Do Negócio Familiar ao Superapp Global: Estratégia de Crescimento do Inter&Co
Em uma entrevista exclusiva concedida à Forbes Brasil, João Vitor Menin, CEO da Inter&Co, explicou o que denomina como o “terceiro ato” da empresa, destacando como a tecnologia tem sido o motor para essa nova etapa de expansão internacional.
A evolução do Banco Inter para Inter&Co demonstra como uma combinação de tecnologia acessível e uma cultura empresarial ágil pode transformar uma instituição financeira familiar em um superapp com alcance global. João Vitor Menin relembra o ano de 2015, quando o banco digital gratuito foi lançado, marco inicial da transformação tecnológica que hoje atende mais de 40 milhões de usuários.
Segundo Menin, o crescimento acelerado, que superou a meta de 100 mil clientes prevista até 2020, se deve a dois fundamentos principais: a aplicação de tecnologia acessível e a diversificação do portfólio de serviços. Para ele, o diferencial não está em grandes investimentos financeiros, mas na cultura da empresa, que ele atribui à agilidade e velocidade de execução aprendidas com seu pai, Rubens Menin, chairman da companhia. O verdadeiro desafio do setor bancário está na dificuldade de modificar a cultura e romper paradigmas, não na tecnologia em si.
Ele destaca que “tecnologia só é boa quando é barata”, enfatizando a importância de democratizar o acesso à inovação. Atualmente, o foco do grupo está na consolidação da expansão internacional, com operações já estabelecidas nos Estados Unidos e, recentemente, na Argentina, com planos de entrada em outros mercados. A estratégia de diversificação abrange áreas como seguros, consórcios e câmbio, fortalecendo a resiliência do negócio frente a oscilações externas. Para o futuro, Menin prevê um “quarto ato” que continuará a impulsionar o crescimento da empresa com tecnologia baseada em valor para os clientes.
Entrevista: Os Desafios da Cultura Bancária e a Tecnologia Acessível
Forbes Brasil: Considerando a origem tradicional do Inter, como a empresa enfrenta os desafios culturais do setor financeiro que, apesar do investimento em tecnologia, ainda é reconhecido por sua resistência a mudanças?
João Vitor Menin: O setor bancário é conhecido pela sua lentidão, que não deriva da falta de tecnologia, mas da resistência cultural em quebrar paradigmas. Muitas vezes, há relutância em abrir mão de ganhos imediatos para adotar práticas que beneficiam no longo prazo. Adaptar-se tecnologicamente significa superar essa barreira cultural.
FB: Como essa adaptabilidade tecnológica se manifesta na prática?
João: É essencial entender que a tecnologia no Brasil é acessível e transformadora. Ferramentas como o PIX exemplificam essa inovação que barateia custos e facilita transações para consumidores e empresas. O principal não é o volume investido, mas a vontade de aplicar tecnologia de forma eficaz para crescer, como vimos em casos do Inter, Uber e Netflix.
FB: De que forma esse pensamento pautou a trajetória do Inter?
João: A coragem de tornar-se um banco 100% digital foi decisiva. A aposta no conceito de superapp e o desenvolvimento de funcionalidades como o fórum no aplicativo exigem muita resiliência e agilidade, que definem nossa cultura.
O Terceiro Ato: Expansão Global e Diversificação
FB: Qual o status atual do terceiro ato do Inter?
João: O terceiro ato é caracterizado pela expansão internacional, sobretudo nos Estados Unidos, onde iniciamos nossa operação em 2021 com a aquisição da fintech Usend, especializada em remessas. Também ingressamos recentemente no mercado argentino, com outros países no radar, reforçando nossa ambição de atender clientes globalmente, superando fronteiras culturais e regionais.
FB: O contexto político e tributário dos EUA, especialmente durante a gestão Trump, influencia este plano?
João: Não há impacto direto detectado no negócio, embora o custo do risco tenha aumentado. Isso reforça a importância de manter um portfólio diversificado — que inclui investimentos, consórcios, seguros e câmbio — para garantir solidez frente às flutuações e adversidades do mercado.
FB: Quais oportunidades esse momento proporciona?
João: Oferecer serviços abrangentes, como envio de remessas internacionais, distingue o Inter. Isso permite atender a demandas que bancos tradicionais não cobrem com a mesma eficiência, transformando dificuldades enfrentadas pelos clientes em oportunidades de crescimento. A conta digital gratuita é um exemplo de estratégia que se solidificou com a chegada do PIX, superando dúvidas iniciais sobre sua viabilidade.
Perspectivas Futuras: O Quarto Ato
FB: Qual a projeção para o “quarto ato” do Inter e da sua trajetória pessoal?
João: Pessoalmente, penso na possibilidade de atuar em áreas distintas do setor financeiro no futuro, talvez daqui a décadas. Para o Inter, o objetivo é continuar ampliando fronteiras, mantendo a inovação tecnológica e focando sempre em agregar valor aos clientes, expandindo para além dos serviços tradicionais.



