estão sendo degradados pelo desmatamento da Mata Atlântica. Um comportamento singular dessa abelha é uma espécie de vibração ou “tremedeira” dentro das flores, que aumenta a dispersão do pólen e potencializa a eficiência da polinização, beneficiando especialmente as lavouras.
A importância ecológica e econômica da uruçu-capixaba
Helder Canto, pesquisador de abelhas nativas e professor na Universidade Federal de Viçosa, destaca que a ação dessas abelhas é vital para garantir a reprodução das plantas, o que sustenta toda a cadeia alimentar nas florestas. “Sem a polinização feita pela abelha, não haveria sementes, frutos e, consequentemente, sem alimento para diversos animais. Isso compromete todo o equilíbrio da vida natural”, explicou.
Estudos revelam que cerca de 90% das espécies vegetais brasileiras dependem das abelhas para sua reprodução. Além das plantas nativas, frutas como morango, tomate e abacate, também contam com a polinização de abelhas sem ferrão.
Distribuição da espécie no Espírito Santo
O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) constatou a presença da uruçu-capixaba em pelo menos 12 municípios do estado, com maior concentração na Região Serrana. Um dos locais monitorados é a Reserva Ambiental Águia Branca, situada em Vargem Alta, no Sul do Espírito Santo, onde as colmeias dessa abelha rara são acompanhadas de perto.
A bióloga Patrícia Bellon ressaltou que a aproximação do público às colmeias tem sido fundamental para aumentar a conscientização ambiental. “Ao permitir que as pessoas visitem uma colmeia tão rara, despertamos nelas uma curiosidade que as leva a entender a importância da polinização para a sua própria alimentação, como o café da manhã. Isso fortalece a consciência sobre a preservação”, afirmou.
Em Venda Nova do Imigrante, a abelha encontrou refúgio em uma antiga árvore de uma propriedade rural da produtora Margarida Tonolli. Ela destacou a relevância das abelhas para a produção agrícola: “Sem as abelhas e a polinização, não teríamos tantas frutas e café como colhemos hoje. Hoje valorizamos mais a conservação delas, pois sempre foram importantes, mesmo sem conhecermos tanto a espécie sem ferrão”.
Ameaças à sobrevivência da uruçu-capixaba
A expansão do desmatamento, que substitui a Mata Atlântica por áreas degradadas ou dominadas por espécies exóticas, tem reduzido o espaço para a espécie. Além disso, o uso de agrotóxicos e o comércio ilegal de colmeias intensificam a pressão sobre a população da uruçu-capixaba.
O professor Helder Canto comentou sobre os efeitos visíveis dessa exploração: “Observamos um declínio no número de abelhas e um déficit na polinização. Sem essa ação, muitas plantas não se reproduzem adequadamente, o que impacta negativamente na produção agrícola, causando prejuízos econômicos e ambientais”.
Divulgação e educação ambiental sobre a abelha
Em resposta à ameaça à uruçu-capixaba, o documentário “Na Imensidão do Pequeno” foi lançado em novembro em Vargem Alta. Realizado pelo Instituto Terra Brasilis e pela Universidade Federal de Viçosa, com apoio do Projeto Biodiversidade Rio Doce e do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o filme busca criar empatia pela espécie e destacar sua importância.
Reinaldo Lourival, diretor-executivo do Instituto Terra Brasilis, afirmou que o sentimento é fundamental para a conservação: “A ciência informa, mas o amor é o que motiva as pessoas a proteger. A uruçu-capixaba é um orgulho capixaba por ser exclusiva e de área restrita, o que fortalece o engajamento local”.
Tecnologias interativas também têm sido empregadas na educação ambiental. O jogo “Be a Bee – Seja uma Abelha” simula a rotina na floresta de uma abelha e ensina o papel das espécies nativas na manutenção dos ecossistemas.
Com o auxílio de óculos de realidade virtual, o estudante Miguel Leon, de 11 anos, pôde experimentar um voo virtual pela Mata Atlântica, percebendo a importância desses insetos na natureza.
Perspectivas para a conservação da espécie
Iniciativas de proteção procuram reintroduzir a uruçu-capixaba em áreas de conservação e promover a recuperação da Mata Atlântica para assegurar sua sobrevivência a longo prazo.
Helder Canto enfatizou o empenho para reintegrar as colônias nas unidades de conservação, especialmente em propriedades privadas que ainda abrigam exemplares dessa abelha. “Nosso objetivo é devolver essas abelhas à natureza, garantindo sua permanência agora e no futuro”, concluiu.



