Introdução
Na hora de escolher entre títulos prefixados e pós-fixados, muitos investidores iniciantes travam. Afinal, acertar o tipo de remuneração faz a diferença entre proteger o poder de compra e perder para a inflação. Neste artigo, vamos esmiuçar as particularidades dessas duas modalidades de renda fixa, explicar em que cenário cada uma brilha e entregar uma metodologia prática para decidir com confiança. Utilize este conteúdo como um mapa para direcionar seu portfólio em 2024, quando as expectativas de juros e inflação continuam voláteis. Ao final, você será capaz de escolher o título ideal para a sua reserva de emergência ou para objetivos de médio e longo prazo.
1. Conceitos Fundamentais: o que são títulos prefixados e pós-fixados?
Antes de mergulharmos em estratégias, precisamos dominar a terminologia. Um título prefixado paga taxa de juros conhecida no momento da aplicação. Se você adquire um Tesouro Prefixado 2027 a 10% ao ano, já sabe exatamente quanto receberá na data de vencimento, descontadas as taxas. A previsibilidade é a alma do prefixado. Já o título pós-fixado indexa a remuneração a um índice de referência: CDI, Selic ou IPCA. Na prática, você só descobre a rentabilidade exata no fim do período porque a taxa se ajusta a cada dia útil.
A principal diferença está no risco de mercado. Quando os juros caem depois da compra, o prefixado valoriza, gerando ágio caso o investidor decida vender antes do vencimento. Se os juros sobem, acontece o inverso: o preço de mercado cai. Nos pós-fixados, o mark-to-market é menos volátil porque a taxa se ajusta ao novo patamar, preservando valor. Entretanto, o prefixado costuma oferecer prêmio maior na largada para compensar esse risco adicional, sobretudo em cenários de inflação controlada.
2. Como funcionam os títulos prefixados na prática
2.1 Estrutura de remuneração
No Tesouro Prefixado, a rentabilidade é dada por (1 + taxa anual) ^ anos. Se você investir R$ 10.000 em um título com taxa de 11% a.a. e prazo de 3 anos, o valor bruto no vencimento será R$ 13.649,00. Esse cálculo pressupõe manter o papel até o fim. Vender antes do prazo implica negociar no mercado secundário, sujeito a ágio ou deságio conforme os juros correntes.
2.2 Quando os prefixados brilham?
Prefixados são excelentes quando:
- A curva de juros futuros indica queda nos próximos trimestres.
- O Banco Central sinaliza controle da inflação e ciclo de afrouxamento monetário.
- O investidor tem objetivo com data definida (ex.: entrada de imóvel em 5 anos).
- Busca diversificação em renda fixa sem indexação à inflação.
- Possui tolerância a oscilações de preço no curto prazo.
2.3 Custos e tributação
Tanto prefixados quanto pós-fixados seguem a tabela regressiva de IR: 22,5% até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15% acima de 720 dias. Há ainda a taxa da B3 (0,15% ao ano) e, em algumas corretoras, taxa de custódia zero. Comparado a CDB, que não tem taxa da B3, o Tesouro Direto continua competitivo pela liquidez diária garantida pelo Tesouro Nacional.
3. Títulos pós-fixados: Selic, CDI e IPCA
3.1 Pós-fixados atrelados à Selic/CDI
Os mais comuns são Tesouro Selic, CDBs de liquidez diária e LCIs/LCAIs pós-fixadas. Eles pagam porcentagem do CDI (ex.: 110% CDI) ou a própria taxa Selic. Como esses índices acompanham a meta de juros do Banco Central, pós-fixados funcionam como um “fundo DI individual”. Ideal para reserva de emergência, pois oferecem liquidez e risco baixíssimos.
3.2 Pós-fixados atrelados ao IPCA
O Tesouro IPCA+ combina taxa real (ex.: IPCA+5,5% a.a.) com correção da inflação medida pelo IPCA. Dessa forma, o investidor garante ganho acima da inflação. É excelente para objetivos de longo prazo, como aposentadoria, pois protege poder de compra. Entretanto, a marcação a mercado de IPCA+ é a mais volátil entre os títulos públicos; movimentos de 15% em poucos meses não são raros.
4. Cenários Econômicos: quando optar por cada indexador?
O pulo do gato é entender que prefixado e pós-fixado são apostas distintas sobre a trajetória dos juros e da inflação. Se o mercado espera queda sustentada da Selic, prefixados tornam-se atrativos porque travam juros altos hoje. Foi o que ocorreu em 2016-17: quem comprou Tesouro Prefixado a 16% colheu retornos expressivos. Já em 2021, com inflação disparando, IPCA+ pagou taxas de 5% reais — oportunidade rara para assegurar poder de compra.
“Escolher entre prefixado e pós-fixado é decidir se você quer travar uma taxa ou acompanhar a economia. O segredo é alinhar prazo, objetivo e cenário macroeconômico.” — Mirna Borges, especialista em educação financeira
4.1 Ferramentas de análise
- Curva de juros futuros (DI) negociada na B3.
- Boletim Focus para projeções de Selic e IPCA.
- Relatório de Inflação do Banco Central.
- Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mensal.
- Decisões do COPOM e seus comunicados.
- Política fiscal e dinâmica da dívida pública.
- Risco país medido pelo CDS, que afeta prêmio de risco.
5. Comparativo Rápido
Critério | Título Prefixado | Título Pós-fixado |
---|---|---|
Previsibilidade de retorno | Alta (se levado ao vencimento) | Média |
Sensibilidade aos juros | Alta (volátil) | Baixa |
Proteção contra inflação | Baixa | Alta (IPCA+) / Média (CDI) |
Liquidez | Diária via Tesouro, mas com oscilação | Diária |
Objetivo ideal | Médio prazo e cenário de queda de juros | Reserva e longo prazo (IPCA+) |
Tributação | IR regressivo + 0,15% custódia | Mesma regra |
6. Riscos, Benefícios e Erros Comuns
6.1 Principais riscos
- Marcação a mercado: vender antes do vencimento pode gerar prejuízo no prefixado.
- Risco de crédito: em CDBs, LCIs e LCAs emitidos por bancos menores, observe o FGC.
- Inflação surpresa: prefixado perde poder de compra se o IPCA dispara.
- Custo de oportunidade: pós-fixado rende pouco se a Selic despenca.
- Erro de alocação: confundir reserva de emergência com produtos voláteis.
6.2 Benefícios concretos
Prefixados podem gerar ganho real robusto em janelas curtas, enquanto pós-fixados protegem o capital sem exigir timing. A diversificação entre ambos suaviza o caminho do investidor, sobretudo quando combinada a renda variável. Um dos maiores equívocos é concentrar 100% em prefixado buscando “taxa alta” e depois entrar em pânico quando oscilação diária aparece.
7. Como montar uma carteira balanceada em 4 passos
Mirna Borges sugere um processo simples, replicado abaixo com exemplos práticos para um investidor de perfil moderado que possui R$ 100.000 disponíveis.
- Defina objetivos: R$ 20.000 para emergência (liquidez diária), R$ 30.000 para trocar de carro em 3 anos, R$ 50.000 para aposentadoria em 2045.
- Associe produto ao prazo: emergências no Tesouro Selic; carro em CDB ou Tesouro Prefixado 2026; aposentadoria no Tesouro IPCA+ 2045.
- Avalie cenário macro: se Selic em queda, aumente prefixado; se inflação pressionada, reforce IPCA+. Em 2024, consenso de Selic em 9% sugere manter parte prefixada.
- Revise a cada semestre: compare performance, custo de oportunidade e ajuste se a meta financeira mudou.
Distribuição sugerida (% da carteira)
- 20% em Tesouro Selic (liquidez)
- 30% em CDB 110% CDI (prazo de 3 anos)
- 25% em Tesouro Prefixado 2029
- 25% em Tesouro IPCA+ 2045
Perguntas e Respostas FAQ
1. Por que o preço do meu Tesouro Prefixado varia diariamente?
O Tesouro Nacional recompra e revende títulos todos os dias. Quando as taxas de juros futuras sobem, o preço unitário cai para compensar a nova taxa de mercado; quando as taxas caem, o preço sobe.
2. Tesouro Selic pode dar prejuízo?
O valor bruto pode oscilar pouco a cada dia, mas o risco de prejuízo liquido é mínimo se comprado com foco em reserva de emergência, pois oscilações são muito reduzidas e a tendência é sempre positiva com o tempo.
3. Vale a pena prefixado curto (1 ano)?
Pode valer se você vê juro cair rapidamente. Porém, a diferença para CDBs 110% CDI costuma ser pequena, e o risco de marcação a mercado é maior no prefixado.
4. Qual o melhor título para aposentadoria?
Tesouro IPCA+ de longo prazo, pois entrega ganho real acima da inflação. Ao travar a taxa real, você garante poder de compra no futuro.
5. É seguro investir em CDB pós-fixado de banco pequeno?
Sim, até o limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição, garantido pelo FGC. Acima desse teto, diversifique entre bancos.
6. Como calcular o rendimento líquido?
Aplique a fórmula do valor futuro bruto e depois desconte IR conforme prazo mais IOF (se resgate <30 dias). Para Tesouro, acrescente a taxa de custódia proporcional.
Conclusão
Ao longo deste guia, você aprendeu que:
- Títulos prefixados travam taxa, favorecendo-se quando os juros caem.
- Pós-fixados acompanham CDI/Selic ou IPCA, protegendo contra surpresas.
- A marcação a mercado pode gerar perdas temporárias no prefixado.
- Reserva de emergência pede liquidez diária e baixo risco (Tesouro Selic).
- Diversificar prazos e indexadores equilibra rendimento e segurança.
Agora é sua vez de colocar em prática: revise seus objetivos financeiros, consulte a curva de juros e escolha o mix ideal entre título prefixado e pós-fixado. Para aprofundar ainda mais, assista ao vídeo da Mirna e considere abrir conta na corretora de sua preferência para começar a investir hoje mesmo.
Conteúdo inspirado no canal EconoMirna